Eu me sentia genuinamente feliz pela conversa que tive com os pais de Kate. O modo como reagiram ao que eu disse e como expuseram o que os afligia, nos fez ter uma conversa sincera e inspiradora. Quando nos despedimos, ambos disseram que estavam ansiosos para se encontrarem com a filha e contarem a ela suas razões para terem sido tão rigorosos e inflexíveis com ela inicialmente quanto a sua orientação sexual.
Não via a hora de me encontrar com Kate para saber . A visita do Sr. e da Sra. Johnson e a conversa que se seguiu me fez esquecer do encontro, ou melhor, do compromisso com o pirata. Só me lembrei quando olhei para o relógio e constatei que faltava dez minutos para as seis.
Se eu não chegasse atrasada, não seria eu, constatei. Então fechei a loja às pressas e segui para o café sentindo que borboletas dançavam em meu estômago. Decidi ir para o café a pé ao invés de ir pedalando por conta do movimento. Percorri o French Quarter apinhado de gente àquela hora da tarde em direção a Royal Street. Alguns comércios estavam sendo fechados depois de um longo dia de expediente e outros sendo abertos para dar início ao happy hour. Enquanto andava apressada levava os dedos à raiz dos cabelos na tentativa de aumentar o volume dos meus cachos. Contemplei por alguns segundos a fachada do café Beignet, o pequeno toldo listrado verde e branco, a porta branca de madeira e vidro.
Em seguida suspirei profundamente, reuni coragem e entrei. Avistei Thomas sentado em uma das cadeiras de ferro brancas com encosto vazado de coração lendo um livro compenetrado. Ele pareceu notar que alguém o observava, levantou os olhos e nossos olhares ficaram presos um no outro por uma breve eternidade. Então ele se levantou e puxou uma cadeira para mim com um discreto sorriso torto. Ele podia ter aquele jeito careta, mas era um cavalheiro de vez em quando.
— Pensei que você não viria — falou ele .
— Você não me deu escolha.
— Mas, ainda assim, aqui está você.
— Sim, ainda assim aqui estou eu.
Observei enquanto ele marcava o livro com um marcador de páginas e o fechava cuidadosamente. Então ele voltou a me encarar. Será que ele era capaz de ouvir as batidas frenéticas do meu coração? Nossa Senhora das Insulanas Desavisadas, o que estava acontecendo comigo? Resolvi falar a primeira coisa que me veio à mente para me distrair dos batimentos que retumbavam em meu peito.
— Em outros tempos, eu não tomaria com você nem mesmo um café com creme, Thomas Castillo.
— E o que fez você mudar de ideia, Esther Blossom?
— Ainda estou tentando descobrir.
— Não deixe de me contar quando descobrir, confesso que estou curioso para saber — falou ele sem desviar os olhos dos meus.
Engoli em seco.
Uma atendente trouxe o cardápio e eu me obriguei a desviar o olhar e interromper aquilo que eu era incapaz de explicar.
— Vou querer três beignets e um café com leite — pedi ansiosa para saborear meus beignets quentes polvilhados com açúcar de confeiteiro.
— O que aconteceu com o café com creme? — Thomas perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Um clássico é um clássico, até mesmo para mim — brinquei.
Ele sorriu em resposta parecendo ter gostado do que ouviu.
— Vou querer beignets e café com raiz de chicória — pediu ele e depois se dirigiu a mim. — Agora me conta como foi a leitura?
— Nunca pensei que ler um livro pudesse ser tão impactante — admiti. — Essa experiência me arrebatou — revelei sincera.
Ele sorriu satisfeito.
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Jazz, livros e o amor no meio disso
RomanceEsther Blossom respira música, já Thomas Castillo inspira livros. O que esses dois têm em comum além de traumas do passado? Esther é uma mulher forte que já sofreu muito e encontrou nas divas do jazz um reconhecimento e uma fonte de inspiração. Vivi...