Capítulo 15

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Mal descemos do bondinho e já nos deparamos com um show improvisado na calçada. Com um público agitado e vibrante, o trecho de asfalto musical era o mais consistente da cidade.

Ali era oferecido uma grande variedade de apresentações ao vivo, que iam do jazz tradicional ao blues, do reggae ao rock. Com bares, restaurantes, cafeterias, lojas e outros negócios locais diferente da Bourbon Street, a Frenchmen Street não era focada no turismo.

Era uma opção para quem queria ouvir música boa, sem o tumulto causado pelos turistas que, às vezes, exageravam na bebida (não que eu tivesse moral para falar alguma coisa a respeito). Ali, os moradores apreciavam os sabores musicais e gastronômicos de Nova Orleans. Além dos chalés crioulos de um único andar situados ao nível do solo. Feitos de estuque ou madeira com fachadas simétricas e telhado inclinado eram meu sonho de consumo.

Caminhávamos em direção ao Snug Harbor, o bar onde Dylan se apresentava quando parei de andar congelando onde estava. "Meus olhos estavam me traindo ou diante deles estava Thomas em todo seu esplendor e glória?", indaguei a mim mesma.

Kate, que vinha logo atrás de mim, parou de andar abruptamente se chocando contra as minhas costas. Mal senti o impacto. Não era possível que o Capitão Gancho estivesse lá. Droga! Eu me sentia o próprio Peter Pan sendo perseguido incansavelmente pelo abominável pirata. No entanto, Thomas não era nem de longe abominável.

— Qual o problema? — perguntou Kate perdida. — Viu um fantasma?

— Não, um pirata! — respondi aborrecida.

— Hã?

Ao invés de respondê-la, eu o avaliei. Encostado na parede com os braços cruzados sobre o peito, ele era a personificação do charme. Mordi o lábio incapaz de desviar os olhos dele, sorte a minha que ele estava distraído conversando com um cara, alheio ao fato de que eu o escrutinava. Não demorou muito para Kate seguir meu olhar.

— Pensei que era o álcool falando, mas é só a admiração mesmo — zombou ela.

— Não é nada disso que você está pensando — neguei rápido demais.

— Quem é o cara?

— Thomas Castillo.

Ela arregalou os olhos e o olhou com mais atenção.

— Não me lembro dele ter esse cabelo.

—Acredite, foi uma surpresa para mim também.

— Deu a ele um ar de mistério bem sexy, amiga — comentou Kate e eu não pude discordar.

Seu cabelo comprido na altura do pescoço era algo que tinha forte influência sobre mim. Conferia a ele um charme de um corsário. Balancei a cabeça tentando me livrar daquele pensamento traidor.

Puxei Kate pelo braço sem dizer mais nada esperando que aquela atitude colocasse fim a conversa e entrei no bar desejando internamente passar despercebida. Claramente aquilo era uma coincidência, muito infeliz, ainda assim coincidência. Contudo, eu faria de tudo para evitá-lo.

***

Dylan se encontrava no pequeno palco junto com os outros músicos e sorriu ao me ver. Usava uma boina e vestia um blazer, que o deixava com um ar boêmio adorável. Eles pareciam estar acertando os últimos detalhes conversando animadamente entre si enquanto posicionavam bancos e tripés, o que indicava que o show começaria em breve, então apenas acenei para ele.

O pequeno bar estava lotado. O público aguardava ansioso que a apresentação finalmente começasse. Eu mal cabia em mim de contentamento por saber que todos ali iriam testemunhar o talento de Dylan.

De repente, a sensação de estar sendo observada me fez olhar em volta, perscrutei a multidão e empertiguei-me quando não vi ninguém em especial olhando para mim. Para meu desgosto havia perdido Thomas de vista assim que entrei e só de pensar que ele poderia estar me fitando fez com que um arrepio percorresse meu corpo.

Kate me puxou em direção ao bar e, quando depositou uma garrafa de cerveja em minha mão, eu sequer protestei. Assim que nos acomodamos a uma mesa que estava livre, senti, mais uma vez, que alguém estava me escrutinando, aquilo não era uma mera impressão da minha parte. Estrategicamente levei a garrafa à boca fingindo distração.

Enquanto sorvia lentamente o líquido gelado levantei meus olhos mirando o lado oposto do bar.

A- !

Thomas me encarava e seu acompanhante também. Obviamente falavam de nós, Kate e eu. Contive o ímpeto de ir até lá confrontar aqueles babacas que, provavelmente, como a maioria dos homens que eu conhecia, estavam objetificando nossos corpos como se fôssemos só isso. O semblante lascivo do amigo dele deixava isso claro fazendo meu sangue ferver de ódio e repulsa.

— O que tanto você olha para o outro lado, flertes em potencial? — perguntou Kate.

— Nada demais — respondi fingindo desinteresse.

Entretanto, Kate não se deixou convencer seguindo meu olhar.

— Ele outra vez, Thomas Castillo, vulgo pirata.

Ela não deixava passar nada e só me restou assentir em resposta.

E o cara com ele é o outro Castillo, o Brad. Eu me lembro dele. Além do mais, a expressão narcisista continua a mesma.

Comprimi os lábios em desagrado ao reconhecer o garoto de ego inflado ao lado de Thomas. Havia uma certa semelhança considerável entre ambos, percebi olhando mais atenta. Mas é claro! Como pude me esquecer de que eles eram parentes?

Felizmente, o show teve início e fomos contempladas com uma versão instrumental de "La vie en Rose", de Louis Armstrong. Não podia dizer que lamentei por isso.


Resolvi postar um capítulo estra essa semana para compensar a demora, espero que estejam gostando da história e dos personagens. Curtam, comentem e indiquem para um amigo e deixem esta autora feliz, até logo!!!

Jazz, livros e o amor no meio dissoOnde histórias criam vida. Descubra agora