Finalmente, cheguei a loja e tentei não olhar para o lado a fim de não saber se a livraria já se encontrava aberta provavelmente sim, já que pontualidade não era meu forte. Virei a plaquinha indicando que a loja já estava aberta e liguei meu toca-discos em um volume moderado deixando a bolsa e o livro ao lado da caixa registradora para começar a tirar poeira dos instrumentos.
Como o movimento estava especialmente fraco naquela manhã resolvi pegar o livro para passar o tempo. Passou-se três horas, sem que eu percebesse só me dei conta de que já era hora do almoço quando meu estômago roncou em protesto. Dobrei a página em que eu estava para marcar onde havia parado e fechei a loja para o almoço. Optei por comer um po-boy e voltei para a loja rapidamente para continuar a leitura que me prendera já nas primeiras linhas.
O movimento foi maior no período da tarde e, entre um cliente e outro, eu voltava a ler. Deus! Aquilo estava sendo um choque para mim, no entanto eu não conseguia parar. Eu não ouvia Maya Angelou com frequência, mas em determinado momento escolhi uma playlist dela para tocar totalmente encantada com a leitura. Perto das seis da tarde me obriguei a parar de ler, porque precisava me encontrar com Dylan.
Na porta da The Drum's me atrapalhei com a bolsa, as chaves e o livro nas mãos. Fechei os olhos e proferi alguns impropérios ao ouvir a porta da loja vizinha se fechando. Me recusei a olhar para o lado, embora pudesse sentir a presença perturbadora de Thomas a poucos metros de mim. Droga!
Desejei ter uma capa de invisibilidade assim não precisaria encará-lo. Não é que eu gostava de me esgueirar pela calçada entre um poste e outro, entretanto a presença daquele pirata era sempre inquietante para mim.
— Boa noite, Esther — cumprimentou-me ele.
— Boa noite, Thomas — retribuí endireitando-me constrangida já que ignorá-lo não era uma opção.
— Às vezes, tenho a impressão de que você está fugindo de mim.
Me virei rápido demais para encará-lo e o flagrei com um sorriso zombeteiro no canto dos lábios. Engoli em seco.
— Não, claro que não. É impressão sua.
Thomas estreitou os olhos me fitando por alguns instantes como se estivesse decidindo se acreditava ou não no que eu havia dito. Então olhou para as minhas mãos e sorriu abertamente; era um sorriso insolente e, de certo , convencido.
— Você começou a ler o livro, presumo.
— Na verdade não, eu trouxe para a loja, mas o entra e sai de clientes não me deixou ler — menti.
Ele pareceu desapontado, ainda assim eu não queria que ele soubesse que eu havia lido e muito menos gostado daquilo.
— Precisa de ajuda? — ele perguntou mudando de assunto e apontou para as minhas mãos. Percebi que ainda segurava as coisas de forma desajeitada.
— Ah não, eu me viro. Até mais. — E me voltei para a porta para fechá-la só não contava de deixar a chave cair e me amaldiçoei por isso.
— Melhor eu ajudar você. — concluiu.
E sem esperar resposta ele se abaixou para pegar as chaves, com seus cabelos longos, escuros e macios (pelo menos ao que parecia) caindo em seu rosto. Ele se levantou habilmente e colocou as chaves na fechadura e a porta.
— Aqui está! — Thomas se virou para me entregar as chaves.
E, quando ele me entregou, as pontas dos seus dedos tocaram a palma da minha mão e o local pareceu queimar. Afastei minha mão depressa, desconcertada com a sensação no mesmo instante em que ele afastava a dele se empertigando um pouco.
— Então é isso — falou ele meio constrangido.
— É, eu acho que é... e obrigada pela ajuda.
— Disponha.
Thomas colocou as mãos no bolso da calça preta e começou a se afastar me deixando sem entender o que foi aquilo. O segui com o olhar, ele atravessou a rua e só então notei que sua moto se encontrava estacionada do outro lado. Ele pegou o capacete do guidão, subiu na moto de um jeito irritantemente sexy, colocou o capacete na cabeça dando a partida logo em seguida.
Nossa Senhora das Insulanas Desavisadas, por que ele tinha que ser uma tentação em forma de pirata... quer dizer de homem?
Suspirei e caminhei em direção a praça para meencontrar com Dylan; consideravelmente atrasada, o que não era nenhumanovidade.
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Jazz, livros e o amor no meio disso
RomansaEsther Blossom respira música, já Thomas Castillo inspira livros. O que esses dois têm em comum além de traumas do passado? Esther é uma mulher forte que já sofreu muito e encontrou nas divas do jazz um reconhecimento e uma fonte de inspiração. Vivi...