Saí da loja decidida a comer na rua. Eu estava faminta, de péssimo humor e sem nenhuma disposição para cozinhar. Pedalei até a Verti Marte, localizada ali mesmo no French Quarter: uma delicatéssen 24 horas que servia uma grande variedade de po-boys. Prendi minha bicicleta novamente a um poste e entrei já antevendo, pelo cheiro que exalava no lugar, o saboroso sanduíche que eu iria degustar.
Fiz meu pedido e, enquanto aguardava, acabei divagando a respeito do que intimamente me consumia: Thomas. Porque uma parte de mim gostaria que ele tivesse ido á loja naquele dia; já a outra, que torceu para que ele não fosse agora se encontrava desapontada. Suspirei frustrada com o monte de incertezas em que aparentemente eu me transformara.
Droga!
O garçom voltou com meu pedido e então tratei de me concentrar no lanche à minha frente, não sem antes pedir um coquetel para acompanhar. Ora, além de alimentar meu corpo eu precisava acalmar o espírito. No entanto, quando eu me preparei para morder minha preciosidade recheada de presunto, peru, camarão salteado, cogumelos e queijo suíço, fui interrompida por um "Aí está você!" vindo de ninguém menos do que Thomas.
— Estava indo até sua casa quando a avistei pelo lado de fora — contou ele. — Não tive tempo de ir até a The Drum's , tive um dia daqueles lá na livraria.
Me perguntei se a tal Hannah teria alguma coisa a ver com isso.
Sem esperar por um convite, puxou a cadeira e se sentou colocando uma sacola de papel Kraft sobre a mesa. Meu estado de espírito então se dividia agora entre meio atônita e meio feliz. Fosse como fosse, Thomas e eu estávamos sempre esbarrando um com o outro.
— Se importa se eu acompanhá-la? — perguntou ele apontando para o meu po-boys ainda a meio caminho da boca.
— Não, fique à vontade! — respondi surpresa, mordendo o sanduíche em seguida para disfarçar.
O garçom voltou trazendo meu coquetel e Thomas aproveitou para fazer seu pedido.
— Eu vou querer um legítimo All That Jazz como o da senhorita e uma cerveja, por favor — pediu.
— O que você quer, Thomas? — perguntei sem rodeios assim que o garçom nos deixou sozinhos.
— Primeiramente matar a minha fome — brincou ele me dando um sorriso zombeteiro para o qual eu não estava preparada. — E depois lhe entregar algo que não vai ser exatamente uma surpresa, pois acredito que você já saiba o que é.
— Tudo bem! — concordei com um aceno.
O garçom voltou com o pedido do pirata que, aparentemente, se encontrava tão faminto quanto eu e nós comemos em silêncio. Como terminei de comer primeiro, comecei a observá-lo como quem não quer nada. Thomas estava com o cabelo preso em um coque estilo samurai, o que era um tremendo golpe baixo. Seus olhos pretos como os de um deus pagão eram perigosamente quentes. E combinavam perfeitamente com os traços do queixo quadrado e do nariz esculpido, como que a mão, assim como os lábios bem desenhados. O bigode e a barba rala terminavam de completar aquele ar irreverente e sexy com um quê de desarrumado que emanava dele. Como descrevê-lo, a não ser como um belo pirata moderno?
— Esther... Esther?
Percebi que Thomas me chamava enquanto eu me encontrava perdida na tarefa nada árdua de admirá-lo.
— Sim? — respondi desconcertada por ter sido flagrada admirando-o.
— Podemos pedir a conta ou você deseja algo mais?
Arqueei as sobrancelhas. E fiz sinal para que o garçom viesse até a nossa mesa, o que fez prontamente. Abri minha bolsa à procura da carteira e levei alguns instantes para encontrá-la devido a tanta quinquilharia que eu carregava.
Thomas estreitou os olhos para mim visivelmente incomodado.
— O que foi? — perguntei dando de ombros.
— Eu estava pensando em pagar pelo nosso lanche — esclareceu.
— , por que faria uma coisa dessas?! — indaguei indignada.
— Por educação, afinal eu fiquei sem ser convidado — explicou ele.
— Ah, não se incomode, isso não é um encontro. E até mesmo em meus encontros eu divido a conta — contei.
Entreguei uma nota para o garçom que observava a cena curioso. O valor cobria meus gastos e ainda sobrava para a gorjeta. Thomas fez o mesmo e se levantou pegando a sacola em cima da mesa.
— Esther Blossom, de onde você saiu? — perguntou ele balançando a cabeça divertido, mas o que eu via em seus olhos era a mais pura admiração.
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Ps: Esta autora esteve sumida devido há alguns percalços pessoais, no entanto agora ela está de volta e se compromete a postar SEMANALMENTE os próximos capítulos deste livro que já estão escritos. E quem sabe assim a inspiração volta a dar as caras por aqui e ela termina de escrever esta história? (retratação totalmente influenciada pela Lady Whistledown kkk)
Fiquem por aqui e não se esqueçam de curtir o capítulo e comentar e se puderem indiquem a história para algum amigo!!!
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Jazz, livros e o amor no meio disso
RomansaEsther Blossom respira música, já Thomas Castillo inspira livros. O que esses dois têm em comum além de traumas do passado? Esther é uma mulher forte que já sofreu muito e encontrou nas divas do jazz um reconhecimento e uma fonte de inspiração. Vivi...