Após mais vinte minutos no carro, que mais parecia uma prisão, finalmente chegamos à boate. Oliver me ajudou a sair do automóvel, minhas pernas estavam bambas e meu corpo parecia estar com um peso equivalente a cinco sacos de cimento.
As lagrimas escassas, de tanto que já havia chorado, não saiam mais e minhas pupilas estavam dilatas e inchadas. Quando entrei, Catarina, que estava limpando o balcão do bar, olhou em minha direção com empatia e isso era muito estranho vindo de uma mulher que parecia me odiar.
— Ava, você quer que eu faça alguma bebida ou comida para você? — Disse colocando uma mão em meu ombro enquanto o acariciava com um olhar de compaixão.
— Não estou com fome, obrigada — Respondi sem energia alguma.
Catarina me abraçou forte e me levou até meu quarto, era como se eu fosse uma criança que precisava de cuidados. Devido ao meu estado decadente, não discuti com ela e apenas deixei com que continuasse a me guiar pelo grande corredor até chegarmos a nosso destino.
Já em meu quarto, me despedi de Catarina, não queria ser rude, mas por causa do meu estado atual, acabei sendo. Fechei a porta rapidamente na cara dela e me joguei na cama.
Fiquei horas olhando o teto e pensando em todas minhas escolhas. A todo o momento me vinha à mente que se eu tivesse sido mais esperta, talvez Erza estivesse vivo. Minha mente continuava a me culpar e isso sempre vinha acompanhado de uma forte dor no meu peito misturado a uma falta de ar angustiante.
Todos os dias, após aquele, foram iguais. Recusava-me a comer, apenas bebia água e ficava no escuro, olhando o além. Também tinha dificuldade para tomar um simples banho, cheguei a ponto de pensar se eu estava com depressão ou enlouquecendo, porém, cheguei à conclusão de que esse era meu jeito de aceitar os fatos.
Todos da boate ficaram preocupados e batiam dia após dia na minha porta perguntando como eu estava e se iria sair para comer e sempre ignorava tais perguntas o que deixava todos irritados, porém um em particular ficava ainda mais nervoso e esse era Oliver.
Já tinha se passado um mês inteiro e apenas Oliver vinha sempre me perguntar as mesmas coisas. Ele não parava a nenhum momento, até que em um dia, o qual eu não sabia a data, decidi abrir a porta. A luz que entrava no quarto me fazia ter dores de cabeça e a tontura por não comer me fez tropeçar.
Oliver me segurou, me analisou com muita calma e com muita gentileza me levou até o espelho mais próximo dali, forçando-me a ver meu reflexo magro, desnutrido, descabelado e totalmente frágil.
— Realmente acredita que ficando assim ele ficaria feliz? — Murmurou me encarando diante do espelho.
— Eu sei. Desculpe-me — Proferi quase sem voz e assustada com minha aparência.
Oliver me deixou ali enquanto dizia que iria fazer a janta, deixou claro que se eu não aparecesse lá ele iria me levar à força.
Fiquei quase meia hora analisando meu físico até tomar a decisão de ir para o banheiro tomar um banho, ainda me achava feia, porém, menos acabada. Sem energia alguma, vesti uma camisola branca que estava jogada no espaço, provavelmente de alguma dançarina.
Andei lentamente ainda com a tontura para a sala de jantar que tinha praticamente um banquete, tinha carne bovina, suína, frango, legumes, frutas e todas as categorias de bebidas.
Sentei-me na cadeira quase me jogando enquanto olhava todos os presentes com vergonha, porém, para minha surpresa, todos sorriram e comeram sem me fazer perguntas. Isso me acalmou um pouco e com receio peguei um pedaço de carne assada.
Quando mastiguei o primeiro pedaço a fome apareceu e comi quase o assado inteiro, fazendo todos os presentes rirem, inclusive Adriel, olhei-o com espanto, nunca tinha o visto rir ou sorrir.
Após todos comerem, conversarmos sobre muitos tópicos e nesse meio tempo decidi que não ficaria mais sofrendo por alguém que nem mesmo estava mais presente, ao invés de me privar de tudo, iria voltar a viver novamente.
Uma semana depois da conversa na mesa de jantar voltei às consultas da Dra. Ana. A princípio, ela se surpreendeu com a história que contei, também arrumei uma nutricionista para recuperar meu peso e por fim arrumei um emprego como chefe de cozinha de um restaurante francês especializado em doces e comidas típicas do país.
Claro que Adriel deu uma forcinha, sempre gostei de como ele sempre era prestativo para mim e isso me deixava mais feliz e motivada a retomar o controle de minha vida.
Depois de muitos meses de consultas com a Dra. Ana, cheguei à conclusão de que Erza nunca foi honesto comigo, sempre me manipulando nos mínimos detalhes, me usando e controlando como queria. Uma relação totalmente tóxica e isso não fazia com que a dor da perda sumisse, porém, de certa forma fazia com que fosse mais fácil supera — lá.
Em meu tempo livre acabei por trabalhar no bar da boate, o que me animava, pois sempre tinha uma briga ou pessoas para desabafar e eu realmente sentia fazer a diferença ali.
Mesmo que eu ainda estivesse em fase de transição, sentia que finalmente tinha achado meu lugar e minha família, Oliver, Adriel e Catarina.
O mais engraçado de tudo foi que isso tudo curou minha ninfomania, não sentia mais aquele desejo forte como antes e isso me deixava completamente feliz e aliviada.
Também ganhei um presente muito valioso, um bebe de Adriel e Oliver que eu estava animada para ajudar a criar, não sei todos os detalhes, mas Adriel pagou uma barriga de aluguel.
O nome da menina era Jenna, e ela era o que faltava para dar paz e calmaria aos dois, Adriel finalmente largara mão da agiotagem e deixou tudo para Catarina cuidar. Eu ainda permanecia morando com ela, afinal acabei gostando dali mais do que imaginava.
Não tenho vontade de arrumar outra pessoa, porém, quem sabe um dia? Só sei que mesmo com todos os altos e baixos de minha vida, me sinto grata pelo Erza, mesmo sendo uma relação tóxica, ela ainda foi bonita e romântica a sua maneira.
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O Perigo Do Prazer
RomanceAva e uma jovem mulher de vinte e quatro anos que possui um transtorno ninfomaníaco é acaba se interessando até demais pelo seu sexy e misterioso novo vizinho Erza. Que por sua vez também esconde segredos alarmantes.