Capítulo 3

143 9 0
                                    

ANAHÍ

A combinação entre o café gelado, o espanhol inesperado e a presença do familiar e lindo rosto de Poncho me deixou sem voz. Minha blusa de seda está colada à pele fria, graças à tampinha defeituosa de seu copo de café, que escorregou no segundo em que Poncho esbarrou em mim.

Poncho.

Sentindo o corpo esquentar por dentro, apesar do banho de gelo acidental, e queria poder bebê-lo como se ele fosse um capuccino fumegante num dia frio. El tem cabelo sedoso e curto, barba por fazer, pele bronzeada e olhos esverdeados bastante sensuais. Parecia ainda mais alto pessoalmente, e ainda mais magnético, como a gravidade de um enorme planeta atraindo-me para sua órbita.

Eu me senti enfeitiçada por ele de um jeito inexplicável, mas aquela, afinal, era a mágica da TV: fazer com que você se sinta próximo de pessoas que não conhece e desenvolva familiaridade e carinho por personagens criados para você. Fazer com que torça por eles, se apaixone por eles, os ame ou odeie.

E ali estava Poncho, em carne e osso, e ainda mais lindo ao vivo, se é que era possível. O Leão Dourado. Eu tinha assistido a alguns episódios, graças à insistência de Sofía, e a capacidade dele de captar a atenção dos telespectadores era magistral.

Num esforço para ignorar a maneira como meu coração se acelerava por estar perto de Poncho, eu me concentro no que ele dizia.

Como eu não queria ter que admitir que não era fluente em espanhol, eu pesco as palavras, as repasso em minha mente e traduzo uma a uma.

"Hola." Aquelas primeiras sílabas, fluidas e profundas, que Poncho usara para me cumprimentar fizeram com que eu me arrepiasse.

"Supongo que no te ibas a beber eso."

Acho que você não ia beber isso.

O quê? Ele havia sido sarcástico? Ou tinha falado sério? Merda, eu não sabia.

Por segurança, eu estreito os olhos.

— Era para ser uma piada?

Ele ergue as sobrancelhas, como se estivesse surpreso por eu ter respondido em inglês. Eu estava acostumada com essa reação.

— Hum... É. Uma piada. Mas uma piada sem graça, eu acho.

Em inglês, sua voz grave era cadenciada e suave.

Ele pega um punhado de guardanapos de papel na mesa e os estende para mim.

— Sou Poncho Herrera.

— Sei quem você é. Minha avó é apaixonada por você.

Deus, eu tinha mesmo dito aquilo?

Eu pressiono os guardanapos contra o corpo, o que pouco adianta para absorver o café marrom que ensopava minha camisa. E, pior ainda, embora fosse difícil dizer do meu ponto de vista, eu tinha quase certeza de que a seda branca tinha se tornado transparente.

Ela tento puxar o tecido molhado, para que não ficasse colado como uma segunda pele, mas ele tornou a grudar em meus seios. Ótimo.

— Pode me mandar a conta da lavanderia. — A expressão no rosto dele era de desapontamento, e a preocupação em seus olhos fez com que parecesse mais jovem, como um garotinho.

— Não se preocupe. Deve ser impossível limpar isso. — Eu soei mais irritada do que pretendia, então acrescento: — Tudo bem, é só uma roupa.

Só uma roupa que eu havia levado duas horas para escolher, com a ajuda das minhas primas. Eu contenho um suspiro. Não queria fazer com que Poncho se sentisse mal, mas, caramba, que inconveniente.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora