Capítulo 4

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ALFONSO

Entre a conversa com Tomás e uma série de interações positivas com a showrunner, o primeiro assistente de direção e o diretor do primeiro episódio, a minha confiança voltou com tudo. Depois de trabalhar na TV por mais de quinze anos, eu me sentia em casa naquela agitação, mais do que em meu apartamento em Miami ou em minha suíte no Hotel Hola Mundo!.

Claro, aquele papel tinha muita coisa em jogo, mas eu daria conta. Era um dos melhores em minha área — não, não um dos melhores, o melhor — e estava ali para mostrar ao público norte-americano — e aos produtores e agentes — o que eu sabia fazer. Fácil, fácil.

Eu sigo Marquita até a sala de conferência onde seria feita a leitura. Uma porção de gente estava amontoada no corredor, incluindo executivos da VibeStudio, produtores, roteiristas e alguns atores que eu reconheci das notícias sobre a série.

Fazia muito tempo que eu não era escalado para uma produção onde não conhecia ninguém. Tudo que eu queria era entrar na sala de conferência e sentar em meu lugar, mas me apresento a Peter Calabasas, um ator de TV veterano que faria o pai de Carmen. Peter, um homem afro-latinoamericano rechonchudo, com uma barba escura, era bom de papo, e nós logo engatamos numa conversa sobre beisebol.

Então Anahí chega e eu levo um susto.

Ela continuava estonteante e incrivelmente sexy, mas... que roupa era aquela?

Sabe-se lá como, Anahí arrumara um novo look, e, embora o cabelo e a maquiagem continuassem impecáveis, ela parecia uma modelo fitness que tinha entrado na sala errada, e não a atriz principal de uma série sobre uma executiva de relações públicas.

A culpa me invade. Como eu me sentiria se tivesse que aparecer no primeiro dia de trabalho usando short de academia? Claro, alguns atores usavam roupas casuais nas leituras. Havia uns três ali de calça jeans. Mas, interpretar o personagem principal implicava um certo senso de liderança. Era comum que todos se esforçassem para passar um ar profissional, pelo menos antes que as jornadas de trabalho de vinte e quatro horas levassem todo mundo à exaustão. Eu não era o protagonista, mas, como fazia parte do par romântico central, estava usando uma camisa social azul bem passada, calça preta e mocassins de couro italianos.

Anahí, como eu tinha visto naquela manhã, havia se vestido muito bem. Mesmo coberta de café, estava claro que escolhera um look estiloso e sofisticado. Ela até tinha feito um comentário sobre isso, mas eu estava tão mortificado que não tinha entendido direito o que ela dissera.

Por causa do meu erro, Anahí parecia pronta para ir à academia... de salto alto.

Eu me sinto um idiota de novo. Sério mesmo que tudo que eu ofereci a ela foi o meu próprio café e uma oferta besta de pagar a conta da lavanderia? Qual era o meu problema? Ela nunca me perdoaria, e eu não podia culpá-la por isso.

— Certo, vamos começar! — Marquita bate palmas.

Todos param de falar e entram na sala para tomar seus lugares em torno da mesa de conferências. Plaquetas de papel branco com o nome dos atores impresso indicavam o lugar de cada um. Em frente a todos os assentos havia uma cópia do roteiro, um pequeno montinho de fichas para anotações, um copo e uma garrafa de vidro com água e fatias de limão.

Como um dos personagens principais, eu estarei sentado bem ao lado de Anahí, mas eu estivera tão distraído que nem sequer pensei na questão até aquele momento.

Eu afundo na cadeira de metal desconfortável e me ocupo de folhear o roteiro, o meu corpo inteiro em alerta quando Anahí se senta ao meu lado. Eu dou uma olhada na direção dela, acompanhando o deslizar de suas longas pernas — à mostra — enquanto ela as cruzava debaixo da mesa.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora