Capítulo 17

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ALFONSO

Eu tinha cometido um erro terrível.

Quando sugeri a Anahí para encontrá-la na academia do hotel, pensei que aquele seria um território neutro. Menos íntimo que nossos camarins ou nossas suítes no hotel, inofensivo o suficiente para que ninguém pensasse nada ao ver dois colegas de trabalho lendo roteiros em aparelhos de ginástica diferentes. E, com aquele cheiro de suor e desinfetante no ar, nada sexy.

Mas, quando Anahí entra na pequena sala de exercícios, eu vejo seu reflexo numa parede espelhada e quase caio da esteira.

Ela está sem maquiagem e com a cabeleira castanha presa num coque alto. Com um top de ginástica azul e calça legging preta, ela parecia nada menos que perfeita. O tecido colado evidenciava suas curvas de uma maneira sedutora, e ela transpirava força e sensualidade. Trazia o roteiro e uma garrafa de água de aço inox debaixo de um braço e tinha uma toalha jogada sobre o ombro.

Ela me cumprimenta com um sorriso radiante e um tchauzinho. Eu apenas aceno com a cabeça, porque sentia como se tivesse acabado de engolir a língua.

Enquanto Anahí colocava suas coisas no porta-objetos da esteira, eu tentava não olhar para a bunda dela. Por que as roupas de ginástica femininas tinham que ser tão justas? O meu short e a minha camiseta eram bem folgados. Será que ela não se sentiria mais à vontade usando uma jaqueta esportiva ou algo assim?

Inferno, ela provavelmente ficaria sexy usando uma jaqueta esportiva.

Depois de ajustar sua esteira para uma caminhada acelerada, Anahí abriu o roteiro.

— Vamos começar como Vera faz — ela diz. — Qual o contexto?

— Contexto?

Eu não fazia ideia do que ela estava falando. Estava ocupado tentando me concentrar em continuar caminhando, e não na forma como os seios dela balançavam deliciosamente enquanto ela andava.

— É. Você sabe... O que acontece no episódio?

— É o episódio em que eles dançam, certo? — consigo comentar.

— Isso. Carmen tenta inscrever Lorenzo nesse programa em que celebridades competem fazendo par com dançarinos profissionais — Anahí lê nas anotações. — Você sabe dançar salsa?

— Claro que sei — eu desdenho. — Você sabe?

— Bem, sei — ela diz, rindo. — Minha mãe me ensinou os passos básicos de salsa e tinikling.

— Dessa eu nunca ouvi falar — admito.

— É uma dança folclórica tradicional das Filipinas — ela explica. — É tipo pular corda, só que com bambus compridos no chão.

Ela demonstra alguns movimentos ali mesmo na esteira, girando 360 graus e alternando os pés entre a parte móvel do centro e as laterais do equipamento.

Eu bato palmas de leve.

— Aposto que você era um petardito pulando corda. Uma espoleta.

— Era mesmo. Todas as meninas me pediam para ensiná-las. — Ela olha para mim de rabo de olho. — Você gosta de correr, hein?

— Me ajuda a espairecer. — A inclinação da esteira muda e eu firmo o passo, me entregando ao ritmo firme. — Prefiro correr ao ar livre, mas meus antigos produtores insistiam para que eu ficasse longe do sol.

Quando ela me lança um olhar curioso, eu dou um tapinha no próprio braço.

— Não dá para ser muito escuro nas novelas latinas, e eu já estou no limite.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora