Capítulo 8

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ALFONSO

Apesar da minha completa exaustão, eu peguei o último voo para San Juan depois da gravação do segundo episódio.

As últimas cenas tinham exigido de mim não apenas fisicamente — graças a um porre de Lorenzo e uma briga com o cantor rival —, mas também emocionalmente pois os percalços do relacionamento entre Lorenzo e Carmen haviam chegado a um novo patamar.

A filmagem da cena da briga havia exigido muitos takes, a ponto de eu me arrepender de ter insistido que não precisava de um dublê para gravá-la. Não que o verdadeiro dublê com quem eu contracenara tivesse me machucado, mas cenas de luta podiam ser bastante cansativas.

Outra preocupação havia sido a presença de Anahí em cena, já que Carmen era chamada para apartar a briga. A última coisa que eu queria era machucá-la se querer, por isso eu fiquei atento a ela a todo segundo, desde o momento em que ela entrava no tapete vermelho ao lado dele até quando o envolvia com os braços para afastá-lo da briga e depois tocava seu rosto com delicadeza para verificar os hematomas.

Atuar era reagir, e nós havíamos aproveitado as deixas um do outro, mesmo quando eu mergulhara profundamente em mim mesmo para encontrar a dor de Lorenzo. Anahí acompanhou minha emoção enquanto Lorenzo passava da ira à exaustão. Os momentos de silêncio entre eles depois da briga talvez tenham sido uma das melhores atuações da minha vida.

Mas, no fim da semana estava pronto para partir, e a saudade de casa era como um peso em meu estômago. Na sexta à noite eu saí do estúdio direto para o aeroporto, e do aeroporto para o apartamento que mantinha em San Juan, onde eu dormi por algumas horas. De manhã, dirigi até o condomínio fechado em Humacao em que o meu filho, meu pai e meus avós viviam em segurança.

Atento a qualquer figura suspeita, eu estaciono na calçada e entro na casa de tijolos salmão e terracota. Mesmo com minha família tendo se mudado depois do Incidente, eu nunca mais me senti totalmente seguro.

Lá dentro, meu pai se aproxima com uma taza de café com leche enquanto eu ajustava o sistema de segurança. Eu cumprimento meu pai e, agradecido, tomo um gole de café.

¿Tomás está durmiendo? — pergunto, seguindo meu até a cozinha.

. — Ele se senta à mesa e coloca os óculos para retomar a leitura do jornal. — Ele vai ficar feliz em ver você quando acordar.

Eu me sento, mas estava inquieto.

— Está tudo bem? Nada de anormal? — pergunto.

Ignacio abaixa o jornal e lança a mim um olhar gentil por cima dos óculos.

— Não acha que eu contaria a você se houvesse algo de anormal?

— Claro.

Eu não acreditava cem por cento nele, mas não queria aborrecer meu pai àquela hora da manhã.

— Quando foi que você chegou? — ele pergunta.

— Ontem, tarde da noite.

— Ah. Dormiu no apartamento?

— Dormi.

Meu pai só levanta as sobrancelhas e continua lendo a respeito dos últimos protestos políticos. Ele não precisava dizer nada, porque já havíamos tido aquela conversa diversas vezes. Meu pai achava uma idiotice que eu mantivesse duas casas em Porto Rico e um apartamento em Miami, mas sabia porque eu não me sentia confortável em dormir naquela casa.

— E por quanto tempo acha que ainda teremos de pedir aos amigos e professores de Tommy que assinem termos de confidencialidade? — Ele pergunta diretamente.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora