Capítulo 28

102 6 0
                                    

ANAHÍ

Quando acordo na manhã seguinte, estou sozinha. Eu estico a mão, tateando o colchão para ver se Poncho tinha se virado para o outro lado durante a noite, mas em vez disso encontro um bilhete que ele tinha escrito no bloco de notas do hotel. Aperto os olhos para o papel sob a fraca luz que entra no quarto pelas frestas das cortinas pesadas.

Any, Meu voo para Porto Rico era cedo. Não quis te acordar.

Obrigado por... tudo.

Bj

Poncho.

O agradecimento faz com que eu abra um sorriso. Ainda que eu quisesse ter passado a manhã abraçadinha com Poncho, eu apreciava a oportunidade de dormir até mais tarde. A noite anterior tinha sido bem pesada, emocionalmente falando, e eu precisava de um tempo para processar tudo aquilo.

Depois do que Poncho tinha contado, não era de se admirar que ele detestasse ser seguido por paparazzi e participar de eventos com a presença da mídia. Nem que ele se mantivesse sempre distante. Agora aqueles aspectos do seu comportamento faziam total sentido para mim; Poncho não era estrela, era reservado, e por uma boa razão. Porém, eu não posso deixar de me perguntar se ele já se sentia ansioso em público antes ou se isso havia começado depois que a segurança do seu lar foi violada.

Eu sabia como era ter a própria privacidade invadida, mas ver minhas informações pessoais tornadas públicas era diferente de se tornar um alvo e ter a casa atacada. Esse tipo de experiência muda as pessoas.

Todo o fiasco da história com Diego me afetou, mas, como ainda é tudo muito recente, eu não sei quais serão os efeitos a longo prazo. Será que me sentirei confortável quando voltar a Los Angeles? Conseguirei voltar a confiar nos meus antigos amigos e colegas de trabalho?

Eu ainda não tinha aquelas respostas. Graças a Deus, trabalhar em Carmen me deu tempo para cuidar das minhas próprias feridas em casa, em Nova York, cercada pelas pessoas que eu mais amo. Minha família está longe de ser perfeita, mas pelo menos nunca contaria meus segredos para os repórteres.

Falando em família, eu tenho que ir ao Bronx naquela tarde, para um churrasco. Por mais que eu preferisse passar o dia fazendo nada e pensando em Poncho, eu não posso.

A linha seis do metrô no sábado de manhã é o mais próximo que podia chegar do inferno, então eu pego um táxi do hotel até a casa dos meus avós, em Castle Hill, uma extravagância que eu nunca poderia ter feito da última vez que morei em Nova York.

Sete dos doze primos da família Portilla já estão lá quando eu chego, assim como os meus pais e todos os meus tios e tias do lado paterno. Os adultos se espalham pela sala de estar, pela cozinha e pelo quintal, enquanto os meus sobrinhos e os filhos dos meus primos estão brincando lá embaixo, no porão.

Como era esperado, eu circulo pela casa cumprimentando com beijinhos na bochecha cada um dos meus parentes. Levo quarenta e cinco minutos. Primeiro, fiquei presa numa discussão ridícula com os meus irmãos sobre qual de nós ajudava mais nas tarefas quando éramos crianças, e depois engatei um bate-papo realmente interessante com Archer. o marido de meu tío Luisito, sobre o clube do livro dele. Meus pais pareciam felizes em me ver, mas eu fugi deles quando notei minha mãe deixar de lado uma bandeja de lumpias para pegar o celular.

Quando finalmente acabo de cumprimentar todo mundo, eu resgato Sofía de um torneio de videogame no porão e Eva da cozinha, e me tranco com elas num dos quartos do andar superior.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora