Capítulo 34

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ALFONSO

Corta!

Eu estava de pé no meio do cenário do escritório da Serrano Relações Públicas com Anahí e Nino, filmando a sessão de brainstorming sobre a carreira de Lorenzo. Quando Ofelia, a primeira assistente de direção, avisou que a cena tinha ficado boa, nós saímos correndo do set, prontos para almoçar.

Antes que déssemos dez passos, Marquita aparece na minha frente.

— Poncho, podemos... conversar?

A hesitação na voz e na postura dela me deixaram instantaneamente em alerta. Mas, como ela era a principal responsável pela produção, eu assinto e faço sinal para que Anahí e Nino seguissem sem mim. Anahí me lança um olhar preocupado, mas Marquita me arrasta até um lugar mais tranquilo — ou o lugar mais tranquilo possível dentro de um estúdio barulhento na hora do almoço. Ela me encarou com os olhos arregalados e hesitantes, segurando o celular junto ao peito, como se quisesse me mostrar algo mas estivesse com medo da minha reação.

Eu imediatamente imaginou o pior. Seria outra foto minha com Anahí? Teríamos sido descobertos? Ou, puta merda, eu seria demitido mais uma vez? Eu achei que estava me saindo bem como Lorenzo, mas talvez...

— Você... — Marquita balança a cabeça, como se não soubesse o que dizer, então despeja o resto da pergunta de uma vez: — ¿Tienes un hijo?

Eu sinto meu sangue gelar, me congelando de dentro para fora enquanto tentava manter a expressão neutra.

"Você tem um filho?"

Se ela estava perguntando, era porque já sabia.

Eu engulo em seco.

¿Qué están diciendo?

— Estão dizendo que você tem um filho. — Marquita dá uma olhada no telefone, e então volta olhar para mim. — Tem uma foto.

A visão do rostinho inocente e desavisado de Tomás na tela do celular de Marquita me faz cerrar os punhos. A raiva me invade, tomando o lugar do gelo. Como. Foram. Capazes.

Eu pego o celular da mão dela com cuidado e dou zoom para ver os detalhes. A primeira foto tinha sido tirada dois dias antes, no jogo dos Yankees a que eu tinha levado Tomás, mas havia outras, incluindo uma foto minha no aeroporto quando voltava da minha última viagem a Porto Rico.

Eu não tinha reparado em ninguém que parecesse um paparazzo, mas eu tinha sido visto. Visto e reconhecido, apesar do boné e dos óculos escuros.

Que merda era aquela? A Buzz Weekly tinha espiões em todos os lugares?

A manchete dizia: REVELADOS OS SEGREDOS DO ASTRO DAS NOVELAS LATINAS! SEXO, PERSEGUIÇÃO E UM FILHO SECRETO!

Está bastante completa, eu penso amargamente. A autora da matéria, Kitty Sanchez — por que aquele nome me parecia familiar? —, devia estar pesquisando sobre mim havia algum tempo, para conseguir descobrir tudo.

Eu não era violento ou dado a acessos de raiva, mas, naquele momento, o medo e a fúria se misturavam dentro mim. Aquelas pessoas — os paparazzi e os colunistas de fofoca — tinham revirado meu passado, ido atrás da minha família e me espionado. Só porque achavam que eu estava tendo um caso com uma colega de trabalho.

Eu estava. Pero carajo, por que eu não podia ter minha privacidade?

Os holofotes que antes estavam sobre Anahí tinham agora se virado para mim e descoberto uma história boa demais para ser ignorada. A estratégia de sermos "apenas bons amigos" tinha falhado. Por mais cuidadoso que eu fosse, eu tinha cometido erros — como trazer minha família para Nova York porque eu sentia saudade deles.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora