Capítulo 22

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ALFONSO

Os meus olhos estavam vermelhos, meu nariz escorria, e eu esperava nunca mais ter que ouvir "Alguém tira essa cobra daqui!" na vida. Para piorar, a diretora tinha amado aquilo e decidido manter na edição final.

Entre as crianças e os bichos, o meu espirro e todos os atores saindo do personagem e precisando voltar a se concentrar, a cena do evento de caridade no abrigo de animais exigiu mais takes do que qualquer outra que nós já tínhamos filmado até ali.

No final, as pessoas já estavam falando sobre o clássico vídeo com os erros de gravação e a minha alergia estava a todo vapor, mas eu tinha que admitir que estava me divertindo. Então, quando Anahí me disse que o elenco ia a um karaokê naquela noite, eu surpreendo a todos dizendo que iria também.

— Não sei se vou cantar muito bem — eu aviso, fungando. — Como você pode perceber, estou tendo uma crise alérgica.

Anahí me entrega um pacote de lenços de papel.

— Foram os gatos ou os cachorros?

— Os gatos — eu confesso. — São fofos, mas eu sou super alérgico. Tom... dá para perceber?

Ela faz que sim, sem perceber o meu deslize, mas eu congelo por dentro. Eu quase falei o nome de Tomás. O meu filho vivia pedindo para ter um bichinho de estimação. A minha alergia a gatos e a aversão de abuelita Bibiana a cachorros tornavam aquilo impossível, mas não impediam que Tomás comentasse como cada cachorro e cada gato que ele encontrava eram fofos.

***

Eu fui o último a chegar ao bar de karaokê em Midtown onde Anahí tinha reservado uma sala particular. Há três garrafas de vinho e duas jarras de chope na mesinha de centro baixa no meio da sala, e Miriam estava no meio de uma música da Selena.

Anahí se levanta e me cutuca no ombro.

— Achei que você não vinha mais.

— Eu disse que viria.

Eu soei meio seco, mas não tinha sido minha intenção. A visão de Anahí tinha feito minha boca secar. Ela está usando como blusa um pedaço de renda que deixava seus ombros e colo à mostra e revelava a curva atraente de seus seios. Eu já a vira em figurinos ousados — Carmen tinha muitas trocas de roupa —, mas saber que a própria Anahí tinha escolhido aquela roupa fazia diferença para mim. Era excêntrica e sexy ao mesmo tempo. Assim como ela.

— Além do mais — eu continuo, tentando abrandar o tom —, como poderia perder isso?

Naquele momento, Miriam desceu do palco, saltitando, cantando e tirando os colegas de Carmen no comando para dançar, em meio a gritos e risadas.

Eu aplaudi quando a música terminou e, no silêncio que se fez antes que a próxima canção começasse, solto um tremendo espirro.

¡Salud! — o grupo diz em coro.

Eu senti o rosto esquentar, mas elevei a voz e disse:

Gracias.

No instante seguinte, uma música da Thalía começou a tocar e todo mundo se virou para a tela.

Anahí coloca a mão no meu braço.

— Tenho lenços de papel extra para você na minha bolsa.

Apesar de ser a primeira vez que eu socializava com o elenco fora do trabalho, todos pareciam felizes em me ver. Eu aceitei uma taça de vinho oferecida por Lily e mergulhei numa conversa com Peter e Nino sobre os Yankees.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora