Capítulo 16

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ANAHÍ

Do lado de fora da tenda do set de filmagem, eu me viro para Poncho, a adrenalina correndo pelo meu corpo. Ele está com um grande sorriso no lindo rosto, e ergue a mão para mim, que bato na mão dele. A batida fez um som alto e reverbera pela minha palma. Aquilo, sim, era um bate aqui de respeito.

Conseguimos — eu digo.

— Conseguimos mesmo — ele concorda.

Ali por perto, Ofelia, a primeira auxiliar de direção, está positivamente impressionada.

— Seja lá o que vocês estejam fazendo, continuem — ela diz.

O diretor do episódio quatro também se aproxima.

— A gravação parece boa. Vamos agora para as tomadas mais de perto.

Poncho faz um joinha para mim, que sorrio de volta para ele, mas lá no fundo eu sabia que era uma grande mentirosa. No camarim de Poncho, eu tinha bancado a ofendida diante da ideia de dormirmos juntos. Eu merecia um Oscar por aquela atuação, porque eu não achava a ideia nem um pouco ruim.

Agora mesmo, minha mente traidora não parava de relembrar a sensação das mãos dele segurando minhas coxas.

Merda, eu estava passando pelos sinais de alerta da paixonite — o segundo grau da Escala Anahí-Métrica. Aquele calor no plexo solar, como se algo me conectasse a ele e me puxasse em sua direção. A vontade de fazê-lo sorrir, de fazer perguntas e me agarrar a cada palavra quando ele respondesse, procurando por sinais de que ele também sentia uma paixonite por mim.

É tudo coisa da sua cabeça, eu digo a mim mesma. Não é real.

Meu Deus, como eu era previsível. Sofía ia se divertir com aquilo.

Eu tinha me apaixonado por praticamente todos os garotos bonitos com quem tinha falado desde que tinha 12 anos de idade, e eu era péssima em esconder das minhas primas aquele sentimento.

Mas talvez eu não devesse tentar esconder. Talvez a interferência das duas fosse exatamente do que eu precisava.

Depois que terminamos de gravar todos os takes da cena, eu peguei o celular na cadeira e corri para meu camarim. Uma vez a sós, mando uma mensagem de texto para Eva e Sofía.

Eu: Rápido. Me digam por que é uma má ideia ter um caso com Poncho.

Eva é a primeira a responder.

Eva: Porque uma Mulher de Sucesso é completa e feliz por conta própria.

A resposta dela foi tão rápida que eu tive certeza de que minha prima tinha a lista salva no celular, para o caso de precisar usá-la.

Sofía responde logo em seguida.

Sofía: E Mulheres de Sucesso não comem a carne onde ganham o pão.

Eu faço uma careta para o celular.

Eu: Acho que esse não é um item oficial da lista.

A resposta de Sofía é imediata.

Sofía: Duas palavras: Seth Thomas. Mais três: festa da abuela.

Ah, meu Deus, ela tinha razão. eu precisava controlar minha atração por Poncho antes que fizesse algo estúpido, como tinha acontecido com Seth.

Eu havia tido um casinho sem compromisso com Seth Thomas, um de meus colegas de elenco em Sunrise Visa, uma minissérie sobre arquitetos, até que os roteiristas decidiram que nossos personagens deveriam ser um casal. Seth interpretou aquilo como uma autorização para tomar certas liberdades comigo no set. Quando eu sugeri que nós devíamos gravar as cenas de maneira profissional, ele me acusou de ser bipolar — entre outras coisas — e fugiu batendo os pés para o trailer dele.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora