Epílogo

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ANAHÍ

Nós estamos mais uma vez num tapete vermelho, só que agora era um de verdade.

Eu seguro o braço de Poncho enquanto nós atravessamos a passarela, parando para conversar com repórteres e posar para fotos, exibindo o meu vestido vermelho Carolina Herrera e o terno azul-marinho Tom Ford dele.

Aquilo tudo era surreal. Eu não imaginei que Carmen no comando se tornaria tão grande, mas aparentemente uma mulher tentando equilibrar carreira, família e amor era uma história universal. Quem diria?

Bem, eu diria. Pela primeira vez na vida, eu estava enfim conseguindo equilibrar as três coisas com sucesso.

Dava muito trabalho, de um jeito que eu nunca tinha imaginado. Mas, por meio da comunicação aberta — obrigada, Vera! —, da confiança crescente e da prática intencional da vulnerabilidade, eu e Poncho estávamos fazendo planos para o futuro.

Com mais episódios de Carmen à vista, nós tínhamos alugado juntos um apartamento no Brooklyn. Tomás estudava em casa, acompanhado por um time de professores. Poncho tinha participado de uma montagem bilíngue off- Broadway de Cyrano que estava sendo cotada para estrear na Broadway no ano seguinte e era um dos favoritos ao Tony Award de Melhor Ator. Além disso, tinha ganhado o prêmio de villano favorito por seu papel em El fuego de amor. Eu vinha fazendo bom uso das aulas de luta cenográfica ao ser escalada para uma comédia da VibeStudio sobre um esquadrão de super-heróis latinos.

Eu havia começado a frequentar sessões semanais de terapia, que estavam me ajudando a lidar com minha necessidade de aprovação externa e a tendência de usar o álcool como calmante. E Poncho também estava tratando sua ansiedade e o transtorno de estresse pós-traumático causado pela tentativa de invasão de sua casa, seu comportamento tinha adquirido uma leveza que não existia quando nos conhecemos. Embora eu suspeitasse que ter Tomás por perto também ajudasse.

E, quando eu pensei que as coisas não podiam melhorar, Carmen no comando foi indicada ao Globo de Ouro.

Eu me aconchego ao lado de Poncho e suspiro de alegria.

— Te amo — eu digo baixinho, para que só ele escutasse. Nunca me cansava de dizer aquilo.

Poncho sorri para mim com um olhar carinhoso.

Te quiero! — ele responde.

Eu nunca se cansava de ouvir aquilo também.

Atrás de nós, Eva e Sofía também atravessavam o tapete vermelho, segurando as mãos de Tommy para que ele não saísse correndo.

— Você preparou seu discurso? — Poncho murmura.

— Preparei. — Eu sorrio para ele com deboche. — Vou agradecer a seu gêmeo mau, Hector.

Ele ri. O público tinha adorado a revelação no final de Carmen no comando, quando Lorenzo abria a porta do ônibus e encontrava seu gêmeo idêntico perdido, Hector — interpretado por Poncho de barba.

Uma barba muito sexy, na minha opinião.

Naquele momento, um assessor nos chama e nos leva até uma mulher com um microfone. À medida que nos aproximamos, percebemos que a mulher era...

— Kitty Sanchez! — eu digo, em choque.

Kitty abre um enorme sorriso, balançando-se levemente nas pontas dos pés.

— Anahí Portilla! — Ela pega minha mão e me cumprimenta com muita empolgação. — Estou tão animada por conhecer você! Sou uma grande fã.

Eu me esforço para não demonstrar sua surpresa. O quê? Ela era uma ? Então por que havia passado um ano me aterrorizando em sua coluna de fofoca?

— Acompanho sua carreira desde o início — Kitty continua. — E, como uma conterrânea porto-riquenha, queria garantir que você tivesse destaque, para que as pessoas a conhecessem e você conseguisse os papéis. Parabéns pela indicação ao Globo de Ouro. Estou incrivelmente feliz por você.— ela diz com um sorriso sincero.

Era mesmo inacreditável, mas eu não pude evitar sorrir para ela. E, ainda que quisesse perguntar o motivo daquelas matérias e manchetes tão maldosas se ela era uma fã, não digo nada. Porque, naquele momento, eu olho para Kitty e vejo a mim mesma alguns anos antes, lutando para me manter numa profissão que não me valorizava, esforçando-me para fazer minha voz ser ouvida e tornar meu trabalho visível. Na verdade, provavelmente não era Kitty quem escrevia aquelas manchetes. Devia ser um editor ou algum profissional de marketing, que as escolhia com base no que rendia mais audiência. E, de fato, ela tinha me ajudado a me tornar conhecida.

Além do mais, tudo tinha dado certo no final.

Eu dou um abraço em Kitty.

— Obrigada — eu sussurro. — Sei quanto é difícil.

Quando eu a solto, os olhos castanho-claros de Kitty estão cheios de lágrimas.

Ela aponta o microfone para baixo e diz numa voz suave:

— Você é uma atriz incrível, e eu só queria que fizesse sucesso. — Ela funga e se dirige a Poncho. — Você também. Precisamos de mais atores latino conquistando espaço na indústria do entretenimento.

Poncho assente.

— Estamos tentando.

Kitty se recompõe e empunha o microfone de novo.

— Ok, tenho algumas perguntas para uma entrevista de verdade, vocês têm tempo?

Quando tudo termina, Eva e Sofía se aproximam. Tomás larga as mãos delas e segura a de Poncho, fazendo um relatório de todos os atores que ele tinha visto e reconhecido. Ele estava nas nuvens com a quantidade de super heróis que havia encontrado.

— O que houve ali? — Eva pergunta discretamente.

Eu suspiro.

— Aquela era Kitty Sanchez. No fim das contas é uma grande fã.

Sofía solta uma risada.

— Claro que é. — Então ela dá o braço a mim. — Obrigada por nos convidar. Talvez eu saia daqui namorando um dos Vingadores.

Eu sorrio, mas sabia que Sofía estava brincando. Sofía não namorava.

Eva dá o braço a mim pelo outro lado.

— Acabei de ver Rita Moreno. Agora posso morrer feliz.

— Foi um longo caminho até aqui — eu murmuro, relembrando os dias em que assistíamos às coberturas do tapete vermelho na sala da nossa avó. Eu sabia que todos na nossa casa estavam assistindo naquela noite e, embora quisesse ganhar, não me sentiria mal se isso não acontecesse.

Era apenas o começo.

E eu estava feliz de poder dividir aquele momento com as pessoas que eu amo.

Afinal , a vida é uma novela sem roteiro, onde cada dia é um capítulo onde devemos trabalhar pelo nosso final feliz.

FIM


Repostada por Mila em 11/05/24

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora