Capítulo 40

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ANAHÍ

A festa de encerramento das filmagens acontece num espaço para eventos em Chelsea com um ar moderno e industrial. Tubulação aparente, luzes neon rosa e roxas, piso de cimento queimado e um bar redondo no centro, comandado por dois bartenders sobrecarregados de trabalho.

Eu estava odiando aquilo. O ar-condicionado estava no máximo e eu estava congelando em meu tomara que caia vermelho supercurto. Meus pés estavam doendo graças ao sapato de salto agulha e, como eu tinha medo de fazer alguma besteira se bebesse demais, estava virando copos de água com gás em vez de champanhe.

Isso significava que, além de tudo, eu tinha que fazer xixi de meia em meia hora.

Mas eu precisava sorrir e aguentar. Havia jornalistas por todo lado, além de atores de outras produções da VibeStudio e algumas celebridades locais.

Por mais que eu tentasse evitar Poncho, todo mundo queria tirar fotos de nós dois juntos. A série girava em torno da nossa química, onde tínhamos feito um bom trabalho ao convencer a todos que estávamos apaixonados.

Incluindo nós mesmos.

— Outra água com gás. — Lily volta do bar caminhando com seus saltos incrivelmente altos e entrega o copo a mim. — Juro, a única coisa que me faz conseguir usar esse salto são esses gin-tônicas. Quer apostar que daqui a uma hora eu vou estar descalça?

Eu bufo.

— Não quero perder a aposta. — respondo.

Eu vejo Marla caminhando em minha direção. Entrego o copo de volta a Lily.

— Já volto — digo. — Preciso ir ao banheiro de novo.

Antes que eu pudesse me afastar, uma mão firme me segura pelo cotovelo. Eu me viro e Marla abre um enorme sorriso para mim. Com a outra mão, Marla apertava o pulso de Poncho.

— Estão querendo outra entrevista com vocês dois.

Eu disfarço um gemido e tento sorrir.

— Claro.

Marla nos posiciona em frente a um painel coberto com o logotipo de Carmen no comando, que calhava de ficar bem debaixo de uma saída de ar condicionado, então eu tive que cerrar os dentes para evitar bater o queixo. Para minha salvação tinha deixado meu cabelo solto, o que protegia um pouco minhas costas e meu pescoço.

Um animado repórter de um canal de notícias sobre celebridades se aproxima de nós com um microfone. O cameraman liga um refletor e faz um sinal de joinha.

Eu abro o que eu chamava de meu sorriso de tapete vermelho — grande o suficiente para deixar claro que eu estava sorrindo, mas não tão grande que me impedisse de falar — e tento ignorar o excesso de luzes e o ar congelante.

O entrevistador faz as mesmas perguntas que nós já tínhamos respondido inúmeras vezes naquela noite.

O que o público pode esperar de Carmen no comando?

Qual a diferença entre trabalhar em séries e em novelas?

O que a série representa para vocês enquanto atores de origem latina?

E, claro, Como foi filmar as cenas românticas juntos?

Nessa última, eu brincava:

— É um trabalho difícil, mas alguém tem que fazer.

A mesma resposta todas as vezes. Com o mesmo tom sarcástico em todas elas. Eu não ligava.

Poncho, aquele idiota, estava mais lindo do que nunca, usando um terno cinza-chumbo ajustado e o cabelo cacheado revolto. Ele respondia às perguntas com seu jeito tranquilo de sempre, mas eu sabia que ele estava morrendo por dentro.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora