Capítulo 1

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ANAHÍ

ABANDONADA!

A palavra reluz na minha na frente em letras amarelas brilhantes, estampada logo abaixo de uma foto meu do rosto. Em maiúsculas, claro, e logo em seguida:

Detalhes exclusivos sobre a humilhante separação da estrela de soap operas Anahí Portilla e do playboy e rock star Diego González Boneta.

- Quem pendurou isso aqui? - pergunto , tapando as palavras com a mão, como se o gesto pudesse fazer com que elas desaparecessem, como se toda aquela provação constrangedora pudesse ser escondida com tamanha facilidade.

Tinha sido bem difícil desviar dos tabloides com a minha foto estampada em lugares como o supermercado e o aeroporto, mas eu achei que estaria segura na cozinha da minha avó, no Bronx.

Só que não.

Lá estava mais uma daquelas capas detestáveis, presa na porta da geladeira com ímãs no formato de uma panela de paella e da bandeira de Porto Rico.

- Nós pedimos para a abuela tirar isso daí, mas ela disse que a foto era boa - minha prima Eva respondeu atrás de mim.

- Porque ela é boa! - a voz da abuela Esperanza eleva-se com indignação, vinda da pia da cozinha.

Ela seca as mãos em um pano de prato e se junta a mim em frente à geladeira.

- Boa? -]pergunto, apontando para a capa. - Eu pareço um cervo iluminado pelos faróis de um carro, vendo um filme com todos os meus términos passar diante dos meus olhos.

- ¿Que qué? Não...Você está linda, mas precisa caprichar mais no hidratante. - abuela dá um tapinha na minha bochecha.

Eu ignoro a crítica sobre sua rotina de skincare e olho mais de perto a capa da revista.

Um paparazzo havia tirado a foto num dos raros dias de chuva em Los Angeles, no momento em que eu saía do salão de beleza onde tinha ido fazer a sobrancelha.

A manchete -ABANDONADA! - combinada com aquela imagem - olhos lacrimejando e cabelo desarrumado - dava a entender que Diego tinha me deixado porque eu estava horrível, ou que eu estava horrível porque Diego tinha me deixado. De uma forma ou de outra, aquilo era ridículo e incrivelmente ofensivo.

E estava em bancas de jornais e geladeiras por toda parte, para que todos vissem.

-Você devia ficar feliz por ter uma foto atual na porta da geladeira - minha outra prima, Sofía , interrompe meus pensamentos, com um calafrio exagerado, segurando o bule de café. - A minha mais recente é do segundo ano do ensino médio, quando eu ainda usava franja e aparelho nos dentes.

- Aquela foto também é boa - Esperanza protesta.

A geladeira estava coberta com fotos dos doze netos de Esperanza e Willie Rodriguez em diferentes fases da infância - ainda que já fossemos todos adultos -, presas por uma coleção de ímãs reunidos ao longo de toda uma vida, vindos de vários lugares do mundo.

Todos os netos tinham descendências diferentes, e eu sempre pensei que a variedade de tons de pele na porta da geladeira da minha avó poderia ser usada como uma paleta de bases para maquiagem.

Eu, Eva e Sofía temos todas, cabelos castanhos, mas a semelhança para por aí. Sofía, cujo pai era italiano, tem olhos castanho-claros, um tom de pele bege quente e cabelo liso. Eu tenho a pele de um tom marrom dourado, olhos azuis e um cabelo ondulado e sedoso que eu normalmente uso liso, para meus papéis. Eva, cuja mãe tinha nascido em Barbados, é a mais alta que nós e naturalmente bronzeada, com olhos cor de mel. O cabelo cacheado está na altura dos ombros, resultado de um recente corte pós-divórcio.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora