Capítulo 19

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ALFONSO

Eu não sabia dizer o que tinha dado em mim para aceitar o convite de Anahí.

Quer dizer, eu sabia — era puro, e imprudente, desejo, à toda depois de um dia todo dançando com ela —, mas mesmo assim deveria ter declinado. Havia várias razões pelas quais eu precisava ser cuidadoso ao me encontrar com colegas de trabalho em lugares privados.

Não que eu achasse que Anahí tinha segundas intenções. Acreditava que ela queria ensaiar. O desempenho de nós dois havia claramente melhorado desde que tínhamos começado a passar mais tempo juntos, mas eu ainda temia que alguém descobrisse o que andávamos fazendo. A situação no supermercado foi ruim o suficiente. Ir ao quarto de hotel dela depois do expediente era coisa de amador; eu estava praticamente pedindo para ser pego.

E ainda assim, aqui estou eu, à porta do quarto dela.

Eu poderia tentar me convencer de que eu estava ali para aprimorar a nossa atuação e, até certo ponto, era verdade. Mas, para além disso, eu só queria passar um tempo com ela.

Não adiantava ficar parado no corredor, onde eu podia ser visto com mais facilidade. Então ergo meu punho e bato.

Um segundo depois, a porta se abre, revelando o rosto sorridente de Anahí.

— Oi — ela diz radiante. — Entra.

Eu a sigo para dentro da suíte, que era exatamente igual a minha — uma pequena cozinha à direita, levando a uma sala de estar com um quarto separado ao lado. Não era nada chique, mas era funcional e espaçosa o suficiente para passar alguns meses.

O lugar está silencioso, eu tinha plena consciência do fato de que estávamos sozinhos ali. A maior parte da interação entre nós se dava diante de uma plateia, ou com a possibilidade de que alguém nos interrompesse. Mas agora somos só os dois.

E há uma cama logo depois daquela porta...

Não pense na cama, cabrón. Não é por isso que você está aqui.

— Eu imaginei que você ainda não tinha jantado, por isso pedi um prato de antepastos — Anahí indica uma bandeja com frios, queijo em cubinhos e azeitonas em cima da mesa de jantar redonda no canto. Há uma garrafa de água com gás San Pellegrino dentro de um balde com gelo. — Não pedi vinho — ela acrescenta depressa quando viu que eu estava olhando —, porque...

— Está com medo que eu derrube em você? — Eu brinco para aliviar a tensão que havia se instalado.

Funciona. Ela ri e balança a cabeça.

— Sei que foi um acidente. Não. Não tem vinho porque... hum... temos que acordar cedo amanhã.

Eu não acreditava que o motivo era aquele, mas não a pressiono. Em vez disso entrego a ela uma pequena sacola de presente.

— O que é isso? — Anahí espia dentro da sacola, então solta uma risada de surpresa. — Está de brincadeira comigo?

Eu sorrio quando ela tira uma cápsula de Café Bustelo de dentro da sacola.

— Para repor o café que eu derramei — eu explico. — Achei que já estava na hora.

Anahí coloca a cápsula de café de volta na sacola junto com as outras e abre um sorriso radiante para mim.

— Não precisava, mas obrigada mesmo assim. Vou colocar na cozinha.

Quando ela sai, eu me sento à mesa e sirvo dois copos de água com gás para nós.

Anahí volta e se senta diante de mim.

Depois de colocar um pedaço de presunto Parma e queijo de cabra no meu prato, eu abro o roteiro.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora