Capítulo 18

125 9 0
                                    

ANAHÍ

Depois de uns dias, eu finalmente consegui tomar coragem e pedi ajuda a Poncho para praticar meu espanhol. Eu havia treinado um pouco com Miriam e Peter, mas tinha sido difícil pedir a Poncho. Não que eu achasse que ele fosse dizer não — a comunicação entre nós tinha melhorado substancialmente depois da conversa na academia —, mas porque ainda me envergonhava de não dominar a língua.

Pensei que iríamos praticar em um dos camarins, por isso fiquei surpresa quando ele sugeriu que fôssemos a um supermercado perto do hotel numa noite depois das filmagens.

Era um desses grandes supermercados de Manhattan com prateleiras altas, corredores apertados e comidas chiques. Poncho alegou que de fato precisava fazer compras, mas eu não achava que ele precisava tanto assim do refrigerante de gengibre e da manteiga de amendoim que ele colocara na cesta.

Nós vamos disfarçados. Poncho usa outra camisa estilo guayabera, bermuda cargo e sandália de couro, além de um boné dos Yankees e óculos escuros que ele tirou assim que entramos na loja. Eu visto uma legging, camiseta branca lisa, tênis e estou com o cabelo preso num coque bagunçado. Na minha imaginação, nós parecíamos um belo casal de latinos ricos, fazendo compras para um jantar que cozinharíamos juntos no meu apartamento do Upper East Side. Ele poderia ser um médico e eu, talvez... uma instrutora de pilates?

Epa, só um segundo. Por que eu não podia ser a médica? E Poncho, quem sabe... um personal trainer. Era fácil — e muito delicioso — imaginá-lo demonstrando a execução certa dos exercícios.

Enquanto nós percorremos os corredores do mercado, eu me esforçava para parar de olhar para ele com admiração e parar de tentar imaginá-lo em diferentes papéis. Ele estava ali para me ajudar, só isso.

Bem, e talvez para comprar manteiga de amendoim.

O problema é que ele é muito bonito, mesmo com aquela roupa de pai latino rico.

Eu não deveria ter ido encontrá-lo na academia do hotel. E definitivamente não deveria ter usado meu melhor top de ginástica, aquele que deixava meus seios definidos e empinados, em vez de causar a impressão de peitos achatados. Sabia que eu estava pegando pesado, mas a reação de Poncho tinha valido a pena.

Pelo menos do ponto de vista pessoal. Do profissional, eu estou decepcionada comigo mesma. Eu não devia querer parecer atraente para ele.

Além disso, a minha reação ao ver Diego Boneta na TV não foi nada atraente. Eu tinha medo de voltar à sala de ginástica do Hotel Hola Mundo! e descobrir que havia quebrado a televisão. E, quando eu pensava na forma como havia me aberto com Poncho, sentia a vergonha percorrer meu corpo. Ele era um bom ouvinte, alguém com quem era fácil conversar. Muito diferente do personagem que interpretava — Poncho era mais calado e muito mais reservado que Lorenzo —, mas algo nele provavelmente se conectava com Lorenzo, porque sua facilidade em assumir a postura sexy do personagem era impressionante.

Ele ficava muito gostoso correndo com aquele short soltinho e com os braços fortes à mostra. Graças às cenas entre Carmen e Lorenzo, eu sabia que ele escondia belos músculos debaixo do figurino, mas vê-los à mostra tinha valido a espera.

¿Y esto? — Poncho segura um pacote de bolachas de água e sal.

Eu suspiro e desvio o olhar da bunda dele.

Galletas. Eu disse que já sei o nome das comidas.

Ele balanço o pacote na minha frente e pede, num tom paciente:

Usa la palabra en una oración completa.

Uma frase completa. Certo.

— Hum... me gusta comer galletas con... queso?

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora