Capítulo 35

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ALFONSO

A segurança da VibeStudio era boa em manter os fotógrafos do lado de fora dos portões do estúdio, mas, como o prédio estava localizado no Queens, com muitas vias de mão única, havia diversas ruas para serem ocupadas.

A multidão ao redor dos estúdios da VibeStudio tinha crescido. Sempre havia um grupo pequeno -mas constante- de homens sentados em cadeiras dobráveis, cercados por barricadas policiais. Depois da Conferência de Arte Latina, porém, o grupo tinha triplicado de tamanho. Agora que o meu "escândalo" tinha vazado, esse número tinha dobrado em um dia.

Quando o meu carro passa pelos portões, os paparazzi gritam e acenam, disparando os flashs de suas câmeras gigantescas. Eles gritam perguntas sobre mim e Tomás, sobre a mãe do menino, sobre Anahí, sobre o boato ridículo de um triângulo amoroso e até sobre a política de Porto Rico. Eu de fato tinha um monte de opiniões a respeito desta última, mas não cairia na armadilha.

Dentro do SUV, eu afundo no banco de trás e tento ignorar os fotógrafos, imensamente grato pelo vidro escuro do veículo. Eu tentei fechar os olhos para não vê-los, mas foi ainda pior — estar com os olhos abertos fazia com que me sentisse mais no controle. Se alguma coisa fosse acontecer, eu pelo menos estaria ciente de antemão.

Sendo racional, eu sabia que não podiam me machucar. Provavelmente. Quase com certeza. Ok, eu não acreditava muito naquilo. Toda aquela atenção por parte da mídia havia liberado a minha paranoia que eu mantinha sob controle e, toda vez que eu tentava me convencer a deixar aquilo para lá, meu cérebro me lembrava de que alguém já tinha tentado me machucar. Então, não, eu não conseguia achar que eu estava seguro, porque quando a polícia finalmente encontrou o autor da tentativa de invasão, o homem estava com uma faca de caça.

Além da polícia, meu pai era a única pessoa que sabia daquele detalhe. E eu esperava que continuasse assim.

Enfim pude fechar os olhos quando nós pegamos a rodovia, e não os abri de novo até que o SUV estivesse estacionado diante do apartamento onde minha família estava hospedada.

Eu esperei dentro do carro enquanto Drew — meu novo amigo guarda costas, uma cortesia de Marla— checava a calçada e o hall de entrada do prédio. Eu imaginei que a barra estivesse limpa, porque alguns momentos depois Drew estava voltando.

Eu saio do SUV e nós entramos no prédio. E, ainda que me sentisse meio estranho com tudo aquilo, pedi a Drew que esperasse no lobby e garantisse que ninguém entraria às escondidas.

O meu guarda-costas não pareceu achar nada daquilo estranho, porque apenas disse "Deixa comigo" e assumiu o posto ao lado da porta.

Naquele trabalho, Drew provavelmente já tinha visto coisas em que eu não queria nem pensar — meus pesadelos já eram ruins o suficiente.

Lá em cima, eu convoco o meu pai e os meus avós para uma reunião familiar enquanto Tomás, que está acordado muito além de sua hora de dormir e estava à toda, escala todos os móveis da sala.

No veo cuál es la gran cosa — meu pai diz pelo que devia ser a décima vez.

Eu cerro os dentes e tento, de novo, explicar porque os jornalistas de fofoca tentarem jogar meu nome na lama era uma grande coisa.

— Eu quero que Tomás tenha uma vida normal — Eu começo a dizer em espanhol, mas abuelito Guto me interrompe.

— O que é normal, afinal de contas? — Abuelito dá de ombros e gesticula para meu garoto enérgico. — Ele está ótimo. As crianças de hoje em dia crescem com uma porção de novas preocupações que a gente não tinha. Essa é só mais uma.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora