Capítulo 39

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ANAHÍ

Com isso, o último episódio de Carmen no comando estava completo.

Eu solto o ar demoradamente, espalmando as mãos no meu tórax. Minhas pernas tremiam e eu queria chorar, mas ao meu redor o elenco e a equipe de produção estavam comemorando.

Alguns metros adiante, no cenário que representava o interior do ônibus da turnê, Poncho se virou para mim. Era difícil olhá-lo nos olhos, considerando que pouco antes ele estava com o rosto entre as minhas pernas e nós quase não estávamos nos falando.

Eu havia ficado surpresa quando os roteiristas incluíram a cena de sexo oral, mas a verdade era que, depois de dar um jeito na vida de Lorenzo, Carmen merecia um agrado no ônibus da turnê. Tinha sido doloroso ler aquilo, pois eu sabia por experiência própria como seria e como Carmen deveria reagir.

Mas tudo tinha chegado ao fim.

Eu não podia esperar para dar o fora dali.

Quando Poncho levanta a mão para o nosso ritual de fechamento pós-cena, o canto dos olhos dele estavam tensos, cheios de sentimentos não expressados. Eu me recusei a olhar com mais atenção. Eu não me importava mais com o que ele sentia.

Não, aquilo não era verdade. Me importava, sim. Só que eu não conseguia desligar meus sentimentos tão facilmente, como se fosse uma torneira, e eu estava tentando me fortalecer para o que eu faria mais tarde. Aquela linha estava implorando para ser traçada.

Poncho ainda estava esperando, então eu ergo a mão e bato na dele, num bate aqui desanimado. O último que nós trocaríamos.

Antes que eu pudesse evitar, eu seguro o cotovelo dele e me inclino em sua direção.

— Me encontre no meu quarto — digo a ele, esforçando-me para manter a voz firme. — Quando voltar ao hotel, hoje à noite.

Ele me olhou por um longo tempo. Quando eu pensei que meu convite seria recusado, ele assentiu.

Sem dizer mais nada, eu coloco um sorriso no rosto e me viro para a festa. Aceito uma taça de champanhe que alguém me ofereceu e, agradecida, virou-a num gole só. Abraço todo mundo e finjo estar feliz, mas por dentro, estava arrasada.

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O dia tinha sido quente e longo, com a particularmente irritante umidade típica de Nova York. Quando eu volto ao hotel à noite, tomo uma ducha e coloco um vestido fresquinho que acentuava meus melhores atributos.

Eu precisa me banhar para tirar o estresse do dia e, ainda que eu soubesse que aquilo era uma besteira, queria estar linda quando confrontasse Poncho.

Porém, quanto mais eu esperava, mais eu sentia meu estômago dar um nó. Eu detestava confrontos, detestava magoar as pessoas. Mas estar naquele limbo com Poncho durante as filmagens do episódio oito tinha acabado comigo. Passar de estar apaixonada por ele para só se conectar por meio dos personagens tinha seu preço, e a única coisa em que eu podia pensar em fazer era manter os limites tão rígidos quanto possível.

Mulheres de Sucesso são completas e felizes por conta própria.

Quando eu escrevi o Plano da Mulher de Sucesso, não acreditava nisso. Mas agora tinha entendido que ser completa e feliz por conta própria era o único jeito de fazer com que as outras duas coisas — ser reconhecida pelas razões certas e ser uma jefa — acontecessem.

Eu não sabia o que faria depois daquilo, mas, independentemente do que fosse, seria em meus próprios termos. Por enquanto, pararia de me iludir e voltaria para meu apartamento em Los Angeles, onde não havia nenhuma maldita lembrança de Poncho. Colocaria a cabeça no lugar e trabalharia enquanto esperava a reação do público a Carmen no comando. Sem namoros. E então... veria.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora