Capítulo 14

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ANAHÍ

Assim que Ilba nos libera, Poncho troca um rápido "bate aqui" comigo e desaparece.

Exausta, eu recolho o suéter e o celular da minha cadeira. Quando ligo o aparelho, a tela se enche de mensagens de texto do grupo Primas Poderosas.

Eva: Não faça suspense! Como foi o beijo?

Sofía: Aposto que foi estranho.

Eva: Provavelmente, mas mesmo assim quero saber como foi beijar EL LEÓN DORADO.

Sofía: Tenho certeza de que EL DUQUE DE AMOR beija muito bem.

Eva: Certamente melhor que EL MATADOR.

E por aí foi, com as duas especulando sobre as habilidades bucais de Poncho trocando emojis relacionados a seus muitos papéis.

Com um resmungo, eu saio à procura de um café enquanto leio as mensagens. Depois de pegar mais uma xícara, eu me dirijo ao camarim para responder.

Eu: Deus me livre de vocês duas...

Sofía: Você apareceu!

Eva: Foi incrível?

Sofía: Foi horrível?

Eu: Foi meio...

Nossa, como eu poderia descrever?

Eu: Foi... ok.

Depois de uma pequena pausa, durante a qual eu imaginei minhas primas gritando de indignação, a mensagem de Sofía surge primeiro na tela.

Sofía: OK?

Eva: Ok?????

Sofía: O QUE VOCÊ QUER DIZER COM "OK"?

Eu esfrego a testa e tomo um grande gole de café antes de responder.

Eu: Foi tudo bem no ensaio, mas não conseguimos passar a cena até o final, e tivemos que filmar mesmo assim, e aí......

Sofía: E AÍ O QUÊ?

Eu: E aí a diretora nos fez repetir a porra do take 17 vezes.

Eu finalizo com um emoji de caveira.

Eva: AI MEU DEUS

Sofía manda dezessete emojis de beijo.

Eva: Isso é muito!

Eu: Nem me diga! Meu rosto tá doendo!

Eva: Por que foi só ok?

Era difícil colocar aquilo em palavras. Ilba também não soubera explicar durante as filmagens; ela só sabia que não estava funcionando. Ofelia - a primeira auxiliar de direção - ficara por ali em volta de nós dois, interrompendo de vez em quando para dar conselhos e sugestões. Ela deve ter perguntado se eu estava me sentindo "confortável" umas cinquenta vezes — claramente orientada por Vera.

E eu estava, pelo menos nas primeiras dez vezes, mais ou menos. Tão confortável quanto era possível, considerando que estava com a cara enfiada na de outro ser humano em uma sala cheia de gente. Poncho certamente não era o pior cara que eu já tinha beijado para um papel. O cheiro dele era maravilhoso, a boca macia. E eu estaria mentindo se dissesse que não tinha gostado de estar nos braços dele Mas, ainda assim... faltava alguma coisa... na cena. Ela se peguei pensando nas instruções de Vera sobre a importância da comunicação.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora