Capítulo 9

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ANAHÍ

Eu demorei para pegar no sono depois do encontro com Poncho no elevador, mas no fim acabei conseguindo cochilar. Quando o alarme soa na manhã seguinte, eu aperto a soneca apenas duas vezes. E amaldiçoo Ronnie e seu open bar num domingo à noite.

Na festa, eu atualizei Eva e Sofía sobre o comportamento de Poncho, e as minhas primas me asseguraram que eu não deveria levar o comportamento recluso dele para o lado pessoal. Eva tinha até pesquisado alguns sites de fofoca em espanhol, e todos confirmavam a fama de Poncho de ser um bom colega de trabalho, mas também meio estrelinha.

Se por um lado eu não podia negar o talento dele para atuação, a esquete de desaparecimento constante dele era um pouco irritante. Porém, quando eu conseguia falar com Poncho — como no elevador ou depois de ele ter derrubado café em —, ele parecia normal. Prático, um pouco desajeitado, doce e agradável. E muito sexy. Qualquer que fosse o perfume que ele usasse também ajudava, e eu nem gostava tanto assim de perfumes masculinos.

Mas, o pior era que, embora a atuação de nós dois fosse boa, eu estava convencida de que nós poderíamos extrair mais dos personagens se simplesmente conversássemos por mais do que dois minutos.

Antes de gravarmos a cena do beijo, eu e Poncho fomos orientados a comparecer a uma reunião com a diretora do episódio, Ilba Montez, e com a coordenadora de intimidade, Vera Parks. Marquita Arroyo, a showrunner, também estaria presente.

Como ainda não havíamos vestido o figurino, eu estava usando um short rasgado, uma camiseta branca e tinha prendido o cabelo num rabo de cavalo. Poncho tinha escolhido uma calça jeans desbotada que fazia com que suas pernas parecessem ter quilômetros de extensão e uma camisa bege estilo guayabera, como as que o meu avô usava.

Poncho não tinha o direito de ficar tão sexy usando uma camisa de velho, mas ele aparentemente não recebera o memorando.

Nós cinco nos encontramos numa pequena sala de reuniões, todos tomando cafés em copos descartáveis.

Vera não era o que eu esperava. Em primeiro lugar, é jovem. Mais nova que eu, pelo menos, talvez com uns vinte e poucos anos. Tem o cabelo liso e escuro, a pele clara e os impressionantes olhos verdes. Está usando calça cargo verde militar e duas regatas surradas sobrepostas. Mas, quando eu a olhei nos olhos, fui tragada pela intensidade do que vi. Quando Vera olhava para mim, era com toda a sua atenção. Seu sorriso era caloroso e genuíno, e eu instantaneamente me senti à vontade com ela.

— Oi, Anahí — Vera diz, apertando a minha mão. — É um enorme prazer conhecê-la.

Apesar de ser praticamente madrugada e das minhas preocupações a respeito de Poncho ainda martelando minha cabeça, eu me senti relaxar.

— Obrigada, Vera. Estou animada para trabalharmos juntas.

Vera vai cumprimentar Poncho, e Ilba Montez assume seu lugar diante de mim.

Ilba era uma mulher baixinha, de cerca de 50 anos, com uma luminosa pele marrom, grandes olhos castanhos e sorriso fácil. Seu cabelo preto ondulado era curto e ela estava vestida de forma bem casual, com calça jeans e uma camiseta do Doctor Who.

— Minha esposa e eu adoramos sua atuação em O esquadrão do glamour — Ilba confessa quando se apresenta. — Sou uma grande fã de soap operas. Acho a forma como contam as histórias muito criativa. Espero que elas voltem à moda.

— Eu também — eu respondo com uma risada, mas Ilba balança a cabeça.

— Não, essa série vai alavancar sua carreira. Você vai ver.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora