Capítulo 27

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ALFONSO

Na semana seguinte, eu passei cada minuto em que não estava trabalhando ao lado de Anahí. Não que houvesse muitos, uma vez que o sétimo episódio exigia longas jornadas e múltiplas locações, mas nós conseguimos encontrar um tempinho aqui e ali.

Eu sabia que estava correndo riscos, me esgueirando para o quarto dela num hotel onde a maioria dos outros atores e alguns altos funcionários da equipe também estavam hospedados, mas não conseguia me conter.

Nós dois também nos víamos no trabalho, é claro, mas era diferente. Tomávamos o cuidado de não fazer nada que levantasse suspeitas — nada de olhares acalorados ou encaradas mais prolongadas —, mas mesmo assim Ofelia às vezes elogiava a nossa parceria, e eu tinha medo de que a nossa primeira assistente de direção estivesse começando a desconfiar de alguma coisa.

Éramos ainda mais cuidadosos perto de Vera, que tinha o estranho dom de se conectar com o nosso estado emocional.

Fingir que eu não estava locamente enamorado por Anahí era o papel mais difícil que eu já tinha interpretado. Mais difícil que a ocasião em que eu fiz o clone malvado de mim mesmo.

Depois de passar uma semana em uma locação externa, era bom estar de volta aos estúdios da VibeStudio na sexta-feira. Eu vinha pouco a pouco começando a me sentir à vontade naquele lugar.

Eu estava no meio das filmagens da participação de Lorenzo nos talk shows quando topo com Anahí, que conversa com Nino e Lily no carrinho de lanches.

Nino acena para mim.

— Oi, Poncho. Você vai à conferência hoje à noite?

Eu lanço um olhar questionador para Anahí.

— Que conferência?

— A Conferência de Artistas Latinos — Nino conta. — É um grupo novo, vão fazer o primeiro evento grande hoje à noite.

— Nós três vamos ser homenageados entre as "30 personalidades com menos de 30 anos" na categoria Artes Cênicas — Lily explica.

— Eu tecnicamente já tenho 30 — Anahí admite. — Acha que vão me expulsar do palco quando descobrirem?

— Está tudo bem, vieja — Lily diz com um sorriso. — Se tirarmos a média entre a idade de nós três, estamos com uns vinte e poucos.

— Graças a mim — Nino brinca. — E então, Poncho, quer ir com a gente? Temos entradas , o que significa open bar!

Anahí olha para mim.

— Não precisa ir, se não quiser — ela diz, baixinho. — Sei que não é muito a sua praia.

Não era mesmo a minha praia, mas apoiar Anahí tinha se tornado a minha praia ultimamente. E, na minha opinião, o melhor jeito de demonstrar apoio era me fazendo presente, como os meus pais tinham feito durante toda a minha vida.

— Claro, vou sim — eu respondo.

Anahí arregala os olhos.

— Sério?

— Maravilha. — Nino sorri. — Vou levar minha mãe. Ela é doida para conhecer você. Ela adorou El duque de amor.

Eu senti um peso no estômago, como se fosse uma premonição, mas era só ansiedade. Então notei o sorriso de gratidão de Anahí e soube que podia encarar aquele desconforto apenas para vê-la feliz.

Tomei conhecimento de que a conferência seria num espaço para eventos perto de Hudson Yards. Terminadas as filmagens do dia, todos nós fomos para o Hotel Hola Mundo! para nos arrumar.

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora