Capítulo 32

98 6 0
                                    

CARMEN NO COMANDO

______________________________

EPISÓDIO 7

Cena: Lorenzo e Carmen conversam depois das aparições dele em talk shows.

EXT: Degraus da frente da casa dos Serranos, em Spanish Harlem — NOTURNA

______________________________

O céu estava escuro, iluminado pelo brilho amarelo das luzes da rua, e fazia silêncio na vizinhança. Lorenzo se sentou ao lado de Carmen nos degraus da entrada da casa dos pais dela. Sentados muito perto um do outro, seus ombros se tocavam.

Eles tinham acabado de chegar, depois de um dia atribulado em que Lorenzo expusera todos os seus segredos em uma série de programas de televisão. Ele admitira que lutava contra a depressão e a ansiedade, que abusava das bebidas alcoólicas e que tudo aquilo o tinha levado a se afastar das pessoas, a terminar seu casamento e a cancelar a turnê.

— Você se saiu muito bem hoje. — A voz de Carmen vibrava com um orgulho genuíno, e ela curvou os lábios num sorrisinho secreto. Um que só ele conhecia.

— Obrigado. — Lorenzo soltou o ar e apoiou os cotovelos nos joelhos. — Acha que alguém vai querer comprar meu novo álbum depois de tudo isso?

Carmen colocou as mãos nas costas dele, massageando-a em movimentos circulares firmes, mas delicados.

— Acho que sim. Vulnerabilidade é sexy.

— Vulnerabilidade é exaustivo.

Depois de uma pausa, ela disse em voz baixa: — Eu nunca desconfiei.

Carmen estava se referindo a tudo que ele tinha confessado.

Lorenzo fechou os olhos.

— Eu não queria que você soubesse.

— Mas eu deveria ter percebido que tinha alguma coisa acontecendo. Eu deveria ter tentado ajudar...

— Não havia nada que você pudesse fazer.

— Eu queria ter tentado mesmo assim.

Lorenzo levantou a cabeça e dirigiu a ela um sorriso de pesar.

— Eu não facilitei as coisas.

Ela ergueu um cantinho da boca em resposta.

— Não. Mas eu também não.

O momento parecia permitir, então ele pegou a mão dela, entrelaçando os dedos dos dois, e descansou as mãos unidas na coxa de Carmen.

— Nós dois cometemos erros, Carmencita.

Ela deitou a cabeça no ombro dele.

— É verdade.

Ele engoliu em seco e olhou para o céu à procura de respostas, então voltou a olhar para ela. E arriscou: — E o que vamos fazer agora?

Ela ergueu o queixo e o olhou nos olhos. Em seguida, com a mão livre, segurou o rosto dele e o beijou.

O beijo era lento, lânguido. Como se eles tivessem todo o tempo do mundo. Como se não estivessem sentados nos degraus da entrada da casa dos pais dela, onde qualquer um poderia vê-los. Como se eles fossem duas pessoas normais...

Como se a família dele não estivesse a caminho de Nova York naquele minuto, como se eles pudessem controlar a própria vida, como se não estivessem cercados pela equipe de produção, como se cada toque e cada respiração naquele beijo não tivessem sido ensaiados nos mínimos detalhes...

Quando eles se separaram para tomar ar, Lorenzo olhou para Carmen com um ar de dúvida.

— Não sei o que vamos fazer — ela respondeu com a voz rouca. — Mas o fato de você se abrir, deixar as pessoas entrarem, mesmo que seja só para dividir o fardo, é um começo. Você não está sozinho, mi amor.

A tensão que havia nele se dissipou. Ele queria beijá-la de novo, mas aquilo não estava no roteiro. Então apenas assentiu para ela e se pôs de pé. Ajudou-a a se levantar e, juntos, subiram os degraus de mãos dadas.

— Corta! Vamos fazer de novo!

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora