Capítulo 33

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ANAHÍ

Tranco a porta do trailer atrás de mim e deixo meus ombros cansados caírem. Ficar longe de Poncho estava acabando comigo.

Eu tinha dado a deixa e ele tinha aceitado, como eu sabia que faria. A Antiga Anahí teria ligado para ele diversas vezes nos últimos dias, mas a Nova Anahí estava decidida a seguir seu Plano da Mulher de Sucesso.

Talvez eu tivesse que convocar as Primas Poderosas para me ajudar a me manter firme, mas às vezes as mudanças levavam tempo mesmo.

Vou até o espelho e começo a tirar a maquiagem com um lenço umedecido, tomando cuidado principalmente com a área dos olhos. Abuela Esperanza tinha me mandado um artigo sobre como os lenços removedores de maquiagem faziam mal, e, ainda que eu quisesse debochar daquilo, a informação ficou grudada na minha mente.

Quando chego ao batom, eu paro. Uma parte de mim não queria limpar a sensação dos lábios de Poncho nos meus. E se aquele fosse o único jeito de estar perto dele? Só faltava gravar mais um episódio, e a segunda temporada ainda não estava garantida.

Sangana. Eu estava agindo como uma adolescente que tinha prometido nunca mais escovar os dentes depois de beijar pela primeira vez, não como a porra de uma Mulher de Sucesso que era completa e feliz por conta própria.

Que se dane tudo aquilo. Eu esfrego minha boca com um lenço umedecido, fazendo mais força do que o necessário.

Quando terminou, encaro meu reflexo no espelho. A minha boca está um pouco inchada e vermelha por causa da fricção. Eu podia adivinhar o que minha avó diria, e imagino Esperanza colocando um potinho de hidratante labial na minha bolsa sem que eu visse.

A imagem me faz sorrir, e eu me agarro a isso enquanto tiro o figurino de Carmen e visto a minha própria roupa. O dia da festa de abuela Esperanza estava chegando e, ainda que eu tivesse perdido qualquer esperança de que Poncho fosse comparecer — especialmente agora que eu sabia o quanto ele odiava multidões —, ainda assim eu estava ansiosa. Eu e os meus primos tínhamos nos esforçado para fazer um evento que ficaria para sempre na memória da família Portilla.

Eu ouço uma batidinha leve na porta e abro para deixar Nino e Lily entrarem. Nós três tínhamos combinado de nos encontrar no meu trailer, que era maior, antes de seguirmos para uma taquería para jantar e tomar uns drinques.

— Está pronta? — Nino pergunta.

— Quase. Fiquem à vontade.

Eu passo um pouco de hidratante no rosto, enquanto meus amigos esperavam no sofá vendo vídeos do cachorro de Nino. Eu estava terminando de passar um gloss labial quando ouvimos outra batida na porta.

Eu olho para Nino e Lily através do espelho.

— Vocês chamaram mais alguém?

Eles fazem que não com a cabeça, e eu dou de ombros e sigo para abrir a porta. Devia ser um assistente de direção com alguma atualização no roteiro. As mudanças feitas pelos roteiristas de Carmen eram mais numerosas que as trocas de roupa de Lady Gaga em premiações.

Eu abro a porta e tenho um engasgo involuntário. Poncho está parado nos degraus de metal.

Ainda que tenhamos acabado de nos encontrar no set, vê-lo ali causou uma reviravolta no meu estômago, uma combinação de desejo e saudade. Ele estava lindo, com o rosto recém-lavado, e usava uma camiseta branca básica e calça jeans. Mas não era só o sex appeal de Poncho que me fazia engasgar. Era a identificação, a surpresa, aquela sensação de aí está você, eu estava à sua espera.

Mas eu não sabia que ele vinha; não achava que ele apareceria. Só que agora ele está ali. E o quê mesmo ele tinha falado mais cedo? "Onde você estava?"

Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora