Mise-en-scène AyA - Adapt [Finalizada]

Capítulo 31

ALFONSO

Dez minutos. Era tudo o que eu queria. Dez minutos a sós com Anahí.

Mas, quando bati à porta do camarim dela no trailer duplo, não obtive resposta.

Nós estávamos gravando uma cena externa, na frente do prédio que servia de cenário para a casa dos Serranos, em Spanish Harlem, e nos preparávamos para filmar a cena de beijo que havíamos ensaiado com Vera uma semana antes. Aquele seria o beijo mais profundo que nós dois trocaríamos diante das câmeras Depois de tudo o que havíamos feito juntos, tínhamos assegurado a Vera que estávamos confortáveis em levar as coisas para aquele nível. Pelo bem da série, claro.

Só que isso tinha sido antes da história da capa da Buzz Weekly. Antes de eu me convencer de que precisava de um tempo longe de Anahí. Porém, eu só queria uma chance de falar com ela antes que as gravações começassem. Fazia quatro dias que não nos víamos. Comigo gravando no estúdio musical e ela nos cenários da VibeStudio, não tínhamos nos cruzado.

Mas eu pensava em Anahí. Às vezes.

Ok, muito.

Ok, o tempo todo. Eu não conseguia tirá-la da minha cabeça. Ela aparecia nos meus sonhos, em minhas lembranças enquanto eu estava na academia e em meus pensamentos enquanto gravava as músicas de Lorenzo.

A produção me colocou em outro hotel por uns dias, para que eu pudesse me afastar um pouco do circo da mídia e para ficar mais perto do estúdio musical além das pequenas boates do centro da cidade onde faria os meus takes cantando ao vivo como Lorenzo. Depois de passar pelas agonizantes entrevistas para assegurar que éramos "apenas bons amigos" e enfrentar a crescente presença de fotógrafos no caminho até os estúdios da VibeStudio e no entorno do hotel, uma mudança de ares deveria ter me deixado feliz. Aquela matéria na revista tinha sido um alerta, uma lembrança de que não havia espaço na minha vida para um relacionamento romântico. Minha família chegaria de avião naquela mesma noite, e eu precisava ser mais cuidadoso do que nunca. Não tinha como sair escondido para ver meus parentes ao mesmo tempo que saía escondido para ver Anahí. Era pedir para dar errado.

Só que era exatamente o que eu estava fazendo nesse exato momento: me esgueirando pelo set à procura dela. Eu nem sequer tinha um bom motivo para querer vê-la: a desculpa que encontrei foi que queria lhe contar como tinham sido as gravações no estúdio musical. Ainda que eu tivesse treinado com professores de canto no passado, trabalhar numa cabine acústica profissional era outro nível. Eu queria que ela pudesse ter estado lá, para conversar sobre os desafios artísticos daquela gravação, me encorajar da plateia quando eu estivesse cantando ao vivo ou mesmo subir ao palco comigo para um dueto, como tínhamos feito no karaokê.

Eu achei que me afastar de Anahí por uns dias me ajudaria a entender melhor os meus próprios sentimentos, de modo a conseguir ficar perto dela sem ficar pensando o tempo todo em tirar sua roupa. Mas, no fundo, tudo o que eu queria era vê-la. Minha ansiedade atingia níveis cada vez mais altos à medida que o tempo passava, e a presença dela me acalmava.

Eu estava me apaixonando por ela, e aquilo era um tremendo inconveniente.

Eu tinha tentado cancelar a viagem da minha família para Nova York, mas meu pai me deu uma bronca. Tommy ficaria arrasado, e por quê? Por causa de uma revista idiota? Era inaceitável. Então a viagem foi mantida.

Outra razão para eu querer ver Anahí naquele momento - antes que meu tempo livre fosse consumido por uma intensa programação decidida por um menino de 8 anos. Anahí adoraria os planos de Tommy. Incluíam não uma, mas três pizzarias.

Eu vou até o trailer da maquiagem para ver se ela está lá, mas, quando os maquiadores me pegam espiando da porta, me arrastam para dentro para retocar o pó compacto do rosto e passar spray fixador no cabelo.

— Desamarre essa cara — a maquiadora ordena, repetindo as palavras que Marla dissera na Conferência de Arte Latina. Ela dá batidinhas com uma esponja no espaço entre as minha sobrancelhas. — Vai acabar ficando com rugas.

— Desculpe — murmuro, e então prendo a respiração antes de ser pulverizado por uma nuvem de spray de cabelo.

Quando me liberam, eu vou até a área do buffet. Anahí não está lá, mas, enquanto eu pegava uma garrafa de água mineral, Marquita aparece ao meu lado.

— Os engenheiros de som estão muito satisfeitos com o resultado das suas gravações — ela conta, sorridente. — Essas músicas serão um ótimo complemento para a trilha sonora.

Eu aceno com a cabeça.

— Estou feliz que tenha dado tudo certo.

Marquita faz alguns comentários sobre as músicas e, quando consigo me afastar, retomo minha busca por Anahí.

Eu realmente tinha achado uma boa ideia me afastar dela? Que besteira. Aquela história de manter distância não estava funcionando. Para piorar, o fato de não conseguir encontrá-la despertava em mim os mesmos medos irracionais que me atormentavam quando não conseguia falar com meu pai, aquele pensamento de que alguma coisa ruim tinha acontecido.

Nada de ruim tinha acontecido, é claro. Nós estávamos num set de filmagens, rodeados por milhares de pessoas. Não ia acontecer nada. Anahí estava em algum lugar e, onde quer que fosse, estava a salvo.

Mas então por que eu não conseguia encontrá-la?

Ela finalmente apareceu no set na hora marcada e me lançou um sorrisinho amigável.

— Oi, Poncho. Quanto tempo.

— Onde você estava?

O meu tom foi áspero, e Anahí piscou, surpresa. Eu não podia culpá-la, não tinha o direito de exigir nada dela.

Antes que eu pudesse me desculpar, ela responde:

— Estava no trailer de Nino, jogando baralho com Lily. Por quê? O que houve?

— Silêncio no estúdio! — Alguém grita.

— Nada. Está bien. — Eu resolvi deixar para lá. Eu me entenderia com ela depois que terminássemos de gravar.

Antes de escapar para garantir que minha família tinha chegado bem.

A ansiedade ainda me corroía por dentro, mas eu não tentei lutar contra ela. Podia ser útil em cena.

Caminhando para minha posição, deixei que Lorenzo assumisse o controle.