O peso do medo

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- Dorian?
Minha voz soa muito insegura, mas não consigo esconder minha realidade. Não de Dorian.
- Minha querida, já estava pensando que você havia se esquecido de mim... Sempre soando tão casual.
- Desculpe incomodar, mas tem algum tempo?
Seguro o cristal de comunicação com tanta força que meus dedos doem.
- Pela sua voz o assunto é serio. Tenho todo o tempo do mundo, querida!

Conto a Dorian sobre o sonho. Estou tendo esses sonhos recorrentes, vívidos, assustadores, com esse Lobo cinzento. Não é uma metáfora! Meu cérebro e, talvez, meu coração estão sendo bem diretos.

- Nadia, você sabe o que isso significa...
Dorian usa um tom mais serio.
- Estou do outro lado do mundo agora, mas apenas uma palavra e eu despenco para o seu lado!

Ele não pode ver, mas meus olhos estão cheios d'água.
- Você é um grande amigo, Dorian. Vou ficar bem. Preciso ir à capital para encontrar Leliana e alguns burocratas.
Ouço sua risada.

- Sinto muito por você, querida. Não queria estar no seu lugar. Mas você é tão séria, vai se sair bem.
Termino a comunicação e guardo o cristal. Meu amigo Dorian.
- Quero que você seja feliz - ainda ouço suas palavras.

Me preparo para a viagem à capital, separando a documentação que irei levar quando ouço um som de explosão, corro até a janela e olho para o horizonte. Vejo fumaça no alto da montanha, próximo a muralha à oeste de Skyhold.
Com pressa, caminho até o salão principal, indo de encontro ao chefe da guarda.

- Sua graça! Houve um ataque deliberado a nossa torre de vigia oeste!

- Quantos homens? A qual distância? Reuna as tropas! Agora!

Corro para a torre de vigia central, para ter uma melhor visão do que de fato está acontecendo, mas o que me deixa chocada é ver um pequeno grupo, com no máximo 20 integrantes, alguns aparentando ser magos, atacando a muralha oeste. Me viro para o comandante.

- Impeça que os nossos homens matem os inimigos. Ordene que capturem-nos e tragam os aqui. Quero entender sua motivação...
Saio, balançando a cabeça em descrença.

Umas poucas horas depois, ouço na porta da minha sala.
- Vossa graça, prendemos alguns dos integrantes do grupo inimigo...
Me levanto e caminho em direção a porta.
- Alguma baixa!
O capitão balança a cabeça.
- Não, sua graça, porém alguns dos inimigos fugiram sentindo alto das montanhas...
- Não importa. Temos o líder? - olho para cima, encarando o comandante das tropas.
- Não é possível afirmar com certeza, sua graça. Nenhum deles se manifesta. Porém preciso advertir sua graça...
Ele faz uma longa pausa, olhando para mim.
- Eles são todos Dalish, sua graça.

Me pergunto, por que um grupo tão pequeno de Dalish estaria atacando Skyhold.
Aceno com a cabeça.
- Quero falar com eles. Separem-nos em grupos de 3 ou 5 por cela. Preciso ir até a capital, ainda hoje, mas me reunirei com um grupo amanhã quando eu retornar.

O capitão sai da sala, me deixando a sós com meus pensamentos.
O que esse grupo quer? Delish são meu povo.
Sinto falta do meu povo... Meu clan... Não os vejo a alguns anos.

Minhas memórias dançam na frente dos meus olhos. Aquela pequena Dalish aprendendo a usar um arco, logo a jovem rebelde dizendo que iria conhecer o mundo...
Lembro me do zelador do meu clan me dizendo:
- Criança, não se esqueça que corajoso não é aquele que não sente medo e, sim, aquele que reconhece o próprio medo e o desafia, se necessário, para proteger quem ama.
Velho sábio...

Em meu ouvido palavras sussurradas como o vento:
- Ahn ane enfenim har, vhenan? ( Do que você tem medo, coração? )

Meu coração congela por um instante, me viro rapidamente e não vejo ninguém além de mim e meus medos.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora