Amigos por onde passo

11 0 0
                                    

Enquanto caminho pela praça, indo me encontrar com Leliana, penso nas palavras de Morrigan.
'As vozes me disseram que você precisa partir para o oeste. Sozinha.'
Por quê sozinha? Quanto ao meu caminho eu já sabia. Seguirei sentindo oeste de Orlais. Mas o que me aguarda?
- Nadia!
Sorrio para Leliana, que me aguarda no mercado.
- Estive com...
- Shh! Aqui não. Vamos à base.

Sento na larga poltrona próxima a uma janela com vista para o mercado.
- Então, Nadia... Já está pronta para a viagem?
Aceno sorrindo.
- Estive com Morrigan e foi uma conversa bastante produtiva, se posso dizer. Ela Falou sobre as vozes do Poço da Tristeza, sobre ela não ouvir mais a voz de Flemeth...
Leliana ouve atentamente enquanto separa alguns documentos.
- Nadia, não são boas as notícias para você...
Ela me empurrou uma pilha de papeis, alguns pareciam ser notas promissórias, outros títulos de propriedade.
- Hum... O que...
Ela relaxa os ombros, suas olheiras estão mais aparentes.
- Sei o que você pretende fazer, não concordo mas você tem o meu total apoio em qualquer decisão que tome. Mas alguns avisos: Pode ser que você não consiga alcança-lo e mesmo que consiga, pode ser que você não consiga dissuadi-lo. Já pensou nessas possibilidades?
Aceno lentamente, meus pensamentos estão distantes.
- Sim, Leliana. Mas não vou desistir. Não vou mudar de ideia ou deixar para trás o que sinto. Se não obtiver sucesso, ainda tenho uma cartada na manga...
Ela balança a cabeça bruscamente.
- Não admito! E nunca mais fale assim! Nem pense!
Eu sorri ao notar o quanto ela se preocupa comigo.
Ela se levanta, apoia as duas mãos na mesa e me olha nos olhos.
- Você vai voltar. E vai conseguir. Tenho certeza agora.

Seguro o cristal de comunicação na mão, apertando contra o peito.
- Dorian... Atrapalho?
Ouço sua voz sonolenta, noto que o acordei.
- Nunca, minha querida. O que houve?
Conto, de maneira resumida e ocultando detalhes mais relevantes, os planos da minha jornada.
- Eu vou para aí agora! Não faça nada antes que eu...
- Dorian, não. Eu já me decidi e no momento tenho toda a ajuda que preciso. Mas queria te deixar a par da situação. Quando me encontrar com Varric vou deixar o cristal com ele.
Um silêncio prolongado. Pensei que ele havia interrompido a comunicação.
- Dorian?
- Eu compreendo. Me sinto culpado por não ter notado antes. Não ter impedido você de...
Dou uma risada sincera.
- Não acredito que você está pensando nisso! Meu doce Dorian, nada que fizesse iria mudar o que sinto. Dalish são assim. Eu sou assim. E você é o que é.
- Mesmo assim! Vou me esforçar para encontrar com Varric. Não vou desistir de te apoiar em loco.
Nossa comunicação se encerra, mas ainda sinto amor emanando do cristal.

Me vejo no meio se uma clareira, um acampamento montado, estou sozinha.
Apenas ouço ruídos da natureza, grilos, vento movendo as folhas das árvores.
Decido aproveitar esse sonho e fecho os olhos.
Sinto a fria brisa noturna tocar minha pele, pequenas brasas flutuantes ao redor da fogueira aquecem meu rosto.
Meus sonhos são sempre tão vívidos, tão intensos quanto a vida real, como se a tênue fronteira entre sonho e realidade estivesse à ponto de se desfazer a qualquer momento.
- Você está aqui, não está?
Digo em voz baixa, quase inaudível.
- Por que você quer tanto vir até mim? Por que não desiste, Vhenan? (Coração)
Sorrio mas não me viro.
- Você sabe o motivo. Só na morte, Ma'lath. (Meu amor)
Sinto algo encostando nas minhas costas mas ainda não sei se consigo me virar.
- Ir Abelas, Vhenan. (Me desculpe, coração) Nunca tive a intenção de te machucar, me deixei levar. Eu entendo seu sentimento.

Sinto minhas lágrimas quentes tocando minhas bochechas. Queria dizer tudo que sinto, tudo que penso, mas só consigo uma coisa.
- Tel'Abelas, Ma'lath. (Sem desculpas, meu amor) Estarei com você para impedi-lo ou para juntar-me a você em sua jornada. Será a nossa din'anshiral, Vhenan... (ultima jornada, coração)

Ouço um riso sincero, queria tanto ver...
- Acha engraçado?
- Não. Não é isso. Isso nunca irá acontecer, Vhenan.
Quando tento me mover, me desencostar ele toca a minha mão.
- Nossos destinos estão entrelaçados e não há nada que possamos fazer, Vhenan.
Concordo com a cabeça, e sigo para uma ultima pergunta.
- Estamos aqui de verdade ou estou sonhando?

Sinto sua mão apertando a minha, gentilmente.
- Você sabe a resposta.
Deixo escapar um suspiro triste.
- Posso ver você?

Abro os olhos e encaro o teto branco.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora