Boa sorte

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Minha infância foi tranquila. O clã Lavellan era pacífico, evitava ao máximo conflitos. Nosso zelador era um homem muito bom e inteligente.
As crianças do clã foram educadas para serem elfos melhores, fortes e bem treinados. Tínhamos que saber nos virar em um mundo onde éramos tidos como subespécie.
Costumávamos ouvir as historias dos mais velhos, deuses elfos que viviam na cidade suspensa de Golden City. Também ouvíamos contos para nos botar medo, o lobo temível que sequestrava crianças que mentiam. O deus da trapaça. O senhor da traição.
Nosso clā era cercado de grandes estatuas de lobos. Diziam que era para espantar os maus espíritos.
Havia uma grande sequoia próxima a uma estatua de lobo onde eu costumava me esconder. As vezes eu montava na estatua e inventava todo o tipo de aventura.

Abro os olhos e me vejo em uma cama grande e desconhecida. Me levanto no susto, procurando minhas coisas.
Saio na ponta dos pés para não fazer barulho.
- Bom dia, Vhenan... Café?
O susto que levei fez meu coração gelar. Me viro e o vejo em pé, encostado no batente da porta.
- Sim, obrigada?
Ele sorri e sai, deixo minhas coisas no chão e o acompanho, sentindo meu rosto queimando de vergonha.
- Ia mesmo sair sem se despedir? - me entrega uma caneca com café. - Podemos tomar um café da manhã juntos, se me permitir estender sua estadia.
Balanço minha cabeça, mas tomo o café. Uma lembrança me faz sorrir.
- Talvez a gente marque um chá...
Ele franze o senho e ri, sentando-se a minha frente.
Me sento e como uma fatia de pão. Nesse momento me lembro dos demônios, o mundo, me levanto rapidamente.
- Se acalme. O tempo passa diferente aqui, ma'lath. Não se preocupe agora...
Volto a me sentar, ainda mastigando. Ele me olha com carinho, aquela expressão que eu tinha na memória.
- O que foi? - agarro uma fatia de bolo.
Ele ri.
- O que?
- Ta me olhando... - viro o rosto embaraçada por falar com a boca cheia.
Ele disfarça o riso com a caneca de café.
- Senti sua falta, Vhenan.
Engoli e fiquei parada, não sei como agir agora. Minhas defesas vão para o chão nesse momento.
- Também senti sua falta, Solas. Droga! - agarro um morango e mastigo furiosamente.

Caminhamos no jardim da frente do casarão. Um gramado verde esmeralda salpicado com pequeninas flores amarelas.
O calor do sol é gentil pela manhã, fazendo com que a brisa fria presente me faça sentir um arrepio de frio.
Ele coloca seu casaco sobre meus ombros.
- Os sonhos...
Ele me olha curioso.
- Hum? O que tem?
Fico um pouco sem graça, olho ao redor, chuto uma pedrinha.
- Eram... Estava no imaterial?
Ele acena com a cabeça.
- Eu te observo desde daquele dia.
Um arrepio percorre minha espinha.
- Isso soa tão errado, Solas...
Ele tomba a cabeça para o lado, com una expressão curiosa.
- Você me fascina de tal maneira que me pergunto como alguém como você pode pertencer a esse mundo.
Amarro a cara no mesmo instante.
Ele sorri e me faz parar de caminhar.
- Não quis ofender, você sabe disso, Vhenan.
Rolos meus olhos.
- Você é tão passivo! Não quis ofender, não quis machucar, não era minha intenção acabar com o mundo!
- Até quando você vai ficar furiosa?
- Pelo visto pela eternidade!
Seus olhos estavam brilhando, cheios de energia.
- Você entendeu a minha posição, sabe que nada disso faço por prazer. Eu nunca tive a intenção...
Eu saio andando.
- Espere!
Continuo andando em direção a casa mas sinto meus pés sairem do chão. Olho para baixo e... Flutuando?
- Hei! Me põe no chão!
Olho para traz e o vejo parado, olhos brilhando, com um gesto da mão ele me move para perto.
- Ainda não terminei de falar, Vhenan...
Me debato, irritada.
- Desde quando você faz isso?!
Ele me coloca no chão.
- Aconselho a não dar as costas para mim enquanto falo.
Cruzo meus braços.
- Solas, você sabe que não há ameaça que você possa fazer que me deixaria com medo. Se estou aqui significa que estou pronta para qualquer destino.
Ele está sério, caminhando devagar em minha direção, parando bem na minha frente.
- Você tem certeza?
Olho diretamente para seu rosto, nos olhos. Por um segundo considerei responder mas noto que sua expressão suaviza.
- Venha, ainda temos muito que conversar, Vhenan.
Ele se vira e caminha para a casa.

- Preciso voltar, as coisas estão sem controle...
Ele tocou meu ombro.
- Já dei a ordem para retirada, mas isso é temporário. A situação mudou. Por isso precisamos conversar.
Me sento, prestando atenção.
Soras se senta próximo a mim, com uma expressão melancólica.
- Uma nova situação me fez antecipar os planos. Não posso mais adiar a queda do véu.
- Mas porquê?
Ele evita meu olhar, virando o rosto.
- Não posso dizer, mas você está sob minha proteção, nada vai...
Me levanto rapidamente.
- Preciso voltar! Preciso avisa-los! Preciso...
Ele se levanta e segura meu pulso.
- Não posso permitir que saia. Não agora que você sabe.
Puxei meu braço rispidamente, me afastando.
- Boa sorte!

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora