Um longo caminho

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- Comandante, pode vir até minha sala? Preciso falar em particular.
O homem me acompanha em silencio.

Faço a volta na minha mesa e me sento, aceno para que ele também se sente.

- Em que posso servir, sua graça?
Empurro papeis referentes às pesquisas que solicitei a Liliana.
- Vou sair em uma missão, dentro de alguns dias, e pode ser que eu precise ficar afastada das obrigações de Skyhold por um tempo.

O comandante acena com a cabeça, continuo.
- Vou deixa-lo no comando. Caso haja necessidade, Leliana deverá ser contactada.
- Conte comigo, vossa graça.
Permaneço de cabeça baixa, ainda pensando em todas as implicações do meu afastamento.
- Quanto ao grupo de prisioneiros Dalish... Solte-os, comandante.

Observo sua expressão surpresa.
- Pretendo segui-los até sua base, irei descobrir quem está por traz do ataque e o que o grupo quer.
O comandante concorda e me estende a mão que eu aperto.
- Não vou decepciona-la, sua graça.

Mais tarde, já organizando o necessário para partir, pensando em como eu gostaria de levar meu antigo grupo nessa aventura.
Olho pela janela os Dalish caminhando na neve sentindo oeste.
Minha real intenção não é segui-los, mas também irei para o oeste.

Ao ver Skyhold à distância sinto um aperto no peito, uma sensação de despedida.
- Eu vou voltar... - digo, sem muita convicção.
Foco na longa jornada que se inicia diante de mim.
Deixarei Leliana à par de todos meus passos. Ela possui corvos por toda parte.

Primeira parada: Val Royaux.

Decidi passar a noite em uma estalagem próxima ao Palácio de Inverno. Não anunciei minha chegada pois não tinha planos de passar a noite no palácio.
Estou agindo de maneira bem discreta, tentando ocultar minha identidade, para não chamar atenção. Até agora está funcionando.
Na cama, penso em tudo que devo fazer, a reunião, a jornada...

Estou no grande salão do Palácio de Inverno, sozinha.
Olho para cima, observo a grande abobada, lindamente decorada com afrescos dourados que pareciam dançar.
Subo a escadaria em mármore branco, sinto o metal gelado do corrimão sob a palma da minha mão.
Ouço o som dos meus passos a cada degrau, noto que estou usando um vestido de baile. Solto uma risadinha e penso: 'Apenas em um sonho mesmo...'
Me dou conta de que já não estou mais no Palácio, me vejo no grande Hall de Skyhold, porém está tudo diferente. A decoração é outra, mais nova e em um estilo diferente, bastante único... 'Onde já vi essa decoração antes?'
Me lembro que já vi na Biblioteca Destruída. Cubro minha boca com a mão, me dando conta de que estava em Skyhold do tempo antigo.
Ando calmamente pelo hall, toco, apenas com a ponta dos dedos, o grade acento central, observando os detalhes entalhados.
Ouço passos, procuro rapidamente com os olhos mas não vejo ninguém.
- É você, Solas?
O som cessa, ainda não vejo ninguém.
Ando em direção da grande porta central.
- O seu maior defeito sempre foi o seu orgulho. O mesmo orgulho será sua ruína, Lobo.
Uma voz ecoa pelo grande salão, atrás de mim.
- O seu maior erro foi confiar em mim, Vhenan.
Procuro mas não o vejo.
- Te desafio, Fen'Harel! Estou indo te achar! Vou te impedir! Ahnsul ma vara? (Por quê você partiu?)
Grito em vão, ninguém vai me ouvir aqui na montanha, no meio da nevasca...
Sinto tanto frio...

Mais uma noite mal dormida, minha cabeça dói enquanto aguardo o guarda anunciar minha chegada ao Palácio de Inverno.
Aquele sonho me deixou bastante perturbada.

- Vossa graça. - meus pensamentos são interrompidos pelo guarda.
- Acompanhe-me por favor.
Caminho ao lado do guarda olhando ao redor, noto alguns funcionários do local me olhando de soslaio, com expressões desconfiadas.

Ao adentrar à sala do Imperador vejo uma grande mesa e Gaspard, atrás da tradicional máscara orlesiana, se levanta:
- Minha amiga Inquisidora!
Faço uma reverencia e digo, minha voz sai mais baixa que pretendia:
- Majestade, não sou mais a Inquisidora.
Ele acena e se senta. Me sento em seguida.
- Esta linda, sua graça.
- Muito obrigada, mas, com todo o respeito, majestade, podemos ir direto ao ponto?
Ele parece estar se divertindo.
- Claro, claro. Estamos aguardando apenas...
Nesse momento a porta se abre e ela entra, caminhando confiante.
Me levanto rapidamente e ela me abre um sorriso malicioso.
- Morrigan...
- A quanto tempo, Nadia!
Ela me dá um beijo no rosto, me deixando um pouco sem graça.
Nos sentamos e o imperador começa:
- Soube que você tem pistas sobre a localização do inimigo do império, sua graça...
- Majestade, nossa Inquisidora aqui precisa apenas de informações... - interrompe Morrigan.
- Informações? Você me disse que...
Ela balança a cabeça, interrompendo novamente.
- Vossa majestade, eu disse que a senhorita Lavellan aqui poderia ser a chave para localizar o inimigo do império, porém o que ela precisa é informação.
Fico irritada.
- Eu estou aqui, se não notaram...
Os dois me encaram, e Morrigan continua.
- Majestade, me de algum tempo a sos com ela. Teremos essa conversa amanhã.
Gaspard joga os ombros, massageando as têmporas.

Acompanho Morrigan pelos corredores largos do palácio à passos rápidos.
- Precisamos sair daqui... - ela cochichou.
Faço uma menção sútil com a cabeça e caminho rapidamente.
Ela me convida e acesso seu quarto, apenas a observo trancando a porta.
- Não consigo mais ouvir minha mãe... - seu tom de voz é baixo e tenso.
- A sua mãe? O que você...
- As vozes! - ela gesticula com as mãos ao lado da própria cabeça. - As vozes estão cada vez mais altas, demandam demais, o tempo todo!
Me sinto preocupada com Morrigan que parece bastante perturbada.
- Como posso ajudar?
Ela me entrega um mapa com várias marcações em cores diferentes.
- Minha amiga, você tem uma longa jornada pela frente...

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