Thedas deixou de ser meu lar e se tornou um campo de batalha e não posso fazer nada para mudar isso.
Me sinto responsável por tudo e a única coisa que faço é tentar registrar, com a maior precisão possível, o que está acontecendo.
Sigo um foco de fumaça ao longe, correndo pela mata fechada acompanhada pela alcateia. Quando me aproximo da clareira paro e tento ocultar ao máximo minha presença. Um pequeno grupo de pessoas, 6 ou 7, incluindo 1 garoto de uns 7 anos, estão acampando. Os observo a uma distância segura, escalo uma árvore e me posiciono sobre um grande galho, armando meu disparo com o arco, apenas aguardando se algum demônio se aproximar.
Permaneço assim por vários minutos e noto que aquela floresta está livre de criaturas. As únicas criaturas perigosas ali são meus lobos e eu. Então relaxo um pouco e permaneço no alto da arvore.
O amanhecer se aproxima e eu sinto na pele o frio do inicio da alvorada no outono. Me encolho contra o tronco da arvore e ouço um ruído a distância. Rapidamente me coloco em alerta, procurando, pronta para o disparo.
O pequeno grupo no acampamento está dormindo, inclusive o homem que deveria estar fazendo a segurança.
Não perco o foco e tento enxergar o que se aproxima quando noto, e nesse momento meu coração dispara, 4 indivíduos bem distintos se aproximando da clareira. Reconheço Varric e Dorian imediatamente. Os outros dois, um humano que parece ser um Warden e um jovem Dalish portanto adagas. Um assassino talvez?
Relaxo o arco e continuo observando silenciosamente eles se aproximarem do grupo que está dormindo no acampamento.
Não consigo esconder meu sorriso por ver Dorian tão bem. Corado, penso que o sol de Tevinter fez bem a ele. Balanço minha cabeça rapidamente, como se estivesse afastando tantas lembranças.
Ouço uma explosão e volto a ficar em alerta novamente, procurando de onde veio o som. O grupo acorda e os meus amigos os encontram, aparentemente indicando aos acampados um lugar para recuar. Sei de uma gruta nas proximidades.
Vejo uma horda de demônios se aproximando, alguns bem poderosos, na linha de frente reconheço 2 demônios da ira. Começo a ficar aflita, esses quatro não tem a menor chance!
O grupo que estava acampado já recuou para a gruta e o grupo de Varric está pronto para o combate.
'Não posso deixar que eles me vejam.'
Subo o mais alto possível na árvore e começo a disparar contra os demônios.
Minha alcateia começa a atacar, não tenho tempo para ver o que o grupo faz em solo mas estamos contendo o avanço dos demônios.
'Droga! Estou ficando sem flechas!'
Alguns dos meus lobos feridos recuam e eu começo a duvidar que vamos conseguir deter aquela horda por muito mais tempo.
Eu pulo e já saco minha adaga, lutando apenas com meu braço direito.
Ouço um grito atrás de mim.
- Nadia?! Pelo Criador!
- Recuem! Eu vou atrasa-los! Na gruta tem uma saída, os Guardiões estão no vilarejo próximo!
Um demônio da inveja atravessa meu ombro com a garra e eu solto um grunhido de dor.
O jovem Dalish aparece, decapitando o demônio com suas laminas, o que me deixa atônita com sua habilidade.
- Não tem como recuar e deixar você aqui, moça! - sua voz é suave e vivida.
Eu empurro o demônio, tirando sua garra do meu ombro, de onde jorra sangue.
- Se você for esperto vai tirar meus amigos daqui ou eu mesma mato você! - minha foz soou como um urro raivoso fazendo com que o garoto fizesse uma cara assustada.
Ele acenou com a cabeça e correu, agarrando o braço do guerreiro que estava com eles. Eu aceno gritando:
- Varric, recuem! Eu sou teimosa, lembra?!
Vejo a expressão de dor nos olhos de Dorian, quando sinto uma pancada forte nas costas, me tirando o equilíbrio. Retomo imediatamente o foco no combate se não morrerei.
Dou um salto, ganhando distância, mas estou sem flechas, minha adaga está coberta de sangue. Grey está mordendo outro grande demônio enquanto meus outros lobos lutam ferozmente. Um demônio da ira me agarra pelo pescoço, me debato, tentando cortar seu braço mas me falta ar, a minha visão começa a ficar turva e sinto que não devia morrer assim. E de repente o monstro me larga, caio, semi consciente, no chão, tossindo por ar. Olho para frente e os vejo recuando. Aquela horda gigantesca de demônios recuando. Gray corre para perto de mim e lambe o sangue em meu ombro. Ainda estou tentando recobrar os sentidos completamente quando vejo a grande e negra silhueta se aproximando. Eu me levanto com dificuldade e sinto muita dor. Eu vejo, no meio da grande silhueta, seis olhos brilhando em um tom sobrenatural de vermelho. Sinto meu coração parar e meu corpo congelar.
'Será que eles conseguiram fugir?'
Sinto o pânico crescendo dentro de mim então, sem raciocinar direito, me ajoelho diante da gigantesca criatura.
- Eu imploro, não os mate! Juro não interferir mais! Poupe-os! Eu suplico!
Minha voz soa como uma lamuria, um choro contido. Por que estou tão aterrorizada? Não era isso que estava para acontecer? Eu não sabia?
Não levantei o olhar, apenas encarava o chão, lágrimas caindo. Nenhum som. Nenhuma resposta. A ventania cessa, meus lobos, inclusive Gray começam a segui-lo. Eu me levanto e caminho, olho para trás e consigo ver, à distância, os quatro na estrada da gruta. Eu cubro meu rosto com o capuz e sigo o meu deus de devoção, pronta para receber a punição que eu mereço.
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Sob o véu
FantasyBaseada no jogo Dragon Age Inquisition, o que significa que nenhum dos personagens e locais mencionados são de minha autoria. Pertencem ao estúdio Bioware e EA. Contada em primeira pessoa no ponto de vista da Lavellan, sobre os fatos que se dão após...