Eclipse do coração

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Minha lâmina, banhada em vermelho vivo, fixa sob o queixo dele. E ele não se move, seu sorriso não deixa seu rosto.
- Um empasse? Como vamos resolver isso, Vhenan?
Minha mão está firme mas meu joelhos estão tremendo. O que eu faço, o que eu faço, o que eu...
Ele segura minha mão gentilmente a afastando do seu rosto.
- Venha comigo...
Vejo ele limpando o sangue com sua manga, andando à minha frente. Não sei como mas começo a caminhar.
Caminhamos em silêncio, minha cabeça está para explodir, o que está acontecendo, ele está destruindo o véu, ele vai me matar...
- Pronto. - Solas estende sua mão. - Vhenan...
Queria dizer tanta coisa, fazer tanta coisa, por quê não consigo?
Levanto meu braço emprestado, colocando a palma sobre sua mão esticada. Ele a puxa gentilmente, me guiando por outro eluvian. Pareço hipnotizada, onde?
Um salão grandioso, como a antiga biblioteca destruída, decoração escura esculpida em madeira, piso em mármore branco, uma abobada dourada sob nossas cabeças. Vários eluvians em um mesmo local.
O vejo pelas costas, retirando sua capa de peles pesada e pendurando a em um apoio.
'O que eu faço?'
Ele se vira e me encara, desta vez com uma expressão séria, sombria.
Ele permanece ali parado, me encarando, como se estivesse ponderando sobre a situação.
'O que eu faço?'
Vejo ele balançando a cabeça, com a expressão suavizada.
- O que eu faço com você, Vhenan?
Me dei conta que estou em posição alerta, apertando minha adaga com tanta força que meus dedos estão roxos e doendo. Largo a lâmina imediatamente como se me desse choque.
Ele ri. Um riso sincero.
- Eu não...
- Venha comigo. Temos muito que conversar.
Apenas se vira e caminha para uma sala anexa ao grande salão.
O sigo em passos demorados, temerosos, não sei o que me espera.
- Sente- se. Pode ser que isso leve um tempo...
O vejo servindo uma bebida. Ele se vira.
- Acompanha?
Balanço minha cabeça rapidamente, apesar de precisar de uma bebida urgentemente.
Ele aponta para a poltrona.
- Por favor, Vhenan.
- Você derrubou o véu?! Já? Por quê? Você disse que não no meu tempo! Não me deu a chance de...
- Silencio! - o som ecoou por todo o salão e fez meu coração congelar. - Sente-se agora, Nadia!
Sentei-me, apertando meu braço emprestado com força.
Ele bebe e pressiona os dedos entre as sobrancelhas.
'O que eu faço?'
- Desculpe... - depois de um tempo ele quebra o silêncio. - Por quê você não desiste?
- Eu... Posso falar?
Sua expressão facial não era amistosa nesse momento. Ele acena com a cabeça.
Dou um suspiro profundo, tentando me acalmar.
- Eu não vou desistir. E você?
Ele bebe outro gole, seu olhar está distante nesse momento.
- Outro impasse. Você sabe o que isso significa. - uma longa pausa - Vamos tentar fazer diferente.
Estou a anos tentando alcança-lo e agora ele está na minha frente. Tudo que eu queria era estar aqui, mas agora eu não sei. Eu não consigo dizer tudo o que eu sinto, o que eu planejei dizer.
- No que estava pensando quando saiu nessa jornada, Vhenan? Diga, quero te entender melhor.
Fechei meus olhos, tentei organizar meus pensamentos.
- Eu disse a você naquele dia, Solas. Eu não vou desistir. Nada mudou! Agora eu sei quem você é e quais são os seus planos. Achei você, eu te disse!
Ele se recosta na poltrona, um sorriso disfarçado toca seus lábios.
- Parabéns, Vhenan, me achou. E agora?
Não consigo impedir as lágrimas de inundarem minha visão.
Ele nota pois desvia o olhar.
- Entenda, ma'lath, não há nada que possa fazer. Vou continuar com o plano. Eu prejudiquei meu povo por tempo demais.
Uma lágrima cai sobre minha mão.
- Ga'harel. Como pode me chamar de amor sendo que você não me vê como seu povo?
Ele balança a cabeça.
- Meus sentimentos por você são reais. Nunca menti, apenas omiti.
A tristeza virou raiva rapidamente, me levanto e começo a andar de um lado para outro na sala.
- Enorme a diferença! Mas a culpa foi minha, desde o começo! - nesse ponto já estou rosnando - Eu tinha que te escolher! Escolher você!

Nesse momento não tenho mais controle sobre minhas emoções, meu corpo se move sozinho e eu me assisto  jogando uma garrafa na parede. Me sinto suspensa no ar, como em um estado de desassociação, assisto passiva a minha fúria descontrolada.
Arremesso vasos e copos, grito e choro, enquanto a divindade está colada na poltrona, pálido.
- Eu pararia o mundo todo para poder parar esse sentimento!
Exausta caio de joelhos, respirando com dificuldade, me afogando em lágrimas. Todas elas de uma vez até não haver mais nenhuma.

Muito tempo se passou, não sei dizer quanto, ele se ajoelha perto de mim.
- Acho melhor você descansar um pouco...
Concordo com a cabeça, ele tenta me ajudar a levantar mas as pernas não obedecem. Então ele me pega nos braços. Enlaço seu pescoço e me deixo ser carregada até um quarto. Ele me põe na cama, levanta e se vira. Eu agarro sua blusa.
- Pode ficar mais um pouco? - um sussurro sai dos meus lábios, impulsivamente.
Ele se senta na beirada da cama.
- Pode dormir, Vhenan...
Fecho os olhos, ainda agarrada a sua blusa.
- Ainda me chama de coração...
Ouço um sussurro.
- Também escolhi você...

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora