Medo

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Acordo de sobressalto com o som de uma explosão e gritos na rua.
Ainda sonolenta jogo meu casaco pesado sobre os ombros e desço correndo as escadas quando me deparo com a rua em caos.
Pessoas correndo, chorando, uma casa queimando.
- Mas o que...
Um homem se choca contra mim. Me desequilibro e vejo... Demônios?
Corro para dentro da estalagem, pego meu arco e me preparo para o combate.
'Como assim?'
Efetuo os primeiros disparos, quase sem efeito.
Corro para um patamar mais alto, subindo em uma mureta próxima e começo a disparar flechas rapidamente, derrubando alguns demônios.
'São muitos... Preciso de...'
Ouço mais explosões, vejo fumaça à distância...
Continuo a disparar tentando, pelo menos atrasa-los, quando vejo soldados lutando contra as criaturas.
Tento enxergar mais longe para ver de onde os demônios estão vindo quando noto algo brilhando, próximo ao bosque.
Salto o muro e corro em direção ao brilho, atirando em demônios no caminho.
'Estou ficando sem flechas...'
Ouço mais uma explosão e nesse momento um demônio me agarra pelo ombro, sinto ardência e sangue quente escorrendo.
Saco minha adaga e decepo sua mão, virando rapidamente e cravando a lâmina em sua nuca.
'Droga! Preciso correr!'
Coloco toda energia que resta em minhas pernas, correndo para o bosque, onde vejo... Um eluvian ativo?
Sem pensar nem por um segundo, me desvencilho de um demônio que, tenta me puxar pelo braço emprestado, e pulo no eluvian.

Tudo cinza ao meu redor...
Não vejo mais que o meu nariz.
Já estive na encruzilhada antes mas agora está tudo diferente, escuro, frio.
Estranhamente não vejo nenhum demônio, o que significa que não estou na mesma conexão. Onde estou?
Abaixo a cabeça e estico a mão, caminhando para frente.
- Olá! Alguém? Oiiii!
Pisco rapidamente, tentando afastar a densa fuligem dos meus olhos. Vejo um ponto de luz a frente e sigo para lá.
- Se tiver alguém aqui... Olá!!
Nem o eco se propaga nesse ambiente estéril.
Meus olhos começam a arder mais por causa da fuligem, os fecho fortemente mas continuo andando com a mão esticada quando toco em algo.
- Huh!?
Sinto esse abraço apertado, forte, me imobilizado por completo. Não consigo falar, me mexer, respirar... Me bato e tento sair, mas não consigo.
- Por quê está aqui, Vhenan? Não a convidei...
- Meu rosto está enterrado contra uma pele grossa, não consigo abrir os olhos. Reluto o quanto consigo, mas já não tenho forças.
Seu abraço parece infinito, eterno, o meu para sempre está aqui. Mas eu não consigo retribuir. Não posso.
Sinto sua mão acariciando meu cabelo e seus braços lentamente afrouxando o aperto ao meu redor.
- Você não devia estar aqui, Vhenan. E agora? O que faço com você?
Ainda não olho para cima pois sinto que se olhar vou acordar. Lágrimas cruéis caem sem meu consentimento.
- Olhe para mim, Nadia Lavellan. Me diga o que devo fazer com você.
Nesse momento eu já estou completamente livre, mas minha cabeça continua abaixada, vejo o sangue do meu ombro pingando na minha bota, assim como minhas lágrimas. 'Ele não pode me ver assim'.
Saquei minha adaga e, como um raio, encosto a ponta da lamina no seu queixo.
- Me diga você, Fen'Harel, o que devo fazer com você...
Uma gota de sangue escorre pelo fio da lâmina mas tudo que posso ver agora é aquele sorriso... Tão perverso e lindo.
Eu tudo o que posso sentir naquele momento é medo.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora