Um novo livro

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Naquela manhã Varric acordou com uma dor de cabeça, provavelmente causada pela ressaca. Ele se arrepende, internamente, por ter bebido tanto na noite anterior.
Com dificuldade ele caminha até a cozinha, encontrando uma criada no trajeto.
- Bom dia, Sir Tethras.
Ele sacode a cabeça e grunhe.
- Café, Alicia, só café.
Ele se senta e toma seu café, ainda tentando acordar. Então outro criado entra o cômodo e se curva em reverencia.
- Sir Tethras, o senhor tem visita.

Ele rola os olhos mas se dirige ao hall. Ele vê Leliana e Dorian parados, esperando.
- Resolveram me visitar, Vermelha... Brilhinhos...
Eles se sentam. Leliana começa.
- Estamos preocupados, Varric. Acho que você deveria falar com ele.
- Pois nós tentamos e não conseguimos.
Dorian estava com uma aparência abatida, com olheiras fundas.
Varric solta um suspiro desanimado.
- Vocês sabem que eu também estou mal com tudo isso.
Leliana se ajoelha próximo a Varric.
- Ninguém pode estar tão mal quanto ele, Varric. Seria bom se você fosse lá. Estaremos juntos. Por favor!
Ele grunhe e se levanta.
- Okay, venceram. Eu vou pegar minhas coisas e já saímos.

A viagem foi mais silenciosa que o normal. Eles passam por vários acampamentos de refugiados, sobreviventes de uma guerra que quase destruiu Thedas. Ainda havia muito trabalho de reconstrução a ser feito.

Muitas construções antigas foram destruídas no processo mas podia se ver como humanos e elfos estavam trabalhando, lado a lado, na reconstrução.

O grupo fez uma parada em Val Royaux e foram até a Chantria, encontrar-se com a Divina Vitória.

- Eu sinto tanto por tudo que aconteceu, amigos.
Leliana abraça Cassandra.
- Eu entendo, santíssima.
Ela olha para o grupo e continua.
- Conforme o que foi combinado, não haverá punições para o apostata Solas.
Ele será banido para o norte de Ghislain e poderá permanecer com os seus aliados elfos por lá.
O grupo concorda e Varric completa.
- Estamos indo para lá agora. Bom, eu apenas por insistência deles...
A divina sorri e entrega um pequeno cordão de ouro.
- É um presente meu para a pequenina. Entregue por favor.

O grupo parte em uma longa viagem rumo ao norte. Observando uma Thedas ainda tentando se reconstruir. A final de contas só se passou um ano desde tanta destruição. De passagem por Kirkwall eles aproveitam para um breve reencontro com Hawke, que morava em uma cabana afastada.

Ela abraça Varric apertado, enquanto Leliana e Dorian riem de vê-lo tão constrangido.

- A quanto tempo, seu dwarf metido a rei!

- Como estão as coisas, Hawke?

Ela dá com os ombros.

- Passo boa parte do tempo tentado resolver a bagunça que Fenris deixa para trás. Alias, se o verem diga que é bom que a desculpa seja convincente.

O grupo retorna a jornada, todos se sentindo mais leves.

- Varric, como vai o seu novo livro? - Leliana pergunta se sentindo genuinamente curiosa.
- Não muito fácil de escrever, mas sairá até o final do ano, conforme meu agente. Mas o final está mais... - Ele dá um suspiro. - Difícil que eu gostaria.

Muitos dias de viagem depois o grupo chega, finalmente, na fortaleza ao norte de Ghislain e aguarda até serem anunciados.

- Preferem que eu entre sozinho primeiro?
Dorian concorda. Seu rosto mostra uma expressão que mistura tristeza e raiva.
- Eu espero vocês aqui fora. Não me sinto confortável com isso. Não ainda.
O guarda retorna.
- Senhores, peço que me acompanhem, por favor.
Dorian sorri desanimado, gesticulando para que Varric entrasse. Leliana decide aguardar com Dorian do lado de fora do grande hall.
Varric acompanha o guarda até a entrada. Ele acessa um gramado com pequenas margaridas cercando o caminho de pedras. Ele caminha até uma saleta avarandada, com um pequeno parapeito construído em mogno entalhado. Ele se senta e aguarda.
Enquanto espera ele nota que o clima agradável da primavera faz com que o jardim pareça um pedaço do paraíso descrito em tantos livros. Ele ouve uma risadinha infantil e se levanta, seguindo o som dos risinhos até que ele entra no hall principal, vendo ao longe aquela pequena pessoa, de cabelos vermelhos, sentada no chão.
- Olá, Varric.
Ele disfarça o sobressalto.
- Risadinhas... Solas, eu...
Ele balança a cabeça e caminha para perto da pessoinha, que estende os braços. Então se abaixa e segura as pequenas mãozinhas, sussurrando.
- Vella, você já sabe como faz~
Varric observa a menina se levantando e caminhando, ainda com passos desajeitados, mas um grande sorriso no rosto, agarrada na mão do elfo.
- Bom te ver, Varric. Sei que trouxe um pequeno grupo com você. Solicitei ao guarda acompanha-los até aqui.
Varric desvia o olhar enquanto Solas pega a garota e se senta na poltrona próximo ao gazebo.
- Como você está?
Ele sorri discretamente enquanto prende o cabelo rebelde da menina em um rabo de cavalo.
Leliana e Dorian acessam o salão e se aproximam.
- Estou bem. Estamos bem.
Alguns minutos depois Leliana já está brincando com a pequena elfa, sentadas no chão.
- Estávamos todos lá. Nenhum de nós teve a chance de se despedir. - Dorian diz com uma expressão magoada no rosto.
Solas desvia o olhar, sua expressão cansada deixa transparecer a culpa que carrega.
- Nada saiu conforme o esperado. Pelo menos não como eu planejei. Aquela decisão nunca foi minha.
- Papa! - a pequena corre em passos desengonçados na direção de Solas, que a segura nos braços.
- Vella~ - seu rosto tem uma expressão suave e gentil.
- Saiu como ela planejou, risadinhas...
Solas concorda, brincando com as mãos da menina.
- Para o seu livro, pode me mostrar como o vilão, um monstro. Acho que é assim que sou visto...
- Não diga bobagem! - Leliana sorri, o que é bem raro - O seu povo é a prova de que você não é nada disso.
- Nenhuma prova é maior que esse sorriso nesse rosto fofo! - Dorian está brincando com a menina agora, que já se sente à vontade com o grupo.
- Estamos aqui para saber se você está bem, mesmo, depois de tudo. Pois somos sua família também.
Solas se levanta e sorri de maneira sincera.
- Vou ficar bem. Obrigado por tudo. Não esperava leniência mas recebi muito mais do que merecia.
- Não se empolgue muito... - Dorian rolando no chão com a menina - Estou aqui por minha sobrinha linda!

O grupo parte e Solas acena. A menina acena também, sorrindo inocentemente.

Enfim ele percebeu que sempre fez parte de um plano maior, muito mais importante que restaurar o antigo império élfico. Ele era parte do plano dela. Agora é a parte mais importante do plano mais perfeito que já existiu.
Uma lágrima escorre ao ver a pequena Vella correndo pelo jardim.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora