Presente de ouro

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Na fronteira de Maygnay sigo à procura da oficina do Dwarf Eddie. Decido não perguntar pois quero evitar chamar atenção.
Puxo o meu capuz, fazendo com que meu rosto desapareça e continuo caminhando com a cabeça baixa quando vejo um velho Dwarf no final da rua. Apresso meu passo.
- Com licença...
O velho me olha e faz um gesto com a mão, sinalizando para eu entrar em uma loja que se parece uma ferragem.
Estou no lugar certo!
- Senhor Eddie? - minha voz sai encabulada.
Ele passa pra trás do balcão.
- Você deve ser a Lavellan. Tethras me disse que você precisa disso...
Ele caminha através de uma cortina, eu observo atentamente.
- Entra aqui, elfa! - rugiu lá de dentro, me fazendo dar um pulo do banco que eu estava sentada.
- Indo! - corro para o interior da...
É imenso! Ferramentas, forja, aço fervendo...
- Uau! Isso aqui é incrível!
O velho gesticulando para eu me apressar.
Me aproximo e vejo um dispositivo estranho muito parecido com um...
- Como é sua tolerância a dor? - O velho me olha sério mas não me dá tempo para responder. - Vamos, tire o casaco.
Eu fico meio sem graça, empacada.
- Algum problema?
Balanço a cabeça rápido e tiro o casaco.
Ele olha a área da amputação atentamente.
- Vai dar trabalho... - sai resmungando, voltando em seguida com uma grande bolsa e acompanhado de uma senhora, uma Dwarf loira e corpulenta.
- Olá, sou Renna, a esposa desse velhote rabugento.
Cumprimento a senhora, segurando o riso.
- Vamos, venha comigo, mocinha. Você é linda! Tão jovem...
Acompanho Renna até um quarto onde ela me instrui a tirar a blusa e colocar uma espécie de avental.
- Querida, tenho uma poção aqui que ira ajuda-la com a dor.
Eu sorri e agradeci, ainda não me sentindo segura para o que viria a seguir.
Eu não fazia ideia do que viria a seguir.
Eddie trouxe ferramentas e, com ajuda da esposa, começou a trabalhar no meu braço esquerdo.
Doeu, ele cortou, apertou, mexeu, prendeu, prensou e afivelou.
Renna estava sempre segurando minha mão, me dando água e enxugando o suor em minha testa.
- Você é forte, elfa... Vi você naquela hora e não dei nada.
No começo da noite os trabalhos estavam encerrados.

- Você é nossa convidada essa noite. Um bom jantar e uma boa noite de sono farão milagres! - Renna sorri.

Ainda tonta e com muita dor me deito, imaginando como será essa jornada depois disso.
Como essa peça grande de metal e couro pesa!

Sinto a chuva gelada caindo, ardendo minha pele. Meus pés descalços sobre um chão pedregoso doem.
Caminho com dificuldade, procurando um abrigo para esperar a chuva passar.
Me sento na raiz de uma grande árvore. Não entendo porque mas sinto tanto frio. Minha boca está seca.
Me encosto contra a árvore, me encolho mas meu ombro dói.
- Ah, Vhenan, quanto sofrimento eu impus a você...
Nem tento me mover, meu corpo todo dói.
- Faça essa noite acabar, por favor...

Abro os olhos e já é de manhã. Renna me olha aflita.
- Você teve febre, querida. Mas já passou. Como se sente?
Analiso meu corpo.
- Melhor. Obrigada.

Me despeço do casal de Dwarfs, sorrindo. Recebi uma lista extensa de recomendações, vários frascos com poções e chás. E sentindo um novo, e desconfortável peso no ombro esquerdo.
- Hum... Vou ter que me acostumar rápido com isso...
Resmungo mexendo, com muita dificuldade, meus recém adquiridos, dedos da mão esquerda.

Saindo de Maygnay, meu próximo destino é Alphonville.
Paro em uma hospedagem próxima a fronteira, me sentindo exausta.
"Se continuar nesse ritmo não vou conseguir..."
- Vai beber?
O homem com a cara amarrada atrás do balcão me encara.
- Só água, por favor...
Tento notar se estou com febre, mas parece que não. O homem empurra o copo para perto de mim.
- Sua cara está horrível.
Muito sutil. Bebi a água, e olho para ele.
- Obrigada. Preciso de um quarto para a noite.

Me deito, meu corpo dói tanto que tenho dificuldade para adormecer.
Olho para a pequena entrada de luz da claraboia quando sinto lágrimas rolando pelo meu rosto.
- Estou chorando? Por quê?
Noto que não estou mais sentindo dor ou cansaço... Estranhamente sinto meu corpo leve.
Fecho os olhos, as lágrimas secam e consigo dormir.
Ele está no canto do quarto, de pé, vigiando meu sono. Tudo o que ele sente é pesar.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora