Mestra da guerra

4 0 0
                                    

Agora sou uma prisioneira no palácio. A porta do meu quarto está trancada e nem as janelas posso abrir, sei que também estão reforçadas. Está tudo conforme planejado, mas não esperava que ele fosse pegar leve comigo. Sinto uma opressão forte no peito; meu tempo está acabando e não posso ficar parada. Então, começo meu plano, torcendo para não falhar novamente.

Sou excelente em arrombar fechaduras, mas sei que tanto a porta quanto a janela estão encantadas. Há dias tenho treinado sozinha um pequeno truque, e espero que funcione. Sinto as pontas dos meus dedos formigando, a magia me tocando, arrepiando minha pele desde que o véu foi rasgado. Agora aqui estou, tentando desfazer um encanto lançado por um deus. Toco suavemente a fechadura e me concentro, exatamente como praticado, sentindo as engrenagens se moverem lentamente, como se fossem partes do meu corpo. É uma sensação incrível... E terrível.

Ninguém deveria ser capaz de fazer isso... E então, um clique. A fechadura se abre. Meu coração congela por um segundo. Abro a porta, observo o corredor vazio. Esta é minha chance. Com a mochila nas costas, caminho sem fazer barulho. Atravesso o corredor cautelosamente, paro diante do escritório dele, luzes acesas e porta fechada. Passo na ponta dos pés, respiração suspensa.

Conseguindo acessar a sala dos eluvians sem ser vista, o que me causa certa estranheza, continuo em frente.

Me lembro da conversa que tive com Varric, dias antes.
"Inky, você realmente acredita que isso dará certo?"
"Vai dar certo! Eu conheço ele, Varric!"
"Você não conhecia antes? Mas confio em você."
"Se der alguma coisa errada..."
"Eu sei, Inky. Vou cuidar dela. Tem minha palavra."

Atravesso o eluvian e saio em Ghislain,  correndo até a torre de vigia próxima. Do topo da torre posso ver um exercito formado por elfos, de todas as partes de Thedas, reunidos. Também vejo uma Ghislain completamente destruída, incêndios em edificações, refugiados se agrupando. Para onde olho só vejo caos.

"Como chegamos nisso?"

Uso o sinalizador, encolhendo-me com o estrondo. O farol de fogo ilumina o céu como fogos de artifício. Torço para que eles tenham visto. Então corro até o ponto de encontro combinado e espero. Olho para o céu e vejo ao longe um grande dragão dourado voando para cá.

"Morrigan..."

Eles devem estar próximos, sinto o sangue borbulhar nas veias. Desço a torre, corro em direção à clareira próxima à vila. Vejo-os correndo ao longe, um pequeno exército os acompanha.

Tudo que planejei culminou nesse momento. Mas estou com tanto medo. Não deixo esse medo transparecer quando chego próximo dos meus amigos.

Minhas lembranças me assombram.

"Ele vai perder os poderes? Como assim?"

"Nem todos, Varric. Ele será apenas um mago com conhecimento do imaterial. E talvez um bom líder para meu povo."
"Você põe muita fé em alguém como ele..."

- Você conseguiu? - Varric ainda tentando recuperar o fôlego.

Aceno com a cabeça, segurando a mão de Dorian.

- Que bom que estão aqui. Vou precisar de toda ajuda possível.

Nos preparamos para uma última reunião, minha cabeça está rodando, me sinto zonza. Meu tempo está perto do fim. Lembro-me das palavras de Andruil.

"Pequena filha da terra, quer muito mas não oferece o bastante. Talvez possamos te ajudar, mas você irá nos ajudar em troca." Sua irmã Sylaise sussurra próxima ao meu ouvido: "Queremos o Lobo, criança. Nos entregue ele e nós cuidaremos das criaturas das trevas. Seu mundo terá paz e o nosso, regência."

"Não posso!" Sacudo a cabeça fortemente, minha voz inaudível. "Ele é importante para mim."

Sylaise anda lentamente ao meu redor, seu olhar felino me deixa em pânico.

"Mais importante que sua vida? Você nos deu dois presentes preciosos, mas ainda queremos mais dois. Está disposta a abrir mão deles?"

- Lavellan! - O Warden aperta meu ombro. - Precisamos nos apressar. Estamos prontos.

- Desculpe, estava... É agora!

Olho para o comandante Cullen, sua expressão séria.

- Chegamos ao momento decisivo, à batalha que irá determinar não apenas o destino desta guerra, mas o futuro de nossas famílias, de nossas terras e de nossa liberdade. Estamos diante do inimigo, um inimigo que desafia não só nossa soberania, mas nossa própria existência como povo livre.

- Hoje, não lutamos apenas por nós mesmos, mas por todos aqueles que vieram antes de nós, que sacrificaram suas vidas para que pudéssemos estar aqui hoje. Cada um de nós é um elo em uma corrente de bravura e resistência que se estende ao longo das gerações. Não podemos falhar. Não podemos permitir que o medo nos domine.

- Lembrem-se de tudo pelo que lutamos: nossos lares, nossos ideais, nossas famílias. Lembrem-se dos rostos dos que estão ao nosso lado, dos que dependem de nós para protegê-los. Este é o momento de mostrar nossa coragem, nossa disciplina e nossa determinação.

- Não esperem que a vitória seja fácil. O inimigo é forte, mas nós somos mais fortes. Somos guerreiros treinados, unidos por um propósito comum, guiados pelo dever e pela honra. Hoje, nós mostraremos ao mundo do que somos feitos. Não recuaremos. Não hesitaremos.

- Avancem com coragem, com audácia e com a certeza de que estamos do lado certo da história. Não lutamos apenas por nós mesmos, mas por um futuro melhor para todos os que virão depois de nós. Que cada um de vocês seja um exemplo vivo do que significa ser um soldado desta nação.

- Soldados, para a vitória! Lutem com tudo o que têm, pois hoje escrevemos o próximo capítulo de nossa história. Que nossos feitos inspirem gerações futuras a nunca desistir da liberdade e da justiça.

- Em frente, bravos guerreiros! Pelo nosso país, pela nossa liberdade, pela vitória!

Após o discurso, o Comandante Cullen ergue a espada e a tropa se alvoroça. Recorda-me de um tempo em que eu estaria com eles.

- Morrigan! Eu já vou, você me acompanha?

O grande dragão dourado grunhe e alça voo, me fazendo sentir tão pequena.

Dou um abraço apertado em Dorian e lanço um olhar determinado para Varric, que acena com a cabeça.

Quando me viro para adentrar a grande fenda para o imaterial, ouço Varric.

- Não olhe agora, Inky... Ou melhor... É melhor olhar...

Olho para o horizonte e vejo uma gigantesca sombra negra cobrindo quase tudo o que se possa ver.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora