Tão linda

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Passo pelo eluvian e sigo apressada para o palácio, o pânico percorre meu corpo com a possibilidade de não ter sido rápida o bastante.

Lágrimas conpulsórias não param de descer. Quando chego no seu quarto o encontro ainda imerso em um pesadelo febril, me abaixo ao lado da cama, afasto rapidamente a coberta e coloco o cristal sobre seu ferimento. A pedra começa a brilhar em minha mão e então a solto, sobre o peito daquele que eu amo. Com meu coração apertado, imploro em silencio, para que minha dor e sacrifício sejam recompensadas.

"Eles tem pena de você." "Eles sabiam..."

Essa memória ecoa em minha mente. Fecho meus olhos fortemente e começo uma oração por deuses em que não acredito. 'Por favor... Por favor... Tudo o que eu quero é...'

- Oh, Vhenan, o que você fez com seu cabelo?

Sua voz! Olho para ele, tão pálido, olhos brilhando devido a febre. Não pude evitar outra tempestade, essa de lágrimas represadas agora.

- Eu... - Soluçando muito - Eu pensei em dar uma mudada...

Ele aperta minha mão.

- Está tudo bem, Vhenan... Ele cresce de novo...

Meu riso e choro se misturam e eu o abraço forte, soltando-o em seguida devido ao gemido de dor que ele emite.

Alguns dias se passaram. Eu soube o que houve, os Evanuri estão livres e já conseguiram matar dois dos Esquecidos, Mythal que já era de conhecimento, e Geldaran. Durante sua travessia, Fen'Harel foi atacado e perseguido, por sorte atravessou o eluvian, tendo tempo somente de quebrá-lo antes de cair inconsciente pelo envenenamento de sua ferida.

- As duas irmãs que você conheceu, Sylaise e Andruil fazem parte do panteão mas não concordam com as ações dos outros membros. Elas se afastaram e permaneceram no templo central da Cidade Negra.

Presto atenção e tomo notas, preciso manter os fatos precisos. Ele continua.

- Elas eram conhecidas por experimentos envolvendo criaturas do imaterial. As vezes até com criaturas vivas.
Nesse momento meu coração congelou, mas o que está feito não pode ser desfeito. Respiro fundo.

- Poderiam se tornar aliadas? - limpo a garganta, disfarçando.
Ele balança a cabeça, pensativo. Olho para sua fisionomia abatida, olheiras aparentes e palidez. Ele ainda se recupera do envenenamento poderoso que o afligiu a poucos dias atrás.

- Não acredito em alianças no momento, nem com os Esquecidos. A decisão que tomei foi monocrática, não houve discussão.

Ele não sabe de todos os detalhes envolvidos no meu pacto, na obtenção do antídoto e todo o resto, mencionei apenas o meu cabelo. Não quero que sofra tanto quanto eu. Ninguém deveria sofrer tanto...

Sempre que me lembro sinto minha garganta apertar. Volto meu olhar para sua expressão preocupada e olhar distante. Um sorriso nasce toda vez que ouço ele me chamar de Vhenan novamente.

- Foi muito imprudente o que você fez, Vhenan... - uma longa pausa se segue, mas não pude dizer uma palavra. - Mas sou grato por isso.

Finjo uma cara feia.

- Enfrentei duas poderosas deusas por você, Fen'Harel! - Mostro um fraco sorriso em seguida. - Elas não tiveram chance...

Me ajoelho proximo à poltrona em que está sentado e me apoio em seu braço, sussurando:

- E faria tudo de novo, quantas vezes fossem necessarias, ma'lath...

Ele me lança um olhar meigo, seus dedos longos tocam minha bochecha. Mas logo o sorriso desaparece.

- Sinto que você não me contou tudo o que aconteceu na Cidade Negra. - Seus olhos me atravessam, como se pudesse mesmo ver a dor escondida em meu sorriso.

- Não houve mais nada! Elas foram gentis e ainda acho horrível o que você fez com elas! - me levanto rápido, finjindo indignação, apenas para esconder a minha dor.

- Espere, eu não quis ofender, Vhenan... - sua voz soa como um lamúrio manhoso que me obriga a voltar e abraça-lo. Me sento em seu colo enquanto ele acaricia minhas costas.

- Está ficando mal acostumado, seu deus trapaceiro! - eu sorrio e dou um beijo suave nos seus lábios. Seus lábios envolvem os meus conforme ele me puxa para ainda mais perto. Apesar de querer mais, tive que para-lo.

- Acho melhor eu deixar você descansar, ma'lath... - minha voz soa como uma reclamação.

Ele não me solta, mas desvia seu olhar, que estava focado em minha boca. Agora seus olhos enigmaticos estão fixos nos meus.

- Você mudou, Vhenan. Não consigo compreender o que mudou mas gostaria muito que você confiasse em mim.

Ele toca minha face gentilmente, sua mão é fria mas o toque é caloroso. Eu fecho meus olhos para fugir daquela leitura tão precisa da minha alma.

Com uma ponta de dor no meu coração eu volto a beijar seus lábios quentes, me afogando neles mais uma vez. Torcendo para que, pelo menos enquanto estou no calor do seu abraço, eu não sinta o frio que vem do meu coração.

Olho para ele ao meu lado na cama, dormindo tranquilo, e penso em tudo que passamos até agora. Não sei se estou preparada para perder mais alguma coisa, mas sei que enquanto estiver com ele, enquanto seguir seus passos, terei que abrir mão de tudo.

Me viro e olho para o teto, minha mão pousa sobre minha barriga. Eu penso em como seria a minha vida se aquela criança viesse para esse mundo devastado. Fecho os olhos e vejo uma garotinha com sardas, um furinho no queixo e cabelos rebeldes, rubros como os meus, com olhos violeta como os seus... Volto a olhar para ele ainda dormindo e vejo sua feição mudar, uma expressão de dor. Um pesadelo, talvez? Toco o seu rosto e sinto uma lágrima molhar minha mão. Me sento na cama e, gentilmente, balanço seu ombro, sussurrando:

- Hey, acorde... É um pesadelo...

Ele soluça, ainda dormindo, e murmura:

- Tel'ver ma'ashalan ve, ma'ina'lan'ehn da'lan... (Não a minha filha. Não a leve embora, minha linda garotinha...)

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora