Deuses profanos

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Decidi desviar meu trajeto e retornar ao templo de Mythal.
Os planos foram antecipados por culpa dela e eu preciso entender o motivo, talvez encontre alguma resposta.
Não obtive nenhuma resposta de Morrigan, não posso imaginar o que ela está fazendo agora, mas me parece que impedir o fim do mundo iminente não é nenhuma prioridade...
Durante o caminho combati muitos demônios, nenhuma fenda visível. Ainda não consegui entender de onde eles surgem.
À muitas noites não sonho. Ou não lembro de ter sonhado, o que é estranho. Sem nenhum sinal de Fen'Harel.
Passo através do grande portal de pedra do templo. Está tudo exatamente igual da ultima vez que estive aqui.
Caminho devagar, tentando não fazer barulho porém tudo está calmo e silencioso.
Passo pelo grande salão, caminhando em direção ao poço do sofrimento. Não vejo nenhum dos seus guardiões. Obviamente não estariam guardando um poço vazio.
E é o que vejo quando chego ao poço. Seco. Uma estranha sensação de tristeza me enche nesse momento.
Caminho em direção ao altar de Mythal, vazio. A imagem de pedra está coberta com musgo verde. Eu paro em frente a estátua e observo, tentando encontrar algo que possa me ajudar a entender.
- Mythal, se estiver por aqui, me diga o que está acontecendo. Por quê meu povo tem que morrer para que o seu viva?
Balanço minha cabeça, sabendo que a estátua não vai me responder quando ouço um estrondo e sinto uma ventania forte atrás de mim, me viro rapidamente e vejo um dragão gigante pousando no átrio, não um dragão qualquer...
Eu me aproximo.
- Morrigan?
O gigante urra, me fazendo estremecer, mas uma luz intensa circula a criatura, logo vejo Morrigan aparecer. Eu corro em sua direção e me abaixo, ajudando-a se levantar.
- Estou bem... Argh! - ela tenta se levantar sozinha mas se apoia em mim.
- Calma, vem comigo... - A apoio come o ombro - Como sabia que eu estava aqui?
Ela parece um pouco confusa, nos sentamos aos pés do altar.
- Eu senti... Não sei bem... Nadia, muita coisa aconteceu, eu estava procurando você quando...
Ela segura sua cabeça com as mãos e continua.
- Você desapareceu por duas ou três horas, pensei que tivesse... Mas você voltou.
Eu a ouço com atenção, entendi do que se tratava.
- Morrigan, sua mãe... Err, digo, Mythal... Será que ela deu ordens para antecipar a derrubada do véu?
Ela faz uma expressão aflita.
- Não é possível! Não no nosso tempo. Algo mudou!
Eu aceno com a cabeça.
- Você o encontrou! Fen'Harel! Ele te disse isso? Onde está Mythal?
Me levanto e me afasto um pouco, não sabendo bem o que dizer.
- Não sei sobre Mythal, por isso estou aqui, tentando achar respostas. Quanto a Fen'Harel, eu...
Ela se levanta e segura meu pulso.
- Não me diga que você mudou de opinião, Lavellan!
- Não, eu não...
- Bom, porque seu grupo está a sua espera. Varric e Dorian estão viajando juntos, derrotando esses... Demônios.
Meu coração escapa uma batida ao ouvir isso.
- Os conselheiros estão reunidos e Val Royeaux. Todos precisamos de você, Nadia.
Sinto lágrimas se formando em meus olhos.
- Não precisam não. Meu tempo passou e não quero ser um fardo. Não tenho a inteligência necessária para fazer parte do conselho nem a força necessária para lutar.
Ela se espanta com a minha resposta e me sacode pelos ombros.
- Como pode dizer algo assim?! Você precisa voltar!
Eu sorri e a abraço, gostando da sua reação.
- Obrigada, senhora bruxa, mas vou continuar tentando sozinha. Pelo menos por enquanto.
Ela me lança um olhar triste.
- Você o ama, não é? Aquela história que ouvi sobre os Dalish é verdadeira?
Eu balanço minha cabeça.
- Sim. Só posso amar uma vez.
Ela acena com a cabeça.
- Entendi... Seu coração pertence ao Lobo Temível.
Dou com os ombros.
- Só posso culpar a mim mesma, Morrigan. Mas não desisti de lutar. Farei tudo que puder para que somente eu caia em ruína.
Ela sorriu e segurou minha mão. Mas, por algum motivo, nada parecia ser ela. Algo mudou.
- Querida, você já caiu em ruínas anos atrás, quando entregou seu coração à um deus profano. Seu sacrifício foi marcado e não há mais salvação para você.
Suas palavras foram como facadas diretas no coração, mas fizeram sentido.

Deixo o templo de Mythal com respostas e mais perguntas.
Acho que terei de fazer um novo desvio.

Caminhando pela densa floresta vejo ao longe o lobo cinzento. Mas... Olho para mim e vejo que não estou dormindo. Não é um sonho.
Me abaixo e gesticulo para o grande animal que se aproxima lentamente. Penso que estou em perigo real mas, estranhamente, não sinto medo.
O lobo para próximo a mim e cheira meus dedos.
Toco seu focinho e noto que estou cercada por lobos. Uma matilha.
Me levanto devagar, evitando qualquer movimento brusco e continuo a caminhar. Os animais caminham ao meu redor. Não sinto nem um tipo de agressividade por parte dos lobos. Pelo contrário, alguns passam por mim, circulam minhas pernas. Caminho com cuidado para não tropeçar.
Uma sensação de paz e acolhimento transborda dentro do meu peito.
- Para onde estamos indo, Grandão?- falo para o líder da matilha. Ele para e me olha, como se entendesse o que eu disse.
Ao longe vejo um par de olhos brilhantes na escuridão. Não são de nenhum lobo e sim de um deus.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora