Inaceitável

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Estou aceitando o meu destino aos poucos, apesar de sentir revolta e tristeza, não acho justo culpa-lo pela minha escolha. Eu sabia que seria assim e decidi aceitar o que me fosse imposto. Mas aquela estranha sensação dentro de mim não passa.

Nos não nos falamos desde aquele dia. Acredito que ele esteja pensando em como me punir. Não penso mais a respeito disso pois acho que tudo que passei me deixou mais forte. Ou resignada. Mas notei que ele não se dirige mais a mim como 'vhenan' e isso me deixa arrasada. Vhenan é o meu nome nos lábios de um deus. Não aceito nenhum outro nome.

Sacudo minha cabeça para afastar esses pensamentos e vou até a biblioteca do palácio, continuar com a minha pesquisa.
Estou concentrada na leitura sobre os Esquecidos quando escuto um estrondo. Fico em alerta imediatamente e corro na direção do som. Foi na entrada do palácio, próximo à sala dos eluvians. Vejo alguns criados assustados mas não penso muito e corro em direção a sala.  Vejo um dos grandes eluvians completamente destruído e Fen'Harel caído próximo. Corro até ele e me abaixo.

- O que aconteceu?!
Ele está inconsciente e ferido no peito, eu o agarro, tentando me acalmar.
- Solas! Acorda! O que... - Alguém?! Ajude!
Dois criados aparecem e me ajudam com ele. Esta coberto por sangue e uma espécie de pigmento turquesa próximo ao ferimento. Com muito esforço levamos ele ao seu quarto e determino aos criados que busquem água quente e toalhas.

- Acorda, o que aconteceu?! -abro sua camisa e vejo me deparo com um ferimento profundo com veios irradiando ao redor. Ele queima em febre.

Um dos criados entra com a água morna e toalhas, seguido da velha elfa, nossa governanta, com uma expressão bastante assustada.

  - Eu... Eu já vi esse tipo de veneno uma vez no meu clã, quando criança. - ela disse em tom preocupado.

- A cura?? - me sinto em pânico.

A elfa lança um olhar triste.

- É magia antiga... Minha mama era curandeira do meu clã. Ela disse que é uma maldição lançada por um deus antigo.
Pensei imediatamente nos Avenuris.

Aquele foi um dia longo, fiquei ali ao seu lado, controlando a febre. Higienizei e fechei o ferimento.

Com a febre controlada e seu sono mais tranquilo e profundo, decido investigar o que aconteceu.

Observo o enorme eluvian quebrado. Uma passagem para outra parte da encruzilhada, uma que eu nunca tinha acessado. Toco no eluvian ao lado do destruído e o acesso, caminhando pela encruzilhada à procura de algo que me ajude a descobrir o que aconteceu.
Sinto meu estômago embrulhado conforme ando entre varias saídas até que vejo um brilho em um dos eluvians, o que leva até a antiga biblioteca. Atravesso e me deparo com um espírito da sabedoria. Eles são guardiões de muitos conhecimentos dos antigos povos élficos, talvez possa me ajudar.
- Olá, visitante.
Observo com atenção o pobre espírito do conhecimento abandonado naquele lugar solitário.
- O que você sabe sobre antigos feitiços de envenenamento que atinge Elfos anciões?
- Oh? São poucos os venenos que atingem elfos anciões, menos ainda àqueles que possuam poder para conjurá-los. Qual a cor do encantamento?
Eu penso na forma que o envenenamento irradia do ferimento.
- Turquesa, acho.
O espírito flutua por entre as estantes e retorna até mim.
- Sylaise, a antiga deusa da trama vital é capaz de conjurar feitiços mortais para elfos anciões em tom turquesa.
Me recordo do perigo iminente já mencionado anteriormente.
- Ela esta viva? Onde posso encontrar Sylaise?
O espírito se ilumina.
- Onde mais se não na Cidade Dourada?
Sinto uma opressão enorme em meu peito. E penso que tenho que ir ao imaterial... De novo. Peço mais informações sobre Sylaise.

Sem pensar muito ou protelar eu atravesso o eluvian que vai direto ao imaterial, sentindo muito medo. A minha última experiencia desse lado não foi agradável.
Caminho entre os espaços distorcidos, ruínas e criaturas menores, sempre prestando muita atenção. Passo despercebida por praticamente todo o ecossistema, obviamente evitando passar próximo de criaturas maiores.
É impossível não enxergar a Cidade Negra de qualquer parte do imaterial. É gigante e todos os caminhos vão para ela. Meu coração quase saindo do meu peito, mas reuno toda a coragem que me resta e sigo sentido a majestosa construção.

Um espirito desgarrado flutua ao meu redor.
- Olá, vai tentar a sorte com os antigos deuses?
Eu até tento ignorar, mas ele pode me ser útil.
- O que sabe sobre os Avenuris?
O espírito ri e flutua na minha frente.
- Sei que eles estão livres e querem vingança. E você, elfa sem lar, o que você quer?
Ignoro e continuo. Mas ele me segue, rindo.
Quando chego na frente da grande muralha da Cidade Negra me sinto insignificante.
- Com medo, elfa sem lar?
Eu aceno com a cabeça.
- Não se preocupe, eles não vão te fazer mal. Os deuses sentem pena de você.
Me sinto frustrada por ouvir isso sem poder falar nada. É verdade.
Passo as muralhas e caminho, olhando atentamente ao meu redor.
Paro na frente da grande escadaria do templo. Uma construção austera e grandiosa. Nunca vi nada parecido em minha vida.
Respiro fundo e tenho controlar a tempestade de sentimentos dentro de mim. Agora estou aqui e estou sozinha.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora