Sino da meia noite

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Aquela noite parecia diferente. Algo suspenso, estático, vazio pairava no ar.
Eu não conseguia dormir, estava há horas rolando na cama. Sentia uma sensação de pressão no peito, uma angústia inexplicável. Decido me levantar e ir até a cozinha, tomar água.
Caminho pelo corredor dos quartos e vejo a luz do escritório acesa. Sinto um impulso de entrar, mas não o faço, apenas me encosto na porta, tentando ouvir, mas a porta se abre de repente. Olho para cima e aceno, sentindo meu rosto queimando.
- Por quê faz essas coisas, Vhenan?
Pelo menos seu sorriso denuncia que não estou encrencada.
- O que faz acordado?
Ele abre a porta e faz um gesto para que eu entre. Eu nunca havia entrado no seu escritório. Olho ao redor, estantes com livros indo até o teto, uma grande mesa de carvalho no meio da sala. Um sofá com uma aparência bem confortável. Penso que ele dorme aqui muitas noites.
- Há trabalho a fazer, ma'lath. Por isso estou acordado até agora.
Me sento no sofá para, enfim, confirmar que ele é mesmo confortável.
Ele se senta ao meu lado.
- E você, Vhenan, por quê não está dormindo?
- Não sei ao certo... Tem essa sensação... - gesticulando sobre meu peito - Não consigo explicar.
Ele me observa com atenção.
- Você sempre foi muito sensível, Vhenan. Essa sensação que você diz não saber explicar é a iminência do perigo que estamos enfrentando.
- Eu queria saber mais... - resmungo, mal humorada.
Ele sorri, o que é muito estranho. Ele está bem humorado e acabou de mencionar um perigo iminente.
- Você está bem, Solas?
- Por quê pergunta?
Seguro minha respiração, pensando em como por isso em palavras.
- Acho que você está escondendo algo importante e que eu mereço saber.
Ele me olha com uma expressão mais séria agora. Deixa escapar um suspiro desanimado.
- Você tem razão, Vhenan, tem muita coisa que não falei ainda, mas entenda... - ele espreme as sobrancelhas, franzindo a testa como se sentisse dor ou desconforto - Tem muita coisa acontecendo e estou tentando manter o foco.
- Você ainda não me respondeu. Você está bem, Solas?
Ele desvia o olhar, encarando as próprias mãos em silêncio. Então ele diz, sua voz é baixa e grave.
- Talvez você não esteja pronta. Talvez você não queira entender ou aceitar, mas não sou Solas a muito. Talvez nunca tenha sido aquele quem você pensa que sou.
Sinto a distância entre nós aumentando e não sei como impedir que isso aconteça. Toco sua mão, fazendo com que ele saia do vórtice de escuridão em que ele se encontrava.
- Não sei quem você é, mas eu estou com você. Conte comigo, sempre.
Seus olhos se iluminam e um sorriso surge, quebrando toda aquela tensão.
- Você não devia ser assim, Vhenan... - ele aproxima seu rosto do meu, seus dedos mal tocam minha bochecha - Você traz em mim essa tempestade, põe em cheque tudo que acredito, me faz querer ser apenas seu...
Aceito seus lábios nos meus, fechando os olhos, sentindo meu coração disparar. Acompanho os movimentos e a respiração, minha língua enlaçado a dele enquanto sinto seus dedos afagando minha cabeça.
Sua mão me puxando pela cintura, colando meu corpo ao seu, o beijo profundo rouba o ar dos meus pulmões mas em seguida se quebra, minha sôfrega respiração faz meus lábios tremerem.
Ele me encara com olhos vividos, ofegando. Ficamos nos encarando por alguns segundos antes de nos beijarmos novamente, forte, ardente. Seus lábios descem pelo meu queixo e pescoço enquanto eu tombo minha cabeça para trás. Um gemido baixo foge dos meus lábios fazendo com que ele me aperte ainda mais forte. Sinto seu peso sobre mim, arranhando levemente suas costas. Ouço um risinho baixo próximo ao meu ouvido.
- Hum, quer me marcar? - seu sussurro quente na minha orelha me faz tremer.
Ele da uma leve mordida no meu pescoço me fazendo retorcer. Suas mãos estão desamarrando minha blusa com eximia habilidade, eu rio descontraída tentando tirar seu roupão.
Inútil lutar, o roupão me venceu quando senti seus lábios alcançam meu mamilo, me fazendo morder meu lábio.
Agora entendo a tempestade, se movendo violentamente dentro de mim, inundando meu corpo.
Enquanto ainda tento me recuperar da onda de prazer ele me toma, num misto de força e delicadeza, me cobrindo, acolhendo em seus braços, me drenando, me segurando como se tudo estivesse preste a terminar em apenas um suspiro. Aquele suspiro capaz de mudar nossas vidas.
O silencio que se segue me faz sentir intima, próxima. O seu calor dentro e fora de mim me faz sentir amor.
Ele repousa tranquilamente em meus braços, como se fossemos apenas amantes e nada mais.
Apenas um instante depois ele já se prepara para partir.

Ao sair do seu escritório eu sinto como se algo em mim estivesse perdido. Apenas não consigo saber o que é.
- Vhenan?
Fecho a porta atrás de mim e sigo para o meu quarto, fingindo não ouvir. Mas ouço passos apressados e a porta se abre.
- Por favor, não me de as costas! - ele me puxa e me abraça forte, eu fico ali atônita, não entendendo o seu repentino rompante. E eu o abraço em seguida.
- Ir abelas, ma'lath... ( me desculpe, meu amor... )
Sinto seu rosto no meu pescoço, suas mãos me apertando as costas, sussurrando:
- Tel'Abelas, Vhenan, ar lath ma... ( sem desculpas, coração, eu te amo... )

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