Traidora

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Já em Skyhold, caminho em passos rápidos quando sou abordada pelo comandante.
- Sua graça, a missão em Val Royaux... Sem novidades?

Aceno com a cabeça e disparo: - Quanto aos prisioneiros, espero que não tenha ocorrido nenhum incidente.

O comandante balançou a cabeça, caminhando apressadamente ao me lado.
- Não senhora, nenhuma palavra. Não fizemos interrogatório conforme sua ordem.
- Entendido. Eu conduzirei o interrogatório pessoalmente.

Entro em minha sala e me jogo em uma pequena poltrona no canto, olho pela janela as cordilheiras geladas mas meus olhos não focam em nada.
Me sinto tão cansada, não só fisicamente. Preciso descer às celas para interrogar os prisioneiros... Meu povo...

Adentro a cela onde estão 3 Dalish sentados no chão. Estou acompanhada de um guarda.
Gesticulo para que eles se levantem, os três levantam sem questionar. Aponto para a mulher no grupo.
- Venha comigo, por favor.
A mulher, jovem, baixa a cabeça e caminha em direção à porta, o guarda a acompanha.

Me sento na cadeira em frente a grande mesa, gesticulo para que a jovem Dalish sentar-se.
- Me diga, qual o seu nome?
A jovem me olha nos olhos porém não diz nada.
- Ahn mai melin? ( Qual é o seu nome? ) - repito a pergunta.
Ela me olha de maneira diferente, furiosa.
- Al tel'gir ma sastrahn! Hanal'ghilan ( 'Não devo nada à você!' a expressão que segue pode ser traduzida como 'traidora da própria espécie' )

Me encosto na cadeira e suspiro, entendendo que não vou conseguir faze-la falar.
- Ahnsul? ( Por quê? )
- Ma ane tel'mirth! ( Você é uma vergonha! )
Nesse momento me sinto muito mal, uma terrível sensação de sufocamento, uma pressão no meu peito...

Me levanto com certa dificuldade e me volto ao guarda.
- Leve-a de volta a cela.
Caminho cambaleando até a minha sala, tentando controlar minha respiração. A ansiedade toma conta de mim.

'Sou mesmo uma traidora da minha raça!'

Toco meu rosto, me recordando da minha vallaslin apagada...

'Sou uma vergonha para o meu povo!'

Começo a chorar copiosamente, soluçando e tremendo, tanta dor e tristeza que me impedem de continuar a viver.
Passo muito tempo assim, encolhida em um canto, chorando toda mágoa, toda solidão.
Me dou conta de quão sozinha estou, não pertenço. A nada, ninguém, lugar nenhum...

Nada me lembro de quanto tempo se
passou mas finalmente as lágrimas secaram. Sinto meu coração apertado, ainda sofrendo com essa revelação. A revelação de que agora estou completamente sozinha. Não tenho meu clan, meus amigos, a inquisição, meu coração...

Estou fraca demais para lutar. Muitas crises para gerir, ainda tenho pessoas que dependem de mim.

Ouço alguém bater.
- Sua graça? Está bem? A matrona pediu para que checasse...
Era a voz do jovem assistente. Talvez eu tenha ficado tempo demais aqui. Mas não podia deixa-lo me ver assim. Ninguém pode me ver assim.
- Eu estou bem! Já desço.

Com dificuldade me levanto e vou até o banheiro, lavo meu rosto e encaro o espelho, observando meu rosto.
Olheiras escuras, bolsas sob os olhos de tanto chorar, olhos vermelhos e minha testa lisa, sem a valasllin.

'Você é tão linda...'

Fecho os olhos com tanta força, como se eu pudesse apagar essa memória.
Respiro fundo e, finalmente, saio da minha sala.

No grande salão me deparo com a matrona e meu assistente, ambos com rostos aflitos me olhando.
- O guarda que estava com a senhora nos disse que havia algo de errado...
Balancei minha cabeça.
- Nada de errado, posso garantir... - a grande mulher me abraçou forte repentinamente.
- Não precisa ser forte o tempo todo, vossa graça. Você pode descansar agora... - ela sussurrou no meu ouvido enquanto me apertava em um forte abraço.
- Muito obrigada... - foi o máximo que eu pude falar.

Sob o véuOnde histórias criam vida. Descubra agora