Capítulo VIII

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 Uma semana depois. Acordaram, na escola, nove pessoas e um Adhemar. O espaço era liminar entre a mente e o corpo, escuro e limpo como normalmente ficava depois de ser fechado, e pelas janelas não se via nada do lado de fora — mas podiam sentir que não era dia.

Marilúcia foi a primeira a se levantar, a fim de checar essa afirmação. Por uma fresta da persiana, ela conseguiu ver alguns raios de luz fria saindo. Era noite. Mas o que mais lhe chocou não foi isso: foi o fato de que, mesmo abrindo a cobertura, não conseguia ver quase nada. Um grande objeto metálico não identificado tampava sua vista quase que totalmente.

— O que aconteceu? — perguntou Verônica, confusa, enquanto punha a mão na cabeça. — Como eu vim parar aqui?

— Eu... Eu também não me lembro de nada... — afirmou Loch.

— Alguém se lembra de como veio parar aqui? — interrompeu Priscila.

Todos se olharam, a dor de cabeça e a indisposição fatigante dominando seus corpos. Ninguém se pronunciou. Estavam todos igualmente confusos.

Adhemar se levantou. Observava os arredores com uma surpresa instigante, como se sentisse uma peculiar angústia. Olhou para cada um dos que o acompanhavam, a cada rosto esboçando um pouco mais de choque. Era como se estivesse prestes a chorar.

— Quem é você? — indagou Priscila, confusa.

— Deve ser um faxineiro — interveio Marilúcia. Apesar do temor generalizado, ela era a que parecia mais centrada na situação. No entanto, é interessante se perguntar se, por dentro, seus pensamentos estavam tão organizados quanto por fora. — Qual é o seu nome, senhor?

Adhemar permaneceu olhando para todos, ainda em pavor.

— Senhor? — Rodrigo perguntou.

O funcionário, desesperado, começou a gesticular com as mãos, diversas vezes, repetindo sinais em LIBRAS. Todos os outros se olharam, entre si, a fim de saber se alguém conseguia entender o que o homem falava. A resposta implícita e silenciosa foi "Não".

— Pessoal — começou Priscila, levantando-se. —, vamos todos sair daqui. Por favor, vamos nos organizar. Cada um se separa e começa a procurar por uma saída diferente. Com certeza, deve ter uma forma de escapar, nem que seja necessário arrombar alguma entrada ou saída. Eu vou para esse lado.

Todos, ainda um pouco assustados com toda a situação, respectivamente se ergueram e se espalharam. Adhemar foi o único que permaneceu estático, perdido enquanto todos os outros saíam por locais diferentes. Marilúcia se virou para ele, dizendo:

— Terceiro andar. Terceiro andar! — E apontou para o terceiro piso, que era visível dali por ser cortado por um enorme mezanino.

O faxineiro entendeu o recado, seguindo a ordem da diretora e subindo. A mesma, aproveitando a situação, o seguiu, pretendendo procurar por alguma esperança no segundo andar. Era confortável procurar nos andares superiores, quase que como uma vista panorâmica: dali, era possível observar tudo o que acontecia nos andares inferiores. Era quase como se todos os pavimentos fossem um só, conectados por uma grande abertura que transformava o piso em uma espécie de plataforma.

Marilúcia finalmente chegou. Com paciência, escorou suas mãos no balaústre do mezanino e olhou para baixo. De certa forma, se sentia superior — não era à toa que geria uma escola. Portanto, sentiu um pouco de alívio. Fechou os olhos, suspirou e sorriu. Afinal, independentemente do que acontecesse, ela sempre, sob qualquer circunstância, seria a figura máxima daquele recinto, e ninguém jamais questionaria sua imagem.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora