Capítulo X

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 — Sejam todos muito bem-vindos ao meu pequeno experimento — proferiu a mulher, de forma sarcástica. Os dois jovens podiam ouvir os ecos de sua voz por toda escola. Provavelmente, aquela mesma gravação estava tocando em absolutamente todos os monitores da escola, a fim de que todos pudessem assistir. — Meu nome é Anna, eu fui a psicóloga escolar até semana passada, quando fui demitida. Desde então, tenho preparado um pequeno jogo para todos vocês. Acredito que estejam confusos, perdidos, assustados. Mas peço que se acalmem. Isso logo vai passar.

Um sorriso tomou sua face, antes que ela prosseguisse:

— Eu já pensava em fazer algo assim há muito tempo. Já tinha tudo planejado, na realidade. Só faltava o impulso final, que foi minha demissão. Eu contei com ajuda de pessoas de índoles realmente duvidosas para conseguir preparar tudo: as abduções, as armadilhas e as trancas. Vocês realmente não irão conseguir sair, uma vez que providenciei para que todas as possíveis saídas estivessem inacessíveis. É até uma perda de tempo tentar. E digo 'perda de tempo' porque todas as suas vidas estão em risco.

Outra pausa. Todos se olharam, abismados, tentando processar o que acabaram de ouvir.

— Não só obstruí todos os escapes, como também transformei a escola numa sala acústica: tudo o que falarem vai ecoar entre vocês, e só vocês conseguirão se ouvir. Ah, e antes que se perguntem, saiba que estou filmando todos, em todas as situações possíveis. Durante meus últimos meses na escola, fui capaz de implantar escutas e pequenas câmeras por todos os corredores e salas, sem que ninguém percebesse. Nem tentem destruir todas, porque são muitas — Bebeu um gole d'água. — Mas enfim, vamos à parte que importa: por que eu estou fazendo isso, e qual exatamente é o meu intuito?

"Desde o início da minha carreira, sempre houve uma parte da mente humana que me fascinou: o inconsciente. Digo, aqueles valores e segredos que nós escondemos de todos, inclusive de nós mesmos. Sempre soube que o ser humano é um ser social e naturalmente altruísta, mas queria saber até quando esse altruísmo instintivo ia, e com quem. Portanto, vocês serão todos ratos de laboratório, que irão estudar por mim o comportamento humano em situações de emergência.

"Vocês tem até as 6 horas da manhã para terminar o jogo. Se tudo der certo, essa gravação será transmitida à meia-noite, o que significa que vocês ainda tem seis horas pela frente. Sem usar celulares ou internet, uma vez que quase não há energia elétrica e eu aproveitei a inconsciência de vocês para me apropriar de seus eletrônicos, vocês terão que enfrentar uns aos outros. Ah, e caso estejam se perguntando, essa gravação está sendo transmitida por meio de baterias, que coloquei em todos os monitores. Creio que não preciso nem falar que destruir a bateria ou as fitas com os anúncios não é a melhor opção que vocês podem escolher.

"Vocês são dez pessoas, por enquanto. No entanto, às 6 horas, vocês irão se matar entre si, de forma que só irá restar um sobrevivente. Se, às 6 horas, houver mais de um sobrevivente, meus parceiros irão visitar a escola e matar todos. Se houver somente um, eles irão poupá-lo, porque ele terá respeitado as regras do jogo. Lembrem-se que qualquer regra deve ser respeitada: não quebrar monitores, câmeras ou escutas, não poupar uns aos outros, não fugir da escola, não pedir ajuda. Contrariar as regras irá resultar na morte de todos os rebeldes. Por isso, imploro que respeitem o jogo. Eu também irei respeitá-lo, claro. Prometo a todos que não vou causar nenhuma morte antes das 6 horas. Será tudo entre vocês, hihihihi.

"Estou assistindo a vocês a todo momento. Boa sorte e bom jogo."

. . .

Todos se encontraram no corredor principal, com exceção de Adhemar. Seus olhares se cruzaram constantemente, indicando um temor irrefreável e intenso. Luiza era a que mais se afundava em caos, ofegante e inconstante. Cruzava os braços, omitindo o rosto e tentando não surtar em meio àquela situação tão imprevisível.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora