Capítulo IX

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 Felipe acordou lentamente. Sua respiração estava pesada e ofegante, à medida que o cômodo em que se encontrava estava úmido e empoeirado, especialmente considerando a má ventilação e a estação do ano, desfavorável ao calor.

Olhou para os lados, um desgosto crescente em sua face. Múltiplos materiais de limpeza, livros repletos de pó e outros objetos inúmeros — estava no porão da escola.

Levantou-se de forma vagarosa, a cabeça ainda latente por conta do poderoso sedativo usado para destituí-lo. Com a mão na testa, tentou ter uma visão mais analítica de seu ambiente. E foi então que, olhando para trás, tomou um grande susto: Serena estava caída, o rosto virado para longe, as pernas e costas sujas por uma crosta de sangue seco.

— Serena! — gritou, pondo-se para ajudá-la de imediato. Estava viva e acordada. Imediatamente, chorou de alívio. Achou que podia ter sido assassinada. — Serena, como você tá?

Não respondeu. Nem sequer esboçou uma reação. Era como se realmente estivesse morta. Somente uma mera lágrima, perpassando sua bochecha, denunciava o pouco de vida que ainda lhe penetrava.

— Serena? O que houve?

Com muito desalento, a jovem gradualmente moveu os lábios, formulando uma pequena e quase inaudível fala enquanto seus olhos se fecharam, em dor:

Verônica...

Soltou-a. Em um segundo, pareceu entender tudo o que aconteceu — pela expressão, pela tristeza iminente, pelo senso de desesperança, pelo teor mórbido de sua lágrima, pelo tom fúnebre de sua voz. Em completo choque, o jovem balbuciou:

— Ela... Ela...?

Nenhuma resposta. O silêncio cortante serviu como uma aterrorizante conclusão à sua frase.

Lopes chegou a gemer, uma única vez, em desespero. Cada músculo de seu corpo imediatamente se contraiu, conforme ela se colocou em posição fetal sobre aquele tapete sufocante. Não conseguia mais reagir.

Subitamente, um monitor se acendeu. Aparentemente, uma pequena televisão de tubo foi posta de forma forçada numa das quinas, e algumas câmeras e escutas rodeavam os dois.

— Bom dia — falou Anna, na tela. Andrade teve sua atenção capturada. Serena permaneceu estática. — Vocês dois foram os únicos que sobreviveram, no fim. Como podem adivinhar, eu menti, blefei. Na verdade, eu nunca tive nenhum "comparsa". Minha classe é muito alta para me envolver com a criminalidade. Meu único cúmplice durante toda essa jogatina foi Victor, que agora está triunfando enquanto vocês dois ainda têm que passar por uma etapa final.

"A etapa final, no caso, é bem simples: vocês estão trancados num porão sem ventilação. Não vai demorar muito para que morram por asfixia. Só um de vocês ainda pode sobreviver, se decidir trair o outro e acabar com a vida dele com antecedência. Eu sei, não tenho muita credibilidade agora para ditar regras, mas acho que vale a pena arriscar. Afinal, ou vocês seguem minha proposta à risca, ou vocês morrem, os dois, sem chance de jamais escapar. Estou curiosa para ver como vão reagir. Até mais, hihihihi."

Andrade recolheu-se, frívolo. Pela primeira vez durante todo esse inferno, sentiu que tudo era sobre ele. E, ao invés de confortá-lo, isso somente o aterrorizou.

Pode me matar — Serena sussurrou, ao longe. O garoto se curvou em sua direção, incrédulo com o que acabara de ouvir. Ela nem sequer o olhava. — Pode me matar.

— O-O quê? Serena?

— Eu não me sentiria bem se saísse daqui. Ver o corpo da Verônica diante dos meus olhos me fez perceber que... não importa mais. Se eu saísse daqui viva, seria com um monte de traumas e problemas que eu nunca mais conseguiria curar. Sendo assim, prefiro morrer. E fico mais do que feliz se a minha morte significar a sua salvação.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora