Verônica caminhou de forma vagarosa e contínua pelos corredores. Sua ansiedade permanecia consumindo-a, conforme ela seguia Serena de forma ávida e cautelosa. Não queria parecer paranoica, mas a situação era deveras assustadora — Felipe, afinal, estava portando uma faca por intuitos desconhecidos.
Parou. Sem ser vista por ninguém, escondeu-se atrás de uma lixeira próxima da porta, analisando a cena que se desenrolava ao longe. Se sentia mal por invadir a privacidade dos dois dessa forma, mas, ao mesmo tempo, era necessário — só por precaução.
Passaram-se alguns minutos sem nada acontecer. Choros, berros e soluços eram os únicos grunhidos que a jovem Paes podia distinguir. E, apesar de suspeitar que algum ruído ou outro poderia se tratar de um ataque, a emoção que sentiu de forma majoritária foi o alívio. Não havia nada para se preocupar. Felipe não machucaria nem as unhas de Serena. Na verdade, era ele quem mais estava machucado.
Depois de algum tempo, finalmente se levantou e voltou ao refeitório. A única coisa que precisava temer era, como sempre, a melhor forma de escapar dessa espelunca. Pelos seus cálculos e observações, já deviam ser quatro ou cinco horas da manhã. O prazo final do genocídio não estava distante.
— Verônica — uma voz tenebrosamente familiar ressonou, detrás do seu banco.
A garota gelou. Não conseguiu parar de tremular enquanto sua pele empalidecia. Queria fechar os olhos e enfiar-se no chão, mas era impossível.
— Diogo... — De todas as suas preocupações, ele foi a única que fugiu de sua cabeça.
Tentando disfarçar sua aparência totalmente bagunçada, a jovem se virou em direção a ele, mantendo em seu rosto um sorriso largo e falso, em vão.
— Verônica, aconteceu alguma coisa? — Franziu o cenho, em curiosidade.
— O-O quê? — gaguejou, tentando aparentar inocência. Sua mão arrumou uma mecha que pendia em sua testa. — N-Não...
— Tá bom, então — Sentou-se, retirando a expressão de desconfiança do rosto. — Não tá com fome?
Um suspiro enorme de alívio saiu pela boca da menina. Não pôde disfarçar sua satisfação.
— Não.
— Eu tô. Acho que vou pegar alguma coisa pra comer.
— Tá.
Com uma naturalidade invejável naquela situação tão horripilante, o garoto se levantou e foi até a mesa de buffet, selecionando ali o congelado que mais lhe agradava. Sua parceira, enquanto isso, permaneceu sentada, inerte, assistindo à cena em absoluto pavor. Chegava a se sentir culpada, ao vê-lo ignorante de tudo o que acontecia. Todavia, não podia contar. Não agora. Conhecendo Diogo e o ambiente em que estava inserida, seria arriscado demais, podendo ter custos irreversíveis para si e Serena.
Passos. Ambos os integrantes do casal voltaram sua atenção para a escura passarela, sobre a qual transcorria uma pessoa familiar. E, envolto nas sombras, surgiu Rodrigo, com os braços cruzados e a expressão estratégica.
— Olá, crianças. Vocês estão bem?
Verônica novamente sentiu aquele mesmo calafrio, tão familiar e pungente, manifestar-se no peito, abaixando a cabeça imediatamente e recolhendo-se, como se sentisse hipotermia. Enfim, balbuciou, de forma quase inaudível:
— Sim.
— Ótimo. Vocês viram o Victor por aí?
— Não, por quê? — Paes sentiu-se instigada.
— Tô me encarregando de ver o que cada um de vocês anda fazendo. Vocês sabem, precaução... Enfim, achei o Felipe e a Serena no banheiro e vocês aqui, mas o Victor ainda não encontrei. Deve ter ido pro segundo andar?
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A Psicologia do Assassinato
Misterio / SuspensoNo ano de 2027, uma psicóloga macabra aprisiona dez pessoas dentro de uma escola, dando-os apenas uma ordem: matar uns aos outros sem dó nem piedade. Numa conjectura de medo e mentiras, cada um dos personagens se envolve em dilemas morais e facetas...