Capítulo V

17 3 30
                                    

 Verônica caminhou de forma vagarosa e contínua pelos corredores. Sua ansiedade permanecia consumindo-a, conforme ela seguia Serena de forma ávida e cautelosa. Não queria parecer paranoica, mas a situação era deveras assustadora — Felipe, afinal, estava portando uma faca por intuitos desconhecidos.

Parou. Sem ser vista por ninguém, escondeu-se atrás de uma lixeira próxima da porta, analisando a cena que se desenrolava ao longe. Se sentia mal por invadir a privacidade dos dois dessa forma, mas, ao mesmo tempo, era necessário — só por precaução.

Passaram-se alguns minutos sem nada acontecer. Choros, berros e soluços eram os únicos grunhidos que a jovem Paes podia distinguir. E, apesar de suspeitar que algum ruído ou outro poderia se tratar de um ataque, a emoção que sentiu de forma majoritária foi o alívio. Não havia nada para se preocupar. Felipe não machucaria nem as unhas de Serena. Na verdade, era ele quem mais estava machucado.

Depois de algum tempo, finalmente se levantou e voltou ao refeitório. A única coisa que precisava temer era, como sempre, a melhor forma de escapar dessa espelunca. Pelos seus cálculos e observações, já deviam ser quatro ou cinco horas da manhã. O prazo final do genocídio não estava distante.

Verônica — uma voz tenebrosamente familiar ressonou, detrás do seu banco.

A garota gelou. Não conseguiu parar de tremular enquanto sua pele empalidecia. Queria fechar os olhos e enfiar-se no chão, mas era impossível.

— Diogo... — De todas as suas preocupações, ele foi a única que fugiu de sua cabeça.

Tentando disfarçar sua aparência totalmente bagunçada, a jovem se virou em direção a ele, mantendo em seu rosto um sorriso largo e falso, em vão.

— Verônica, aconteceu alguma coisa? — Franziu o cenho, em curiosidade.

— O-O quê? — gaguejou, tentando aparentar inocência. Sua mão arrumou uma mecha que pendia em sua testa. — N-Não...

— Tá bom, então — Sentou-se, retirando a expressão de desconfiança do rosto. — Não tá com fome?

Um suspiro enorme de alívio saiu pela boca da menina. Não pôde disfarçar sua satisfação.

— Não.

— Eu tô. Acho que vou pegar alguma coisa pra comer.

— Tá.

Com uma naturalidade invejável naquela situação tão horripilante, o garoto se levantou e foi até a mesa de buffet, selecionando ali o congelado que mais lhe agradava. Sua parceira, enquanto isso, permaneceu sentada, inerte, assistindo à cena em absoluto pavor. Chegava a se sentir culpada, ao vê-lo ignorante de tudo o que acontecia. Todavia, não podia contar. Não agora. Conhecendo Diogo e o ambiente em que estava inserida, seria arriscado demais, podendo ter custos irreversíveis para si e Serena.

Passos. Ambos os integrantes do casal voltaram sua atenção para a escura passarela, sobre a qual transcorria uma pessoa familiar. E, envolto nas sombras, surgiu Rodrigo, com os braços cruzados e a expressão estratégica.

— Olá, crianças. Vocês estão bem?

Verônica novamente sentiu aquele mesmo calafrio, tão familiar e pungente, manifestar-se no peito, abaixando a cabeça imediatamente e recolhendo-se, como se sentisse hipotermia. Enfim, balbuciou, de forma quase inaudível:

— Sim.

— Ótimo. Vocês viram o Victor por aí?

— Não, por quê? — Paes sentiu-se instigada.

— Tô me encarregando de ver o que cada um de vocês anda fazendo. Vocês sabem, precaução... Enfim, achei o Felipe e a Serena no banheiro e vocês aqui, mas o Victor ainda não encontrei. Deve ter ido pro segundo andar?

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora