Capítulo III

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 O refeitório, por algum motivo, estava repleto de lanches. Claro, muitos eram ultraprocessados ou frutas puras. Era um pouco deprimente imaginar que, se os desejos de Anna fossem cumpridos, muitos ali teriam cachorros quentes ou bananas como última refeição.

— Ah, é um milagre! — A coordenadora cor-de-rosa sorria, quase que lacrimejando de emoção. — Estaremos satisfeitos nessa noite, pelo menos!

— É uma situação deplorável — Marilúcia estava ranzinza. — Vou preparar lanches para que todos possam comer. Quem não quiser, me avise com antecedência, para que eu não desperdice meu tempo.

— Eu não vou querer — iniciou Verônica.

— Nem eu — respondeu Felipe.

— Eu muito menos — Serena cruzou os braços.

— Então — A diretora suspirou. —, quem quiser comer, se pronuncie.

Somente duas pessoas se pronunciaram.

. . .

Diogo havia sido educadamente fornecido com um hambúrguer de carne e queijo. O gosto era quase tão artificial e plastificado quanto ele.

Ao seu lado, Verônica o observava, de forma lamentável.

— Quer um pedaço? — perguntou Nunes, virando a cabeça brevemente.

— Não — Recolheu-se, antes de suspirar em desalento.

Logo, a moça se afastou de seu parceiro. Sentia algo de mórbido naquela situação toda — isso é, além do fato de estar trancafiada com outras oito pessoas para morrer. Parecia que aquele terrível jogo mostrava suas fragilidades internas mais do que queria mostrar, especialmente suas relações com os outros.

Levantou-se. O refeitório era constituído por múltiplos bancos de plástico branco. No entanto, somente dois estavam ocupados, e em cantos opostos. Num, era Diogo e ela. Noutro, era a excluída Luiza. Verônica se perguntou quais seriam as implicações dessa distância tão acentuada.

Com seus tênis pretos de marca, percorreu o longínquo caminho de um local ao outro. Contudo, Luiza não conseguiu demonstrar nada além de indignação ao vê-la.

Seu rosto estava firme, em contraste ao de Paes. O cenho franzido e as sobrancelhas retas demonstravam um discreto fulgor dentro de si, uma rivalidade conceitual que se iniciou na semana passada. Era uma concepção quase cármica de vingança.

— Oi — balbuciou a garota popular, timidamente.

— O que você quer? — perguntou, enquanto mastigava seu macarrão industrializado.

— Olha, eu sinto muito. Não devia ter agido daquele jeito com você, semana passada.

Luiza suspirou. Enfim, continuou comendo, ignorando o comentário de Verônica.

— Ei, você não acha perigoso comer isso? Pode estar envenenado.

— Foda-se. Eu vou morrer essa noite, mesmo, de qualquer forma. Então que seja com um bom lanche na barriga.

— Verônica! — gritou Diogo, do outro canto da sala. A jovem se virou, o vendo antes dele sinalizar para que viesse até sua mesa.

A garota seguiu o pedido, desmotivada. Uma notável fadiga dominava sua face.

— O que foi, Diogo?

— Por que você foi falar com aquela chata, lá?

— Ela tem razão em alguns pontos...

— Ah, Verônica... Não fica abaixando a sua autoestima por uma menina mal resolvida. A gente vai ficar bem, tá?

— Tá — Não sentia tanta confiança ao afirmar.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora