Capítulo IV

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 — Ela está morta? — perguntou Priscila, aos prantos.

Serena tardou em responder. Apesar do momentâneo choque de ter visto uma pessoa morrer, já não mais esboçava nenhuma reação, nem mesmo surpresa. Somente essa demora traduziu-se em uma resposta.

Verônica se aproximou, como que em uma mórbida curiosidade. Suas pequenas mãos tremulavam de forma intensa, enquanto ela entrevia, sobre Serena, a morta Luiza. As lágrimas que saíam de seus olhos, tão vívidas quanto os calafrios que transtornavam seus lábios, exibiam um pavor inerente à garota. Estava na frente de um corpo.

Victor permaneceu parado, observando aquela monstruosa cena. Seus olhos logo marejaram. Seu corpo não conseguiu se mover, nem sequer por um único dedo. E sua mente também parecia tão chocada e perplexa como o resto, não podendo esboçar nenhum pensamento senão espanto. Se sentia pálido e imóvel. Como o cadáver.

Alguns silenciosos minutos se passaram. Felipe olhou para o lado, sua vista subitamente fitando Loch. Queria pensar nele, e nele somente, pelo resto da noite. Era a única forma de fingir que nada estava acontecendo, mesmo que estivesse. Era uma ilusão. Uma droga. Um entorpecente. E, assim como toda droga, mesmo que quisesse muito, nunca conseguia o suficiente. Estava cada vez mais difícil mascarar, dentro de si, o medo iminente da morte.

Depois de um tempo, Serena se levantou e andou para longe, a passos regulares. Todos respiraram fundo e a seguiram. O minuto de silêncio em homenagem a Luiza já havia sido feito. E, mesmo com os burburinhos e superações, permaneceram ali três pessoas: Victor, Felipe e Verônica. Os três nas exatas mesmas posições de antes.

Victor gradualmente voltou a si. Com o tempo, cerrou suas mãos em punho, olhando para os lados de forma a retornar à realidade. Por um breve vislumbre, chegou a realizar um ocasional contato visual com Felipe, que o observava atentamente. No entanto, logo se desfez, conforme Andrade desviou sua vista dele.

De modo calmo e ainda desnorteado, Loch saiu. Chegou a tropeçar e quase cair no chão, em dado momento. Felipe se dispôs a ajudá-lo, mas não foi necessário. O jovem apoiou-se em uma parede, com a mesma facilidade que caiu, e se estabilizou, antes de realmente deixar os outros dois ali.

Verônica aproveitou essa deixa para se aproximar ainda mais do corpo. Como Serena, ajoelhou-se perto do cadáver, sujando suas pernas de vômito. Não se importava mais. Nada importava mais.

Felipe observou-a com desalento. Enfim, aproximou-se igualmente, permanecendo em pé, a fim de consolá-la.

— É... É uma pena... — gaguejou o garoto, timidamente.

Paes não respondeu. Ao invés, abaixou a cabeça e, com os olhos manchados d'água, semeou um beijo na testa de Luiza.

Eu sinto muito — murmurou ela, de forma rouca e craquelada, antes de desabar em lágrimas. Felipe teve um pique de esclarecimento: aquele momento não era dele.

Com a postura submissa e abalada, o jovem saiu da sala. E seus olhos também se encheram de lágrimas de medo e apreensão.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora