Capítulo X

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 Serena estava empolgada. Depois de ter deixado Felipe à mercê de sua paixão platônica, voltou para o assento em que estava, confiante e leve como sempre. Verônica estava ali, à sua frente.

— Verônica? — Uma excepcional curiosidade invadiu a jovem. — O que você faz aqui?

— Nada... — Tremulou, com seu rosto nervoso e embranquecido. — Eu só...

— Tá tudo bem?

— Tá, sim...

— Você parece estranha. Não foi envenenada?

Silêncio. Paes não exibiu nada além de puro pavor em seus olhos.

Calmamente, Serena seguiu em frente. Pegou sua garrafa d'água, que havia permanecido no banco, e colocou-a na boca. No entanto, antes que pudesse tragar um só gole, Verônica bateu furiosamente em sua mão, assim derrubando o objeto. Como o bico estava aberto, seu vestido branco se enxaguou por completo. A garrafa, por sua vez, titubeou brevemente no colo de sua dona, antes de enfim cair no chão.

— O que...? — Serena logo olhou para a garota de cabelos negros, que se levantara depois de cometer sua tramoia. Em seu rosto, os olhos se enchiam como estufas. — Verônica?

— Eu... — Firmou o rosto, por meio do franzir de suas sobrancelhas delicadas.

Sem mais falar uma palavra, Verônica virou-se e saiu. Serena, de forma humilhante, foi deixada ali, molhada por completo.

. . .

Priscila estava inquieta. Seus saltos altos cor-de-rosa quase que escorriam pelos corredores, tão breves eram os intervalos de um passo a outro. Perdida em meio à escuridão — as luzes de emergência só se ligavam em alguns pontos específicos —, guiava-se pelo local tateando calmamente as paredes. Enfim, sentiu o que tanto queria: a textura impávida de mogno, achatada em adornos burlescos. Era ali.

Pacientemente, abriu a porta que se apresentava. Nada. Como previsto, a maçaneta estava trancada.

De seu bolso, apanhou um enorme molho de chaves. Não pôde revelar a ninguém que o possuía, pois sabia que todos iriam atrás dela, como sanguessugas famintos, procurando roubá-lo. Precisava dele. Era sua arma secreta para se esconder nos lugares mais inacessíveis, em caso de necessidade.

Finalmente, a porta se abriu. Um peso enorme, no formato de um bloco maciço de metal, bloqueava a sala de possíveis arrombamentos. Claramente, ideia de Anna.

Esgueirou-se entre as frestas do grande objeto. Enfim, conseguiu chegar no enorme local: o fato de ser uma sala estupidamente grande não a ajudava nem um pouco a se guiar. Contudo, logo sentiu a textura bem esculpida daquela mesa plana de abeto. Odiava madeira, mas Marilúcia sempre fora obcecada com móveis desse tipo.

Calmamente, tateou o objeto, até finalmente perceber o estranho relevo em seu centro. Com astúcia, retirou a tampa do compartimento, deixando com que sua mão ansiosa buscasse pela arma que ali estava.

Achou. Com inconstância, apanhou o revólver nas mãos e ergueu-o: sairia viva daquele lugar, não importava o custo.

. . .

— Tá — Diogo proferiu, antes de parar no corredor. Os dois meninos, atrás de si, o acompanhavam incertos e temerosos com o escuro. — Vamos nos dividir.

— Nos dividir? — Felipe pareceu relutante.

— É. Alguma coisa contra? — Diogo franziu o cenho, observando-o de forma pesada e rígida.

— É que... — Andrade olhou ao seu lado, tentando fugir do olhar inquisidor de Diogo. Victor o encarava igualmente, com uma expressão neutra. Esses olhos eram ainda mais inquisidores. — Nada! Nada! Esquece.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora