Capítulo V

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 Marilúcia, Priscila e Rodrigo estavam isolados na sala dos professores. O ambiente estava obscuro e incerto.

— Então, o que vocês acham que aconteceu? — começou Marilúcia, bebendo um copo descartável de café.

— Marilúcia! — exclamou Priscila. — Você não tem medo de que o café esteja envenenado?

— Não — Sua resposta foi tão seca quanto sua pele.

— Pois eu acho que você deveria — complementou Rodrigo, seriamente. — Acho que alguém matou os dois.

— Dois? — Priscila pareceu chocada por um momento. — Ah, o faxineiro!

— Não entendo isso, Rodrigo — A diretora permanecia cínica. — Obviamente foi uma casualidade. Provavelmente a própria psicóloga envenenou a pobre garota.

— Aí que está! — Levantou de seu assento, abruptamente. — Queria esperar o momento certo para contar, mas agora que somos só nós três, acho que não tem problemas: eu vi um pacote usado de veneno de rato no lixo!

— E daí? — Levantou igualmente, dessa vez com delicadeza. — Isso não indica nada. Anna poderia ter posto o veneno no prato, ou em um dos pacotes de comida, não sei!

— Os pacotes estavam todos fechados! Marilúcia, você foi quem preparou as comidas? Não notou alguém invadindo e colocando o veneno?

— Não! Na realidade, eu permaneci bem atenta quanto a isso, e não presenciei nada. É impossível, de fato, que alguém tenha envenenado a comida da garota sem que eu tivesse visto.

— Então... — Franziu o cenho.

— O quê? — Cruzou os braços, tentando equilibrar-se em sua postura imponente. — Agora vai dizer que eu matei a menina?

— Marilúcia, você tem certeza que ninguém...?

— Absoluta! E é absurdo me acusar de algo assim!

— Acalmem-se! — Priscila interveio, levantando e se colocando entre os dois. — Por favor, não vamos brigar! Precisamos dar um bom exemplo para os outros!

— Bom exemplo... Eu tento dar um bom exemplo todos os dias! — A outra mulher respondeu, inconformada. — Mas me cobram cada vez mais! Alunos, professores... Eu estou exausta. As dores que eu sinto estão cada vez mais fortes!

— Eu sinto muito — Priscila fez um rosto penoso. — Espero que você consiga passar por tudo isso, Marilúcia. Mas, ao mesmo tempo, você tem que se acalmar. Aliás, vocês dois!

— Você matou os dois, Marilúcia? — Rodrigo parecia nem estar ouvindo as falas da coordenadora.

— Eu não... Por que você...?

— Marilúcia!

— Rodrigo! — Priscila interveio, mais uma vez. Dessa vez, nem mesmo Marilúcia parecia estar prestando atenção em sua voz fina. — Vocês precisam parar de...

— Tá bom! — A diretora empurrou a mulher para o lado, antes de dar um passo a frente e se impor em frente a Rodrigo. — Fui eu! Eu empurrei o homem do terceiro andar e envenenei a garota!

Os olhos do homem se arregalaram. Ele suspirou de forma pesada, como que em desaprovação, e cruzou os braços. A outra mulher, enquanto isso, permaneceu caída no chão, sentindo a dor da queda e observando a diretora com surpresa. Estava espantada. A pessoa em que mais confiava, em que mais depositava esperança, segundo suas próprias palavras, foi capaz de cometer dois assassinatos em menos de duas horas.

Você é um monstro! — Rodrigo disse, assertivo.

— Você não entende... Nunca entenderia... Eu estive sob uma pressão absurda durante anos, décadas até! É horrível, Rodrigo. Os anos passam, as pessoas me temem, me respeitam, mas parece que algo ainda falta, lá dentro. Parece que ainda tem um vazio me atormentando, dia após dia, e que nenhum dos meus princípios poderia preenchê-lo. Eu finjo que sou firme, que sou forte, que sou superior a todos aqui, mas me sinto tão fraca que... — Cogitou antes de continuar. — É como se eu fosse um desses ratos. Sim, ratos! São todos ratos. Sanguessugas, parasitas, isso e nada mais. Os professores, os alunos, os funcionários, são todos pragas que me corroem, dia após dia! Eu não tenho um segundo para relaxar, para me acalmar, e ainda tenho que aguentar todas as reclamações que ouço, de todos! Todos! Ninguém nessa espelunca gosta de mim! Querem a minha morte! Me odeiam! Pois eu odeio vocês também, e todos os outros. E os dois assassinatos que fiz não se comparam aos anos de tortura que impuseram contra mim!

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora