Capítulo X

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 A sala dos professores era o único cômodo da escola onde a energia funcionava normalmente. Isso porque, instalado num canto qualquer, um gerador funcionava a todo êxito. Era por ali, de fato, que Anna observou a tudo e a todos, por meio de um único computador que tinha acesso à filmagem de todas as câmeras e os áudios de todas as escutas. Estava grata por Rodrigo, em sua superficial passagem pelo local, não ter percebido nem a existência de energia no quarto nem a presença dela mesma, que se escondeu parcamente por detrás de uma planta.

Naquele momento, ela observava a filmagem do porão ali mesmo, ao lado de Loch.

— Merda — proclamou, indignada. — Não era isso que eu esperava que fosse acontecer. Você trancou a porta?

Não — Engoliu saliva, determinado. Era a primeira vez que a enfrentava desta forma.

— O quê? — Viu-se pega de surpresa em um sobressalto. Com seus olhos arregalados, tirou os óculos e olhou para trás, observando Victor. — Como você não se lembrou de fazer isso?

— Desculpa... Eu me esqueci — Pôs a cabeça no chão, fingindo uma submissão odiosa. Por suas veias, somente a ira se manifestava. Não conseguia sentir nada por essa mulher além de pura raiva.

— Aqui — Tirou, de seu bolso, uma faca ensanguentada. — Foi com essa faca que o Felipe se cortou. Quero que você o mate com ela. E aí, a gente convence a Serena a se matar. Vai ser lindo. Logo você, a pessoa que ele sempre projetou, que ele sempre confiou, machucando o corpo dele com a faca que ele usou pra se machucar.

Com naturalidade, ela pôs o utensílio em sua mão. No entanto, ele não pôde retribuir essa indiferença — suas mãos, empalidecidas, tremulavam de forma incontrolável. Não importava o tempo que passasse com aquela mulher, jamais iria ser capaz de entender seu cinismo. Permaneceu estático, congelado em perplexidade.

— Victor, o que foi? — Esperou de forma calma por uma resposta, em vão. — Você não tá com compaixão por aqueles idiotas, certo?

— N-Não, eu só...

— Tudo isso que eles falaram é ridículo. E eles merecem morrer. Todos! Agora, vai lá, antes que eles nos achem!

Uma breve pausa. Victor não disse nada.

— O que o Felipe disse... faz muito sentido. Eu passei tanto tempo me sentindo um fraco, achando que eu era inútil e que eu nunca ia conseguir me encaixar com os outros, achando que eu era um estorvo pra todo mundo e por isso ninguém gostava de mim, achando que eu nasci assim e vou morrer assim, isolado e sozinho. Mas agora, eu finalmente entendo que isso nunca foi culpa minha. Isso é tudo culpa sua, mãe.

— Culpa minha? — Gargalhou avidamente, um tique de ansiedade reverberando em seus olhos arregalados. — Você é um fracote e agora a culpa é minha? Acorda, seu pivete! Ninguém precisa de ninguém, ninguém se importa com ninguém, ninguém influencia ninguém! É por isso que cada um daqueles sete desgraçados se mataram, de forma individualista, egoísta e fria como sempre! É essa a minha grande tese, Victor, é por isso que eu fui rejeitada e humilhada pela Academia! Eu só quis provar que, de uma forma ou de outra, o altruísmo não existe. E, olha, eu consegui.

— Conseguiu mesmo? Eles fugiram. Tão procurando por nós. Já devem ter ouvido sua risada psicopata.

— E? Que eles venham! Eu já não me importo com mais nada, Victor! Eu passei anos sendo rejeitada por tudo e todos, e agora eles vão ter que me enfrentar, de uma forma ou de outra! Fui traída pelas pessoas que eu achei que mais podia confiar, e agora, vou mostrar que todo amor é falso. Ninguém, eu repito, ninguém merece compaixão.

A Psicologia do AssassinatoOnde histórias criam vida. Descubra agora